
O Brasil é neste momento um dos principais pontos de confirmação de que os cenários climáticos estão sendo confirmados na pior condição possível. Com boa parte dos rios brasileiros secando e com espessas camadas de fumaça cobrindo parte do país (ver abaixo cenas de Rio Branco no Acre), o que se tem é a combinação de fatores associados ao uso da terra para o plantio de grandes monoculturas com o processo de mudanças climáticas.
É preciso que se diga que os modelos científicos já previam os efeitos sinergéticos entre fatores de alteração da cobertura da terra e os de natureza climática. O que estamos vendo então não é nada que já não se previa ou que já não se sabe que demanda uma ação enérgica em todos as escalas de governo, na medida em que se constitui em uma ameaça existencial.
Mas não é isso o que se vê nem no plano imediato, nem no ataque aos efeitos de médio e longo prazo da crise climática. Se olharmos a reação do governo Lula, especialmente da ministra Marina Silva, a situação é de completa inação. Culpa-se entes genéricos pelo espalhamento de queimadas ilegais em terras privadas e públicas, enquanto se faz alianças eleitorais com os representantes políticos de quem está ateando fogo no país. No plano municipal, vive-se as consequências das práticas que agridem o clima como se nada estivesse acontecendo. Enquanto isso, se vivencia a escassez hídrica e crescem as ameaças sobre a garantia de acesso. No caso de Campos dos Goytacazes, ainda temos que conviver com uma tarifa caríssima que é outro de inviabilização de acesso para os pobres.
Quando colocadas juntas todas essas inações apenas refletem um alinhamento com um modelo de reprimarização econômica que depende da persistência de práticas anti-ambientais. Não é à toa que enquanto o Brasil experimenta os efeitos da pior seca já registrada desde o início das medições em 1950, o governo Lula festeja o crescimento do PIB, mesmo que isto se dê em função dos rendimentos associados a um setor primário que está literalmente colocando fogo em boa parte do país.
O que me parece evidente é que a luta pela retomada da primazia política dos trabalhadores terá que passar pela resistência a um modelo produtivo que aposta na catástrofe ambiental. Se isso não for compreendido e aplicada rapidamente, ainda iremos passar por grandes apertos e aflições em um futuro próximo. O fato é que a crise climática chegou e não há mais como separá-la da luta por uma sociedade efetivamente democrática e voltada para os interesses da maioria pobre da população.