Ataques de Bolsonaro e Weintraub aos livros didáticos é uma declaração de guerra contra o futuro dos pobres

Bolsonaro-e-Weintraub-vs-Livro-Portugues-e-LinguagensO ataque de Jair Bolsonaro e Abraham Weintraub ao conteúdo os livros didáticos é uma declaração de guerra contra o desenvolvimento intelectual dos pobres

Quem tem filho em idade escolar sabe que uma das principais dificuldades atuais é encontrar livros que ultrapassem o limiar curto imposto pelo “apostilamento” de conteúdos didáticos que deveriam alicerçar o desenvolvimento intelectual de nossas crianças, de forma a torná-las mais aptas a enfrentar os grandes desafios impostos da vida contemporânea. 

A adoção de apostilas que pasteurizam conteúdos complexos e os higienizam de todo pensamento crítico é sem dúvida uma marca da posição subalterna que o Brasil ocupa na atual divisão internacional do trabalho. Afinal, para que aqueles países que estão presos em uma condição de economia dependente, a formação intelectual de crianças e jovens não é vista como algo desejável pelas elites nacionais e globais. Afinal, quem pensa criticamente não irá se contentar com a precarização aguda dos direitos trabalhistas e sociais e, tampouco, se contentaria em viver com uma existência desprovida de acesso ao que de melhor foi gerado pela Revolução Industrial.

Desta forma, as declarações do presidente Jair Bolsonaro de que os livros didáticos oficiais irão ter menos palavras para simplificar os seus conteúdos equivale a uma declaração de guerra ao futuro da maioria do nosso povo que hoje já está alijado de uma formação intelectual que permita um engajamento crítico no processo pedagógico e, em última instância, na capacidade de inclusão intelectual.

Essa declaração de guerra, que foi ratificada pelo ministro da Educação Abraham Weintraub que compartilha da mesma visão precarizante de educação, não pode ser subestimada de forma alguma. É que mesmo que não isso passe de mais um blefe do presidente da república, em seu esforço contínuo de afastar assuntos espinhosos da atenção da maioria da população, o ataque ao livro didático faz parte da cruza do atual governo contra os pobres. É que essa “simplificação” de conteúdos certamente não se dará nas escolas que educam os filhos dos segmentos mais ricos da nossa população.  Para esses, como já foi apontado em artigo pelo sociólogo José Ruy Lozano, será reservado os ensinamentos de Paulo Freire que pautava sua forma de ensinar pela criatividade e pela autonomia intelectual.

Assim, que ninguém se engane sobre a chance das declarações de Jair Bolsonaro contra o conteúdo dos livros didáticos entregues para os mais pobres serem apenas mais um blefe ou distração ideológica para agradar seus apoiadores.  A verdade é que a censura a livros didáticos que utilizam conteúdos já começou e deverá ser ampliada se não houver uma reação rápida e forte. De qualquer modo, trata-se de mais uma estratégia de expandir o processo de subordinação das classes mais pobres e do caráter dependente e periférico da sociedade brasileira, na medida em que esvazia a possibilidade de construção do conhecimento crítico por meio do acesso à escola pública.

Portanto,  o governo Bolsonaro sinaliza que irá aprofundar o processo previamente em curso que visa consolidar a abissal desigualdade educacional existente no Brasil: para os pobres, um material didático que impossibilita qualquer discussão crítica e contribui para a formação de alunos incapazes de interpretar ou de questionar a realidade. Para os demais, que podem pagar pela educação privada, a possibilidade de ter acesso a materiais didáticos que possam contribuir para a desejada e necessária ascensão aos níveis superiores do ensino, ou de ocuparem postos dirigentes no mercado de trabalho.

Desta forma, a obrigação de todos os que se preocupam com o futuro do Brasil é defender que todas as nossas crianças e jovens possam ser educados de forma a alcançar o ponto mais alto de sua capacidade intelectual.  Em outras palavras, defender a publicação de livros didáticos que ofereçam conteúdos que possam estimular a capacidade intelectual será uma das muitas tarefas dos que querem um futuro melhor para o Brasil.

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