Medidas iniciais do governo Temer mostram que elites querem incendiar o Brasil

Desde 2003 estive entre aqueles que analisaram de forma crítica políticas implementadas pelos governos Lula e Dilma. Por isso, muitas vezes fui classificado como “ultra esquerdista”, pois esse era o rótulo dos que faziam críticas pela esquerda ao que neoPetismo estava executando na forma de um ampla colaboração com alguns dos setores mais atrasados da política nacional.

Agora que o grande acordo rompeu e Michel Temer está à frente do leme do Estado brasileiro, os limites do governo de colaboração de classes aplicado por Lula e Dilma estão ficando explícitos. É que com menos de 15 dias de existência, o governo interino pós-golpe parlamentar de Michel Temer está transformando em pó boa parte dos programas de governo que permitiram a construção da miragem de que no Brasil as instituições estavam “maduras” para a convivência democrática.

A verdade nua e crua é que o Brasil é um país,  usando as definições do cientista político argentino Guillermo O´Donell, com instituições construídas com fundações fracas. Para O´Donell, as instituições democráticas estabelecidas na América Latina simplesmente não passavam no teste da robustez que se requisita para a existência de regimes democráticas. Em outras palavras, a democracia na América Latina é um tigre de papel que não resiste a um mínimo de vento. Por isso, tantos golpes e contra-golpes, tendo sempre os mais pobres como as vítimas da sanha concentradora das elites.

Mesmo levando em conta a natureza farsesca da democracia à la América Latina (onde o Brasil, não esqueçamos, está inserido), não deixa de ser curioso notar a sede com que o governo interino de Michel Temer está tentando apagar até a miragem de democracia que os anos de Lula e Dilma criaram.  Talvez seja por um reconhecimento explícito da sua natureza golpista. Até socos na mesa Temer já anda dando para depois anunciar de forma até cândida que “sabe tratar com bandidos” no exercício do governo (?!).

Além disso, o ataque direto às instituições chega até coisas muito caras ao imaginário nacional. A entrega do pré-sal e o sucateamento pré-privatização da PETROBRAS, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica são os sinais mais explícitos de uma postura de terra arrasada cujo mote é apagar completamente qualquer chance de que sejamos, entre outras coisas, uma Nação independente.

O problema aqui é avisar aos milhões de brasileiros que embarcaram na ideia de que era possível transformar o Brasil pela conversa e pelas políticas afirmativas, sem mexer no essencial das nossas diferenças estruturais. Até agora essa maioria de brasileiros está apenas observando os conflitos intra- e inter-classe que saltam das telas das TVs.  Mas não há uma mínima chance de que esses segmentos ficaram inertes quando o pacote de maldades do governo interino chegaram em suas casas para tirar as migalhas que foram colocadas nas suas mesas ao longo da última década.

Por isso é que eu avalio que as elites brasileiras estão menosprezando o risco de um grande conflito social no Brasil com tantas medidas contra o pouco que foi concedido por Lula e Dilma. A ver!

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