Um ano sem Cícero Guedes e Regina dos Santos

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Participei na sexta-feira do “Encontro de amigos e amigas do MST no Norte Fluminense” e um dos pontos altos do evento foi a celebração da vida dos militantes Cícero Guedes e Regina dos Santos Pinho que foram assassinados no início de 2013. Soube da morte do Cícero quando voltava de uma visita a Itaocara, e o baque da notícia foi forte. Não posso dizer que era amigo dele, mas éramos parceiros de jornada, cada um na sua lida. Já Regina, eu somente a encontrei em poucas ocasiões, mas ela esteve sempre presente nas pesquisas que meus orientandos vem fazendo no Assentamento Zumbi dos Palmares desde sua criação em 1998. Mas sei que de um jeito muito diferente do Cícero, Regina era igualmente firme e decidida na luta pela reforma agrária. Somada a perda dos dois, digo que tivemos foi uma profunda lacuna de liderança que só agora começa a ser coletivamente preenchida.

Por outro lado, quem conhecesse a vida desses dois não poderia deixar de considerá-los como pessoas notáveis. Afinal, viverem sempre em meio às dificuldades que marcam a vida da maioria dos brasileiros, combatendo a própria pobreza mas, mais importante do que isso, combatendo a pobreza alheia. Cada um dos seu jeito, Cícero e Regina eram pessoas que se preocupavam com os seus camaradas. Tanto isto é verdade que foram mortos porque continuaram defendendo o direito de outros pobres terem o seu pedaço de terra para cultivar. Se tivessem se acomodado dentro de seus lotes é provável que ainda estivessem vivos. Entretanto, viveram e morreram por manter suas idéias coladas às suas práticas, e isto é muito mais do que muitos doutores e mestres podem fazer. Para compromisso e firmeza de propósito, a melhor escola ainda é a vida, e, nestes quesitos, esses dois bravos brasileiros não foram apenas estudantes, mas profundos educadores de todos nós.

Não obstante meu entendimento de que os dois seguiram o caminho que escolheram, a ausência deles é sentida. Não porque suas mortes acabaram com o MST no Norte Fluminense. Aliás, neste aspecto é bem provável que o martírio dos dois tenha reforçado a chama da indignação e da disposição para aprofundar a luta pela reforma agrária nos militantes que continuam vivos e lutando, muitos inspirados no que Cícero e Regina significaram e significam para eles. A perda que não se resolve é a da presença física dessas duas pessoas firmes e enérgicas em suas idéias, mas igualmente generosas e dedicadas à Humanidade. Esse tipo de pessoa é singular dentro de um sistema econômico que nos empurra todos ao consumismo fútil e ao individualismo mais grosseiro. São pessoas do quilate de Cícero e Regina que nos lembram que é possível manter as melhores características que um ser humano pode ter, mesmo que tendo sido a eles negados alguns dos direitos básicos que nossa precária sociedade já adotou.

Por tudo o que significaram, Cícero e Regina sempre vão me inspirar. Espero que inspirem a muitos outros mais, mesmo aqueles que não tiveram como eu, o privilégio de conhecê-los em vida.

7 comentários sobre “Um ano sem Cícero Guedes e Regina dos Santos

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