
Após uma reunião realizada na sede do IBAMA no centro do Rio de Janeiro no último dia 29, que durou mais de 4 horas, tendo contado com a presença de dirigentes de órgãos governamentais e lideranças dos pescadores da Baía da Guanabara, a principal conclusão é que o incidente envolvendo o derramamento de tolueno que começou a ocorrer no início de abril, de fato, ainda não terminou.
Segundo lideranças presentes no evento, há ainda grandes incertezas até sobre o ponto original de onde o material estaria vazando, com dúvidas chegando ao montante de tolueno e de outros Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) que efetivamente foi derramado por uma empresa (ou empresas) também ainda indeterminada (s).

Após as explicações de técnicos do INEA e do IBAMA, bem como de pesquisadores da PUC-RJ, a única certeza parece ser que o montante que vazou é maior do que originalmente estimado e de que parte significativa continua estocada próximo do ponto original de vazamento que, lembremos , fica muito próximo do ponto de captação de água do chamado sistema Imunana-Laranjal.
Como resultado dos debates que ocorreram foram tomadas uma série de decisões. Duas delas envolvem uma nota ida à área do derrame de tolueno para a realização de um processo de inspeção que deverá contar com a presença de entidades representativas dos pescadores da região da Baía da Guanabara. Além disso, um pedido será feito para que a Polícia Federal realize um processo próprio de investigação, na medida em que até o momento as apurações feitas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro foram inconclusivas.

A Petrobras estaria agindo para manter o incidente em modo “sigiloso”
Uma impressão que ficou marcada para as lideranças dos pescadores, a partir de depoimentos feitos na audiência, é de que a Petrobras estaria agindo junto à imprensa, a Assembleia Legislativa, e mesmo dentro de universidades para manter o incidente ocorrido, muito provavelmente no interior do Comperj, sob uma capa de extremo sigilo.
A questão crucial para explicar esse comportamento seria o fato de que o ponto de vazamento estaria localizado dentro do Comperj, o que aumentaria as responsabilidades civis e econômicas da Petrobras, pois os danos ao meio ambiente e à população de diversos municípios que está sendo afetada pelo derramamento de tolueno e outros HPAs já estariam evidentes.
Um aspecto que preocupou muito as lideranças dos pescadores foi de que não apenas o tolueno, mas os peixes mortos que estão aparecendo em grandes quantidades na região próximo do vazamento estão sendo coletados e removidos para local ignorado, o que causa uma forte preocupação sobre o ponto de descarte desses materiais.
A água coletada no sistema Laranjal continua contaminada por tolueno
Uma informação que foi transmitida na reunião é de que há forte possibilidade de que a água sendo coletada no sistema Laranjal continua contaminada por tolueno, dadas todas as evidências que apontam para a continuidade do processo de vazamento que começou no início de abri. Para acalmar as lideranças dos pescadores foi dada a informação de que os níveis de tolueno estariam dentro dos limites máximo tolerados pela legislação.
O problema aqui se refere ao fato de que até o momento as análises realizadas parecem não estar sendo feitas nno ponto original de vazamento, e, mesmo assim, o tolueno e outros HPAs continuam sendo encontradas nas amostras de água que estão sendo coletadas.
Um possível agravante é o fato da contaminação também ter alcançado o lençol freático, o que implicaria não contaminação de poços cavados pela população que não possui acesso à rede de distribuição ou que procura minimizar os altos custos causados pelas caras tarifas cobradas pelas concessionárias.
Em suma, a situação envolvendo o uso da água do sistema Laranjal não está resolvida e não é trivial, o que demanda a realização de mais amostragens que cheguem não apenas ao ponto original de vazamento, mas também da identificação e responsabilização dos culpados.
Quando a Alerj vai entrar em ação?
Uma das perguntas que os pescadores que estiveram presentes na reunião se refere ao fato de que este incidente é de tamanha proporção que uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), já deveria ter ocorrido tão logo se teve notícia do vazamento de tolueno.
Entretanto, até agora isso não ocorreu. Mas após a reunião do IBAMA, os pescadores agora esperam que isso ocorra de forma rápida, mesmo porque o problema continua ocorrendo e afetando não apenas as atividades de pesca, mas principalmente a qualidade da água que centenas de milhares de pessoas estão consumindo neste momento.
A expectativa dessa ação na Alerj ficou mais próxima com uma fala do Coordenador da Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Alerj, Gerhard Sardo, que indicou que levará a proposta para a realização de uma audiência pública para os demais membros da comissão.
Para uma liderança que eu ouvi, o problema vai muito além dos pescadores que, apesar de estarem tendo grandes perdas nas suas atividades, se preocupam com a saúde da população da região servida pelo sistema Imunana-Laranjal.