Quando notei aqui neste blog a peculiar definição de “natural” para casos de rompimento de barragens para viabilizar a liberação dos recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) via um decreto promulgado pela presidente Dilma Rousseff (o Decreto 8.572/2015), eu sabia que ia deixar os seus apoiadores irritados (Aqui!).
Dito e feito! Assim, tenho recebidos inúmeros comentários críticos à postagem, mas uns bem mais críticos do que outros. Entre outras coisas já fui rotulado de “imbecil mau intencionado”. Outro leitor questionou a minha “formação” para anular a minha análise.
Como estou ciente de que ao expor ideias controversas nos transformamos responsáveis pelas eventuais críticas e elogios que recebamos. Em suma, ser criticado faz totalmente parte do jogo, independente do grau de virulência pelo crítico. Em certas ocasiões, virulência é o melhor que as pessoas tem a oferecer de si.
Mas vamos ao que me parece essencial nessa quimera. Nenhum dos leitores que criticaram a minha postagem original explicou a necessidade de num decreto. que visava facilitar o acesso dos moradores de Mariana prejudicados pelo derrame da lama da Mineradora Samarco (Vale + BHP Billiton), se incluir a definição de rompimento de barragens como um desastre “natural”. Bastaria apenas decretar que os moradores atingidos que desejassem poderia realizar o saque do seu FGTS.
A segunda coisa que ninguém tem desejado explicar é que existe uma diferença entre o legal e o político em todo esse debate. É que tendo sido financiada pelo Grupo Vale na última campanha eleitoral, como também foram Fernando Pimentel e Aécio Neves, Dilma Rousseff tem se mostrado completamente “amiga” das mineradoras, tendo levado uma semana para fazer um sobrevoo de helicóptero sobre a região devastada. Até o anúncio feito por Dilma Rousseff de uma pífia multa de R$ 250 milhões foi só isso, pífio.
É que até o último bagre morto do Rio Doce sabia que multas ambientais raramente são pagas no Brasil. Além disso, o pobre coitado que precisar entrar com uma ação contra uma dessas corporações corre o risco de deixar ganhos eventuais para serem recebidos por seus futuros descendentes. Eu sei bem disso, pois acompanho desde 2009 a incansável luta dos agricultores do V Distrito para receber o que lhe és devido por causa da expropriação de suas terras, as quais hoje estão sob o controle de uma empresa controlada por um fundo de “private equity” sediado em Washington, DC.
Mas voltando ao caso de Mariana e das pessoas que tiveram todas as suas posses varridas do mapa pelos rejeitos da Samarco (Vale + BHP Billiton), o que realmente me deixa intrigado sobre o silêncio dos leitores é sobre o seguinte aspecto crucial: por que são os que tiveram as suas vidas arrasadas os que têm de bancar a reconstrução de suas vidas com os parcos recursos que conseguiram amealhar ao longo de vidas inteiras de trabalho? Ou será que alguém acha que existe alguém em Bento Rodrigues com uma fortuna guardada no FGTS?
Enquanto isso, os presidentes da Vale e da BHP Billiton vão continuar dormindo tranquilamente e em suas suntuosas mansões, e os moradores de Bento Rodrigues vão seguir como flagelados de um “desastre natural”? Será que sou o único a ver uma incongruência nessa situação? Fecha o pano!
