O pífio fim da Lava Jato curitibana e suas lições

Lá pelos idos de 2015 um jornalista alemão que visitava a região do Porto do Açu me solicitou um encontro para que eu pudesse lhe passar as minhas impressões sobre o que estava ocorrendo com os agricultores do V Distrito de São João da Barra. Como vivíamos naquele momento o que viria a ser o auge da “Operação Lava Jato”,  o jornalista me perguntou se eu acreditava que o Brasil estava passando finalmente por uma espécie de imunização contra o processo sistêmico de corrupção.  Para aparente surpresa do meu interlocutor, respondi com um simples não. E adicionei que eu estava surpreso que Deltan Dallagnol e Sérgio Moro não tivessem sido ainda liminarmente defenestrados por aqueles que efetivamente detém o poder no Brasil.

Passados menos de seis anos daquela conversa,  com o Brasil engolfado por evidentes casos de corrupção e centenas de milhares de mortos pela COVID-19, chega a informação que o Ministério Público Federal resolveu acabar com o grupo especial da chamada “Operação Lava Jato” em Curitiba, dando fim aos espetáculos matinais que geralmente traziam membros do Partido dos Trabalhadores, tendo o ex-presidente Lula sido transformado no principal troféu dos menudos judiciais paranaenses.

fim lava jato

A verdade é que toda o circo que se criou em torno da Lava Jato já tinha sido atingido parcialmente desmontado com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, pois esse era aparentemente o real objetivo do que se realizou nos gabinetes da Lava Jato curitibano, sendo o combate à corrupção apenas um espantalho útil. Após o objetivo ser alcançado, o fato é que a Lava Jato deixou de interessar a quem a promoveu de forma tão ardente. 

Tanto isto é verdade que não se vê grandes lamentações por parte daqueles lustrosos supostos patriotas que lotavam avenidas com a camisa da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para jurar amor a Sérgio Moro e seus pupilos da Lava Jato. A coisa está sendo encarada com grande naturalidade e, para mim, sem nenhuma surpresa. 

Que o fim insosso da Lava Jato sirva de lição principalmente para aqueles segmentos da esquerda parlamentar que se puseram a defender que a operação comandada desde Curitiba traria qualquer avanço para as lutas dos trabalhadores.  O fato inescapável é que quem na esquerda se pôs a defender a Lava Jato, agora no mínimo carrega na testa o selo de “inocente útil’.

Enquanto isso, os grandes beneficiários das ações da Lava Jato, incluindo banqueiros e latifundiários, vão apoiando o desmanche do pouco que existe no Brasil em termos de mecanismos de proteção social para os mais pobres. Que isso sirva de lição para os inocentes úteis que acreditam que há avanço possível sem organização da classe trabalhadora, e que a vida se resume em gerar lacrações e ter atitudes de boa etiqueta no processo da luta de classes.

2 comentários sobre “O pífio fim da Lava Jato curitibana e suas lições

  1. Sinto muito, caro amigo, discordo veementemente. Nem inocente, nem útil. Bando de FDP. Quem acreditou nesta Cruzada curitibana sequer pode ser chamado de “esquerda”. Aliás, dedico mais compreensão aos da direita, que por certo tinham objetivo certo, do que pseudo-esquerdalóides, estes um bando de merdas, cujo destino deveria ser algum poço de larva.

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