
No dia 01 de abril de 2023 (exatamente no dia da mentira) postei neste blog o texto intitulado “As eleições da Reitoria da Uenf sob risco de ser marcada por uma intensa campanha de fake news“ em que eu fazia um prognóstico de que o pleito em curso na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) corria o risco de ser manchada pelo uso de estratégias malignas de uso das redes sociais em prol da chapa que representaria o continuísmo da gestão Raul/Rosana.
Um dos elementos que me guiou nesse prognóstico foi o uso de um perfil denominado de “Uenfspotted” para atacar potenciais candidatos de oposição. Ao longo da campanha eleitoral, o “Uenfspotted”, apesar de manter uma posição aparentemente imparcial, o Uenfspotted serviu como base para entre outras coisas disseminar uma “fake news” que imputava à candidata a vice-reitora pela chapa de oposição à atual gestão, professora Daniela Barros, o cometimento de um ato de transfobia. Assim, ainda que na referida postagem o nome da professora não tenha sido citado, os comentários fizeram isso de forma explícita. Uma característica nos comentários é de que os comentaristas invariavelmente eram apoiadores da chapa da situação formada pelos professores Rosana Rodrigues e Fábio Olivares (a chapa 10).
Ao longo da última semana, o Uenfspotted postou várias postagens com críticas a comportamentos de membros ou apoiadores da chapa 30, ao mesmo tempo em que nada foi publicado de similar teor contra a chapa 10.
Tudo isso apenas confirmou algo que eu previ há mais de cinco meses atrás: o Uenspotted se transformou em uma espécie de correia de transmissão da propaganda dos apoiadores da chapa 10, sem que fosse dada a oportunidade da réplica aos atacados. Essa é uma tática explícita de “cyberware” que foi muito comum nas campanhas de Donald Trump nos EUA e Jair Bolsonaro no Brasil.
Mas nas últimas 24 horas, o Uenfspotted resolveu concluir sua participação na campanha eleitoral da Uenf com uma cereja em cima do bolo e lançou uma esquisitíssima enquete eleitoral, supostamente para medir as intenções de voto na terça-feira (ver imagens abaixo).
Dois detalhes básicos: 1) ao acessar a dita enquete, usei dois perfis distintos que eu gerencio no Instagram e fui diretamente dirigido apenas à opção de votar ou não na chapa 30. Isso aponta para o uso de rastreamento de IP, pois, do contrário, eu poderia ter sido dirigido à opção da chapa 10, o que não ocorreu; 2) nessa enquete como demonstrei, qualquer um pode votar quantas vezes quiser. Assim, alguém que criar múltiplos perfis no Instagram, poderá votar “n” vezes, o que distorce e desqualifica qualquer resultado que saia desta “entaque” que não obedece critérios científicos, o que é particularmente inaceitável já que a eleição se refere à eleição dentro de uma universidade pública.
O que esta enquete está fazendo na prática são duas coisas: a) tentando consolidar os votos já definidos na chapa 10 e 2) atrair votos de indecisos após a divulgação dos resultados da suposta enquete. Em ambos os casos, essa ação viola todos os preceitos de equalidade de tratamento entre as duas chapas e viola todos os regulamentos estabelecidos pela Comissão Eleitoral eleita pelo Conselho Universitário para dirigir o pleito e garantir que ele ocorra de forma democrática.
Finalmente, a minha própria cereja no presente texto será anunciar que a chapa 10 irá receber quase que a totalidade (se não a totalidade) das intenções de voto nessa enquete mequetrefe que o Uenfspotted lançou, a pedido ou decisão de sabe-se lá quem, mas com o objetivo óbvio de desfavorecer as chances eleitorais da chapa de oposição ao continuísmo incrustrado na reitoria da Uenf.
Sendo o pleito eleitoral também uma atividade educativa, e considerando que a enquete em questão foi postada em um perfil estudantil, cabe a nós, enquanto educadores e mais do que simples eleitores, esclarecer que se uma enquete de boca de urna não segue princípios metodológicos rigorosos, sua validade e utilidade são altamente questionáveis.
Abaixo, listo alguns pontos críticos que podem ser levantados contra esse tipo de pesquisa inadequada:
1. Falta de Representatividade da Amostra: Ignorar a representatividade compromete a integridade da pesquisa. Isso pode resultar em estimativas distorcidas que falham em refletir a opinião pública e podem desinformar mais do que informar.
2. Margens de Erro e Níveis de Confiança Inadequados: Um estudo mal projetado frequentemente subestima as margens de erro ou apresenta níveis de confiança imprecisos. Isso confunde os eleitores e os stakeholders, apresentando uma ilusão de precisão.
3. Viés na Formulação das Questões: Se as perguntas são tendenciosas ou ambíguas, os dados coletados serão intrinsecamente falhos. Isso não apenas deslegitima a pesquisa, mas também pode influenciar indevidamente o eleitorado.
4. Falta de Transparência e Ética: Ignorar normas éticas e legais não apenas coloca a pesquisa sob suspeita, mas também pode ter implicações legais. Isso atenta contra os princípios democráticos que uma eleição deveria defender.
5. Metodologia Estatística Duvidosa: O uso de métodos estatísticos inadequados para análise de dados pode levar a inferências imprecisas e até errôneas. Isso pode resultar em projeções enganosas que podem afetar a percepção pública e até mesmo o resultado da eleição.
6. Efeitos Psicológicos Negativos: Pesquisas de boca de urna mal projetadas podem ter o efeito adverso de influenciar os eleitores que ainda não votaram, distorcendo assim o resultado da eleição.
7. Falta de Revisão por Pares ou Scrutiny Metodológico: A ausência de um rigoroso controle de qualidade e revisão metodológica pode permitir que erros substanciais passem despercebidos, minando a confiabilidade dos resultados.
Em resumo, uma enquete de boca de urna mal projetada é mais do que apenas um exercício acadêmico falho; ela pode ter consequências sociais e políticas tangíveis. As falhas metodológicas corroem a confiabilidade e integridade do pleito eleitoral, perpetuando desinformação e potencialmente levando a decisões políticas inadequadas.
Portanto, é imperativo que tais pesquisas sejam conduzidas e interpretadas com o máximo rigor científico e ético.
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