
As últimas semanas tem sido para lá de movimentadas no Brasil, e tudo indicava que o governo de Dilma Rousseff iria se esvair rapidamente para total alegria de Aécio Neves, o tucano inconformado. Agora, várias delações depois, vemos a volta do ex-presidente Lula ao centro das decisões políticas e o deslocamento de Aécio Neves para a condição de pária da política nacional, após ser implodido sem dó nem pena pela delação do ainda senador Delcídio do Amaral.
Mas antes que alguém pense que esta será uma postagem celebrativa contra o golpe midiático-judiciário que galopava no horizonte, engana-se. Nunca votei em Dilma Rousseff e acho seu governo simplesmente péssimo para os setores mais pobres da nossa população, enquanto é generoso ao extremo com os banqueiros. Além disso, Dilma Rousseff conseguiu ser pior até que Fernando Collor na questão da reforma agrária, e a sua omissão frente ao massacre contra as comunidades indígenas é algo que deveria envergonhar a todos os que ainda apoiam este governo de forma sincera.
Agora, convenhamos, que chega a ser engraçado a histeria que está se fazendo em torno da nomeação de Lula para o ministério de Dilma Rousseff. É que além de não livrar Lula de qualquer tipo de processo que se forme por causa da Lava Jato, agora vamos ver o que será feito para virar a situação econômica vigente no Brasil, de modo a que haja espaço para uma reacomodação conservadora das forças políticas que acabam de ser estraçalhadas pela soma das delações que foram feitas em Curitiba e Brasília.
O mais importante é notar que o que estamos vendo ruir sob nossos narizes é a ordem política engendrada ao final do regime militar de 1964, e que teve uma sobrevida mais de uma década por causa da capacidade pessoal de Lula de arregimentar acordos (muitos deles espúrios) e de convencer a maioria da população que estávamos melhorando a ordem social vigente.
Como em outros capítulos de crise no Brasil é provável que a principal tarefa que Lula esteja se dando é costurar uma saída que evite o colapso total das estruturas políticas da qual ele e o PT se tornaram os principais fiadores até que se consiga restabelecer a ordem. Se ele vai conseguir ou não, os próximos capítulos desta crise vão mostrar. Agora duas coisas são certas: a Nova República não tem mais salvação, e Aécio Neves agora será visto como o que sempre foi, qual seja, um falso moralista relegado à condição de pária da política nacional. O mais irônico é que lá no reino de Hades da política nacional ele se encontre com seus amigos Delcídio do Amaral e Aloízio Mercadante.