Incidente da Samarco: expedição científica da UENF gera primeiros resultados sobre impactos do TsuLama no Rio Doce

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Pesquisador do LCA/UENF realizando coleta no Rio Doce.

Acabo de conversar com o Prof. Carlos Eduardo Rezende, chefe do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) sobre os primeiros resultados que já foram gerados pelas análises feitas nas amostras coletadas ao longo da calha do Rio Doce (mais precisamente entre Ipatinga  (MG) e Regência (ES) entre os dias 24 e 28 de Novembro.

Como era de se esperar, em termos dos dados de granulometria, as amostras coletadas mais próximas de Mariana estavam enriquecidas em silte e nas proximidades de Regência o material passou a ter uma composição dominado por argilas finas. Na prática esses dados confirmam o que vem sendo dito sobre o impacto físico que o TsuLama teve nas regiões mais próximas de Bento Rodrigues com o soterramento de nascentes e da calha principal, enquanto que nas imediações do oceano o principal impacto deverá ser químico, dependendo do tipo de elemento que estiver aderido na argila.

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Além disso, os resultados para o chamado Material Particulado em Suspensão (MPS) também confirmam que houve um profundo impacto sobre a coluna d`água, mas que também variou do ponto de origem do derrame até as imediações do mar em Regência. Nesse caso, na estação de coleta referente à Ipatinga (MG), o valor médio obtido foi de 1.880 mg/l, enquanto que em Regência o resultado foi de 747 mg/l.

Apenas para dar a exata dimensão da alteração que isto significa, é preciso lembrar que o valor médio do MPS no Rio Madeira, um dos rios com maior capacidade de carreamento de sedimentos em suspensão na Amazônia, os valores médios giram em torno de 700 mg/l. Já no Rio Paraíba do Sul o valor médio do MPS gira em torno de 100 mg/l. Há ainda que se lembrar que a faixa de variação do MPS para o Rio Doce fica entre 20 e 350 mg/l, o que varia ao longo do tempo em função do regime de chuvas.

Afinal, o que todos estes valores significam? Uma primeira coisa é que em qualquer escala, o impacto da chegada do TsuLama no Rio Doce foi muito forte, ainda que variando ao longo da sua calha principal. Além disso, qualquer plano de recuperação do Rio Doce terá de levar em conta a espacialização dos impactos que estão ocorrendo e de sua persistência no tempo, já que alguns pontos foram mais fortemente atingidos do que outros. 

Os resultados são mais impressionantes quando se verifica que os valores de MPS no Rio Doce pós TsuLama ultrapassam os que ocorrem num dos maiores rios da Amazônia! E, assim que me desculpem os mais otimistas, cinco meses parecem muito pouco para que ocorra a ressurreição do Rio Doce.

Finalmente, como adiantei no início esses são apenas os resultados iniciais, e muitos outros virão nos próximos meses, especialmente no tocante à composição química do material coletado.  E essa é uma demonstração de que a Uenf, em que pese toda a crise que lhe é imposta pelo (des) governo Pezão continua cumprindo o seu papel de produzir conhecimento científico de alta qualidade. 

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