O escândalo das Lojas Americanas oferece oportunidades e armadilhas para o governo Lula

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O escândalo das Lojas Americanas acerta em cheio o currículo de Jorge Paulo Lemann e poderá ter impactos na sua vasta rede de influências

O desenrolar do escândalo com ares de furacão envolvendo as fraudes e cometidas na gestão financeira das Lojas Americanas está deixando milhões de de pequenos e médios investidores brasileiros com insônia. É que o derretimento das ações das Americanas atinge em cheio o funcionamento de fundos financeiros, incluindo aqueles de suposto baixo risco.  Mas como em toda crise há oportunidades, a aflição de quem foi pego na gestão duvidosa que o trio de bilionários formado por Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles parece ter comandado em uma de suas principais empresas, há para o governo Lula a chance de se desvencilhar da influência capilarizada que a Fundação Lemann tem na vida política, econômica e educacional brasileira.

A influência da Fundação Lemann nas reformas privatizantes da educação brasileira

todos pela educação

O agora ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participando de evento organizado pelo “Todos pela Educação”

Como já ficou claro em postagens recentes neste mesmo blog, a Fundação Lemann (na prática um braço avançado dos interesses corporativos de Jorge Paulo Lemann e seus sócios preferenciais) está por todo lado, inclusive na criação da famigerada Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que piorou o que já está muito ruim na educação brasileira. Para quem não acompanha as ações da Fundação Lemann, por meio do grupo conhecido como “Movimento Todos pela Educação, determinaram a aprovação do chamado Novo Ensino Médio que tem como uma das suas principais consequência a imposição de uma formação educacional que precariza o educação dos brasileiros pobres sob a falácia de “deixar os estudantes escolherem seus caminhos formativos”. 

Aliás, a influência da Fundação Lemann na área da educação ficou evidente no chamado grupo de transição da Educação do governo Lula, e ainda na própria formação da nova direção da Ministério da Educação e Cultura (MEC). Essa presença de dirigentes ligados à Fundação Lemann está, inclusive, criando tensões fortes dentro do MEC, as quais deverão ter ainda desdobramentos nos próximos meses.

A Fundação Lemann e os investimentos para gerar uma geração de políticos comprometidos com as reformas neoliberais

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A “bancada Lemann” como ponta de lança das reformas neoliberais que atacam os direitos dos trabalhadores

Entretanto, a influência da Fundação Lemann também vem atuando de forma ativa no financiamento de movimentos suprapartidários supostamente dedicados à “renovação da política”, tais como o RenovaBR, o Livres e o Movimento Acredito. A partir da injeção de muito dinheiro, a Fundação Lemann tem apostado na formação de seus próprios líderes.  Obviamente, uma vez eleitos ou empossados em cargos-chave, as jovens lideranças associadas à Lemann se envolvem na defesa incondicional da agenda neoliberal e de medidas benéficas às grandes corporações, independentemente da orientação de suas legendas. 

Entre os exemplos mais notáveis da “bancada Lemann” estão  Tabata Amaral, Felipe Rigoni e Tiago Mitraud, Renan Ferreirinha e Daniel José. Todos estudaram em universidades como Harvard, Oxford e Yale, com subvenção da Fundação Lemann. Além disso, todos votaram em favor dos interesses do mercado nos projetos votados entre 2018 e 2022, e alguns se reelegeram para a nova legislatura.  

Um caso notável é o de Tiago Mitraud (Novo/MG) que não concorreu a nenhum cargo eletivo em 2022, mas deixou um projeto de lei , o PL 3.081/22, que propõe acabar com a regulamentação de dezenas de profissões, podendo contribuir para o avanço da precarização do trabalho em escala inédita, comprometendo ainda a fiscalização técnica dos profissionais, deixando a população à mercê de profissionais malformados ou até mesmo sem formação técnica. 

As oportunidades e armadilhas para o governo Lula com a crise das Lojas Americanas e o consequente enfraquecimento da influência da Fundação Lemann

Em face de um ator todo poderoso como é Jorge Paulo Lemann, que até recentemente gozava da fama agora questionável de ser um empresário exitoso e sem manchas em seu currículo, o governo Lula agora tem a oportunidade de se desvencilhar de seus representantes e das pressões que os mesmos realizam em diversas áreas do funcionamento e gestão do Estado brasileiro. Um primeiro gesto para realizar esse desvencilhamento será negar qualquer aporte de bancos estatais nas Lojas Americanas. Apesar de ser um passo óbvio para quem diz defender a saúde fiscal, provavelmente as pressões em sentido contrário estão ocorrendo no exato momento em que escrevo este texto. Por isso mesmo, negar o socorro a quem, aparentemente, fraudou o fisco seria um passo claro no sentido de diminuir o poder de Lemann.

Por outro lado, na área da Educação o enfraquecimento da Fundação Lemann gera a oportunidade de se retirar seus tentáculos da educação pública, impedindo que se avance um processo formativo que nega aos jovens pobres as mesmas oportunidades que seguem sendo oferecidas aos que podem pagar para frequentar escolas de elite. 

Obviamente a crise das Lojas Americanas também coloca em xeque as atividades da chamada “bancada Lemann” que terá de se defrontar com as grossas evidências de que seu patrono e suas ideias de mercado desregulado não são tão inquestionáveis como eram até a semana passada.  Enfraquecer a bancada Lemann e seu discurso de ataque aos direitos dos trabalhadores será tão benéfico quanto diminuir a influência dos parlamentares bolsonaristas. Até porque na hora “H”, a bancada Lemann sempre votou nas propostas ultraneoliberais do governo Bolsonaro, ainda que ostentando a face angelical de Tábata Amaral.

Já no campo das armadilhas, o governo Lula cairá em uma bem grande se não lançar mão da oportunidade que o escândalo das Lojas Americanas oferece para continuar cortejando e se relacionando com os representantes da Fundação Lemann dentro do MEC e do congresso nacional. É que neste momento de crise, não se livrar desta influência dará sobrevida política a quem não se deve dar. E a história recente do Brasil já mostrou como isso pode ser danoso para os interesses nacionais, principalmente da classe trabalhadora.

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