Em julho de 2021, partes da Alemanha (primeira economia da Europa) foram arrasadas por eventos meteorológicos extremos que causaram inundações catastróficas que destruíram áreas urbanas e agrícolas, causando prejuízos bilionários e dezenas de mortes. Agora, no estertores de um ano já difícil para os brasileiros, o sul do estado da Bahia está vivenciando problemas altamente parecidos com o que a Alemanha vivenciou há cinco meses, mas com um número de mortos e desabrigados bem maior, ainda que o fenômeno esteja circunscrito em uma região relativamente menor (até agora são 20 mortos e 470 mil desalojados).
Aqui temos o encontro de semelhanças e diferenças, pois as chuvas extremas e concentradas no tempo são algo que já foi associado aos novos padrões climáticos causados pelo aquecimento global do planeta. Mas a diferença nos níveis de organização e agilidade das respostas tem a ver com o desmantelamento e o desfinanciamento da máquina pública, o que vem ocorrendo em nome da sustentação do pagamento de uma dívida pública bilionária, e, obviamente, nunca devidamente auditada.
Para piorar o cenário temos um presidente da república que decidiu tirar férias custeadas pelo tesouro federal, e que se omite (mais uma vez) de agir como o líder de estado que eventos extremos requerem. O mais lamentável é que em vez de se preocupar em liderar a resposta federal á catástrofe em curso na Bahia, o presidente Jair Bolsonaro continua se concentrando em espalhar fake news e se colocar como uma barreira para o processo de vacinação contra a COVID-19.
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro goza férias pescando em Santa Catarina, a população do sul da Bahia tente escapar das inundações causadas por chuvas extremas
O fato inescapável é que as mudanças climáticas estão aqui para ficar e eventos como os vistos na Alemanha e agora na Bahia se tornarão o famoso “novo normal”, o que implica em que nos preparemos para a repetição desse tipo de catástrofe causada por eventos meteorológicos extremos. É que se não houver a devida preparação em diferentes escalas espaciais, o que teremos será uma espécie de “ripple effect” (ou efeito cascata) que ampliará a magnitude dos danos, já que os sistemas naturais são feitos de interligações que tendem a exponencializar os impactos de eventos extremos.
Desta forma, se não houver uma mudança radical nas formas de gerir a cidades e os sistemas naturais onde elas estão inseridas (ou sobrepostas), o mais provável é que tenhamos mais repetições de inundações que causarão mais destruição e morte. E aproveito para apontar que não se trata de um chute aleatório, mas uma informação baseada em incontáveis estudos realizados sobre o impacto das mudanças climáticas sobre as cidades (aliás, sugiro a leitura da dissertação defendida pelo meu orientando André Vasconcellos que fez um estudo sobre o grau de preparação da cidade de Campos dos Goytacazes para a época de mudanças que estamos vivendo).