
Por Douglas Barreto da Mata
Escrevo este texto como resposta a um ótimo texto do amigo Marcos Pedlowski [Aqui!]. Como eu disse a ele, em particular, é um ótimo texto para propagar esperança, comovente mesmo. Mas é só isso. O que não é pouco, porque no mundo atual, precisamos de alento e de palavras de incentivo.
Eu, como realista que sou, me reservo o direito a ter reservas sobre as “vitórias” das “esquerdas” francesas e inglesas. Coloco assim entre aspas, como faria com a “esquerda” brasileira, comumente identificada pela legenda PT. Há muito tempo deixaram de sê-lo, e hoje eu carrego sérias dúvidas se algum dia foram (de esquerda).
Antes de tudo e mais nada, não existe esquerda, na correta acepção do termo, sem que seja anticapitalista. Ser anticapitalista não significa ser um louco que desafia a realidade, avançando fora de contexto e desvinculado de senso pragmático. Nada disso.
Essa foi uma construção ideológica generalizante criada pela direita, para impedir e censurar qualquer chance de debate anticapitalista, e que, infelizmente, a “esquerda domesticada” assimilou e passou a usar como uma espécie de legitimação para sua falta de coragem de construir cenários alternativos, ou melhor dizendo, elaborar uma teoria necessária a uma ação política disruptiva.
A morte da luta anticapitalista não se dá pelas derrotas eleitorais ou pelos revezes das lutas dos movimentos sociais, incompreendidos pela maioria da população anestesiada pelos símbolos ideológicos da direita. Não.
A derrota se dá antes, na interdição dessa luta política, e se encontra incrustada no medo que a “esquerda oficial” tem de propor a discussão política sobre temas caros ao capitalismo, e agora, ao rentismo pós capitalista.
Por isso, a “vitória” inglesa é de Pirro, a francesa idem, e a de Lula…bem, a de Lula dá até vontade de chorar.
Antes mesmo de vencer os conservadores, o atual Primeiro Ministro Inglês já avisou: “nada de tributar os mais ricos”.
Na França, a conjuntura e a tradição intelectual da “esquerda” impõem um pouco mais de atrevimento, e o líder da coalizão vencedora, Mélenchon, já avisou que a conta deve sobrar para os mais ricos.
No entanto, esse movimento vai depender do acordo com o centro (direita), representado no derrotado Macron, que pode-se dizer, não saiu tão derrotado como se imaginava. Sim, a esquerda abriu mão de várias candidaturas para conseguir êxito nas disputas de segundo turno, porque as eleições francesas parlamentares são majoritárias (como no nosso caso, para prefeito, governador, senador e presidente), e em dois turnos.
A aliança de “esquerda” sacrificou-se para garantir que Le Pen não levasse a maioria, mas não foi o que aconteceu com o time de Macron, que não fez o mesmo movimento da “esquerda”, e assim preservou um tamanho capaz de influenciar, e muito, o novo governo que se inaugura. Ou seja, a direita francesa bateu a carteira da “esquerda”, mais uma vez. Mais ou menos como por aqui.
Depois de promoverem a desestabilização do governo Dilma, executarem um golpe criminoso, com a ajuda do Departamento de Estado dos EUA, sequestrado e mantido no cárcere o ex- presidente Lula, e colocado no Planalto, Jair Bolsonaro, a direita brasileira apavorada com o descontrole do movimento político que criou, chama de novo a “esquerda” para limpar a bagunça.
Desde que essa “faxina” se dê exatamente no figurino determinado pelos ricos. Governar sim, exercer o poder? Nunca. Assim, as “esquerdas” mundiais se “comportam” direitinho, esperando Papai Noel ou o Coelho da Páscoa.
Será que vão ganhar algo?