Já perdi a conta de quantas vezes assisti nos últimos anos à imagens nas redes de TV mostrando incêndios gigantescos que devoravam barracos em alguma favela na cidade de São Paulo. A suspeita de muitos é que o fogo se tornou a principal ferramenta de higienização social na capital paulista, pois os incêndios rotineiramente começam de forma misteriosa, e terminando destruindo comunidades inteiras, deixando os que já têm pouco com menos ainda.
Mas o problema é que apesar de até existir uma bibliografia acerca do fenômeno dos incêndios em favelas situadas nas regiões mais centrais de São Paulo, não há efetivamente um processo de investigação mais profundo sobre como o fogo começa, nem como terminam as famílias que perdem tudo quando os mesmos ocorrem.
Entretanto, há quem suspeite de quem não há nada de espontâneo na combustão que consome favelas que não raramente são substituídas por empreendimentos privados destinados ao consumo das classes mais abastadas. Afinal, nos últimos 20 anos, mais de 1,2 mil incêndios foram registrados nas favelas da cidade de São Paulo, sendo que metade deles ocorreu entre 2008 e 2012 [1].
Por isso tudo é que o incêndio que consumiu o edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, no Centro de São Paulo. me deixou com a pulga atrás da orelha. É que incêndio sucedido por desabamento completo é algo que até pode acontecer, mas que nem por isso deixa de ser estranho.
Agora, a pulga fica do tamanho de um elefante quando se lê que um anúncio de um empreendimento imobiliário para “pessoas de bem” já traz a área onde o mesmo se localiza sem a incômoda presença do prédio que desabou, matando sabe-se lá quantas pessoas pobres (ver imagens abaixo) [2].
Área destacada na imagem devia conter o prédio ocupado que desabou no dia 1º devido ao incêndio de grandes proporções
Podem me chamar de cínico, mas não vou me surpreender nem um pouco se no futuro se descobrir que o anúncio que eliminava o edifício Wilton Paes de Almeida não tinha nada de premonição, e que repentinamente se descubra que fogo foi a ferramenta preferida na aceleração da gentrificação da região central de São Paulo. Afinal, aonde há fumaça, há fogo.