Sobrevivendo como um jovem pesquisador no Brasil

“O investimento na formação de cientistas é fundamental para gerar ciência de ponta para o desenvolvimento e o bem-estar da sociedade”, escrevem pesquisadores brasileiros* em artigo para a Science

cientistas-brasileiros

Nos últimos anos, a ciência brasileira tem sido alvo de repetidos cortes orçamentários (1-5). Em outubro de 2021 mais uma redução foi anunciada: um corte de 87% no financiamento voltado para propostas cientificas (4). Esses cortes ameaçam projetos científicos e tecnológicos que estão em andamento, como também projetos futuros, o que inclui o financiamento de bolsas de estudo para jovens pesquisadores que estão no início da carreira científica. Apesar do precário orçamento voltado para a pesquisa quando comparado a países desenvolvidos, em 2020, o Brasil ocupou o 11o lugar entre as nações que produziram conhecimento científico voltados para enfrentar a pandemia de COVID-19 (6). A contribuição significativa do Brasil é impulsionada principalmente por pesquisadores em início de carreira (5), e sem um investimento apropriado, esses jovens cientistas não terão outra opção senão abandonar a carreira científica ou deixar o país (5).

No Brasil, a maior parte dos programas de pós-graduação exigem dedicação exclusiva – a bolsa de estudos não pode ser acumulada com outras fontes de renda. Jovens pesquisadores em programas de mestrado e doutorado ganham, respectivamente, uma bolsa de estudos de R$ 1.500 e R$2.200 mensais (7), e esses valores não são ajustados desde 2013 (7,8). Enquanto isso, a alta dos preços de produtos e serviços diminuiu o poder de compra das bolsas em mais de 60% (9). A maioria dos estudantes depende exclusivamente dessa renda mensal para manter sua alimentação, saúde, moradia, vestimenta e transporte. Em muitos casos, ainda dão suporte no sustento da família.

O investimento na formação de cientistas é fundamental para gerar ciência de ponta para o desenvolvimento e o bem-estar da sociedade (10). Portanto, como jovens pesquisadores brasileiros, nós exigimos suporte financeiro adequado dos tomadores de decisão do nosso país. Se o Brasil não reavaliar imediatamente seu orçamento para ciência e tecnologia, o país corre o risco de perder ou alienar toda uma geração de cientistas brasileiros.

Autores

  • Celso H. L. Silva Junior, pesquisador do Tropical Ecosystems and Environmental Sciences Laboratory, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Universidade Estadual do Maranhão e do Remote Sensing Applied to Tropical Environments Group
  • Yhasmin M. Moura, pesquisadora do Remote Sensing Applied to Tropical Environments Group, do Institute of Geography and Geoecology do Karlsruhe Institute of Technology (Alemanha) e do Centre for Landscape and Climate Research da University of Leicester (Reino Unido)
  • Ana C. M. Pessôa, pesquisadora do Tropical Ecosystems and Environmental Sciences Laboratory e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
  • Diego P.Trevisan, pesquisador do Remote Sensing Applied to Tropical Environments Group, do Department of Geography da University of Manchester (Reino Unido) e do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Carlos
  • Flávia S. Mendes, pesquisadora do Remote Sensing Applied to Tropical Environments Group
  • João B. C. Reis, pesquisador do Tropical Ecosystems and Environmental Sciences Laboratory e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais
  • Michelle C. A. Picoli, pesquisadora do Remote Sensing Applied to Tropical Environments Group, Earth and Life Institute e do Georges Lemaître Centre for Earth and Climate Research da Université Catholique de Louvain (Bélgica)
  • Natalia C. Wiederkehr, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e do Remote Sensing Applied to Tropical Environments Group
  • Nathália S. Carvalho, pesquisadora do Tropical Ecosystems and Environmental Sciences Laboratory
  • Ricardo Dalagnol, pesquisador do Tropical Ecosystems and Environmental Sciences Laboratory, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e do Department of Geography da University of Manchester (Reino Unido)
  • Tahisa N. Kuck, pesquisador do Remote Sensing Applied to Tropical Environments Group e do Instituto de Estudos Avançados de São José dos Campos
  • Thais M. Rosan, pesquisadora do College of Life and Environmental Sciences da University of Exeter (Reino Unido)
  • Thiago S. F. Silva, pesquisador do Remote Sensing Applied to Tropical Environments Group e do Biological and Environmental Sciences da University of Stirling (Reino Unido)
  • Veraldo Liesenberg, pesquisador do Departamento de Gestão Ambiental Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
  • Polyanna C. Bispo, pesquisadora do Remote Sensing Applied to Tropical Environments Group e do Department of Geography da University of Manchester (Reino Unido)

compass

Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pela revista “Science” [Aqui!].

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s