E agora está reconhecido que a ressurreição do Rio Doce não se dará em cinco meses. Alguém se surpreende?

rio doce

A matéria abaixo publicada pelo jornal Estado de Minas traz uma fotografia mais sóbria das expectativas de recuperação da bacia do Rio Doce após a invasão do TsuLama da Mineradora Samarco (Vale +BHP Billiton). Interessante notar que um dos especialistas ouvidos foi o professor Paulo César Rosman da COPPETEC/UFRJ que causou um certo frisson ao anunciar em uma entrevista à BBC a ressurreição do Rio Doce para um período de cinco meses (Aqui!). Na matéria mostrada abaixo, o Prof. Rosman é bem mais conservador em seus prognósticos, o que, convenhamos, já deveria ter sido na primeira entrevista.

O ponto que a matéria levanta e eu concordo integralmente é que os desafios colocados pelo TsuLama da Mineradora Samarco só serão solucionáveis em curto, médio e longo prazos. E mais importante, que dar resposta à crise social causada pelo TsuLama será apenas o primeiro passo de uma longa caminhada.

Mas atenção, essa caminhada só será possível com a permanente observação de membros socialmente comprometidos da comunidade científica e da sociedade civil, especialmente dos municípios atingidos pelo TsuLama. É que se depender do Estado brasileiro e das mineradoras (Samarco, Vale e BHP Billiton), toda essa lama será imediatamente empurrada para debaixo do tapete.

Reparação dos estragos em Mariana e no Rio Doce pode durar uma década

Balanço da catástrofe aponta desafios de curto, médio e longo prazos e indica que curar a ferida humanitária é só a primeira meta de uma longa missão

Tulio Santos/EM/D.A Press

Uma longa missão de recuperação, de alto custo, com ações que vão exigir sucessivos anos de comprometimento, público e privado. Essa foi uma das poucas certezas que ficaram depois das 16h20 de 5 de novembro, quando a Barragem do Fundão estourou, em Mariana, na Região Central de Minas. De lá até a foz do Rio Doce, no Espírito Santo, a enxurrada de 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério fez vítimas, causou prejuízos em escala ainda não estimada e deixou um imenso rastro de devastação. Passado um mês da tragédia, autoridades trabalham para cobrar da Samarco, proprietária da barragem, e de suas controladoras, as gigantes Vale e a anglo-australiana BHP, reparação dos estragos. Com a catástrofe ambiental ainda se expandindo, encontrar uma solução humanitária para as mais de 700 pessoas atingidas – muitas delas ainda vivendo em hotéis – é a medida mais urgente. A médio prazo, o desafio é evitar ainda mais devastação no Rio Doce. Mas chegar perto da recuperação de toda a bacia hidrográfica é tarefa bilionária, para pelo menos uma década.

Especialistas explicam ainda que a recuperação vai exigir diferentes medidas, a depender da localização do estrago. “Obviamente, nas áreas de montante (mais próximas da barragem), mais impactadas, onde os rejeitos passaram com volume e velocidade maiores, a recuperação será mais lenta. Até porque os resíduos extrapolaram a calha dos rios Gualaxo do Norte e do Carmo, e ainda há muito sedimento nas margens”, explica o professor Paulo Cesar Rosman, do Departamento de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que tem estudos sobre a Bacia do Rio Doce. Nos trechos seguintes, no médio Rio Doce, onde há três usinas hidrelétricas que contiveram parte dos sedimentos, o prazo para restauração deve ser um pouco menor. Na foz, é possível que, passado o período chuvoso, em abril, a água retome os índices normais de turbidez e oxigenação, com a sedimentação da lama e de metais pesados, como chumbo, ferro, alumínio e manganês, afirma o professor. Esses elementos ainda estão acima dos limites toleráveis, segundo relatório do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), divulgado no último dia 30.

O início do desafio ambiental, segundo a presidente do Ibama, Marilene Ramos, é conter o resíduo de rejeitos que ficou na área da barragem estourada, além de reduzir o volume que sobrecarrega o reservatório de Santarém. A estrutura, também da Samarco, foi afetada pela lama no dia do rompimento. “O objetivo é evitar novos carreamentos, principalmente porque estamos em pleno período de chuva”, afirma. Segundo ela, a empresa se comprometeu a construir diques drenantes, em 90 dias, para essa finalidade. Será preciso ainda remover e destinar adequadamente o rejeito que extravasou a calha dos cursos d’água em cerca de 70 quilômetros de áreas de preservação permanente, para regeneração da flora e melhoria da turbidez da água. Além disso, “é preciso manter o trabalho de proteção da ictiofauna e também das tartarugas marinhas e mamíferos aquáticos na área costeira”, lista Marilene.

O custo de R$ 20 bilhões para a recuperação da Bacia do Rio Doce foi estimado em ação civil pública ajuizada pela Advocacia-Geral da União (AGU), em conjunto com os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Segundo a presidente do Ibama, a restauração dos processos ecológicos, como crescimento de vegetação até a idade adulta e repovoamento da fauna, pode exigir 10 anos, “embora não seja possível prever quando o meio ambiente vai resgatar sua condição de normalidade.”

FONTE: http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/12/06/interna_gerais,714685/reparacao-dos-estragos-em-mariana-e-no-rio-doce-pode-durar-uma-decada.shtml

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