O (des) governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) certamente está se sentindo pressionado pela barafunda financeira em que ele e o seu companheiro Sérgio Cabral afundaram o estado do Rio de Janeiro. Essa pressão acabou levando a que ele tentasse explicar os profundos cortes que aplicou no orçamento das três universidades estaduais para o ano de 2016. Essa omissão em relação às causas da crise, a qual precede o que está acontecendo em plano nacional, faz sentido para Pezão, já que se reconhecesse sua participação direta na geração do que ele mesmo reconhece ser o maior déficit público do Brasil, não lhe restaria senão a renúncia imediata. E isso certamente não é o que ele pretende fazer. Mas não custa lembrar que esse déficit não foi causado pelos salários dos servidores ou, tampouco, pelo investimento nas universidades estaduais.
Agora, Pezão sabe (ou pelo menos deveria saber) que a oferta de cursos de graduação é apenas um dos muitos serviços prestados pelas universidades ao povo fluminense. Assim, ao garantir que não haverá cortes na oferta de vagas de graduação, Pezão indiretamente aponta a quê pretende reduzir a Uenf, a Uerj e a Uezo: meras fornecedoras de cursos de graduação. E quanto ao ensino pós-graduação, atividades de pesquisa e extensão? Essas atividades pelo jeito irão para o ralo, junto com os cortes do orçamento.
Como um observador atento do cotidiano da Uenf, sei que boa parte das contas de serviços essenciais como água, luz e telefone foram transformados em verdadeiros papagaios ao longo de 2015. De quebra, também estiveram nessa condição os pagamentos devidos às diversas empresas que prestam serviços terceirizados na universidade, incluindo segurança e limpeza. Assim, ao anunciar que vai cortar ainda mais no custeio sem mexer na qualidade dos cursos, Pezão sabe (ou deveria saber) que isto é impossível. É que qualidade não se garante apenas por garantir a oferta de algo, especialmente quando esse “algo” é o ensino superior.
Aliás, quero lembrar que como morador da cidade de Campos dos Goytacazes, leio diariamente incontáveis materiais escritos por apoiadores e correligionários do (des) governador Pezão criticando duramente (e muitas vezes com correção) os descaminhos do governo municipal comandado pela prefeita Rosinha Garotinho. Entretanto, quando a coisa se trata da situação estadual, o que se vê é um misto de silêncio e bajulação explícita. Esse tipo de postura é inaceitável, visto que a asfixia financeira dos serviços públicos estaduais, e a Uenf é o principal órgão público na região Norte Fluminense, faz tempo não é responsabilidade do casal Garotinho. Em outras palavras, a crítica não pode ser feita apenas contra os adversários políticos. Caso contrário, cedo ou tarde essa contradição vai ficar evidente, e as cobranças da sociedade serão inclementes.
Finalmente, que ninguém se surpreenda se em 2016 tivermos uma séria crise no sistema universitário do Rio de Janeiro. É que apesar de todo esse discurso embaçado de Pezão, pior do que cortar orçamentos, o que o seu (des) governo vem fazendo de forma eficiente é dificultar a execução financeira do valor alocado pela Alerj. Em outras palavras, o que parece ruim ainda vai piorar muito.
Pezão: Corte de recursos para universidades foi necessário
Segundo governador, estado teve queda de receita e precisa adequar o Orçamento 2016
POR SIMONE CANDIDA
Vazamento de água em corredor da Uerj – Marcelo Carnaval / Agência O Globo
RIO — O governador do Rio Luiz Fernando Pezão disse, na manhã desta segunda-feira, que o corte radical nos recursos destinados às instituições de ensino superior do estado no Orçamento de 2016 faz parte de uma necessidade de adequação ao momento de crise. Como O GLOBO noticiou, uma proposta orçamentária apresentada pelo governo, que se encontra em discussão na Assembleia Legislativa (Alerj), prevê uma redução drástica nos recursos destinados a essas universidades, entre elas a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). No custeio, que envolve as despesas para a manutenção básica — incluindo água, luz, segurança e limpeza —, a queda prevista é de 27,7%. Em relação a investimentos, como aquisição de equipamentos para laboratórios e reforma ou construção de salas de aula, haverá uma diminuição de 46% em comparação a 2015.
— Não estamos reduzindo só as despesas de universidades, estamos adequando a receita que temos este ano. Tivemos um queda de receita e precisamos adequar o Orçamento. Se não, eu mando o Orçamento com déficit — afirmou Pezão, que, pela manhã lançou, em cerimônia no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, do Mobiliza Rio, ação para incentivar a procura e concessão de crédito para empresas localizadas no Rio.
Segundo o governador, a crise não é um problema que só afeta o Rio de Janeiro, mas o estado é um dos mais atingidos com as perdas de receita.
— Estamos nos adequando a esse momento de dificuldades nestes dois anos. Tentando ver se a Petrobras se recupera e a cadeia produtiva volta. Não é um problema só do estado do Rio. E eu nunca escondi as dificuldades. O Estado do Rio de Janeiro é o que tem o maior déficit do Brasil. São R$ 13,5 bilhões que a gente teve que cobrir e está tendo que cobrir este ano. Não é trivial. Todo mundo vai ter que se adequar à crise até voltar o crescimento econômico — declarou.
De acordo com o governador, como o estado tem um economia atrelada ao mercado de petróleo, as consequências foram devastadoras nos últimos dois anos.
— Em diversos setores a gente teve o Orçamento adequado à nossa queda de receita. Quando mandamos o Orçamento de 2015, o preço do barril do petróleo era U$ 115. Estou recebendo o repasse a U$ 46, U$ 47. E este ano, a perspectiva para 2016, é que continuem os U$ 47. Então, estou mandando o Orçamento real — explicou Pezão.
Pezão disse que, por enquanto, não será necessária a diminuição de vagas nas instituições de ensino. E que o corte não afetará, ainda, a qualidade dos cursos.
— Estamos diminuindo cada vez mais o custeio. Cada órgão faz seus cortes. Nós já realizamos muitos cortes. Em 2015, todas as secretarias já se adequaram a esta queda de receita: cortamos carro, telefone, luz. Todos os lugares onde o tivermos que cortar mais no custeio, a gente vai cortar, mas preservando os cursos. Não vamos diminuir— disse.
FONTE: http://oglobo.globo.com/rio/pezao-corte-de-recursos-para-universidades-foi-necessario-17880127#ixzz3piWJzH2p

