A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) está realizando a sua 69ª Reunião Anual no campus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ontem, o seu presidente de honra, o físico e químico Sérgio Mascarenhas, proferiu uma conferência especial sobre o estado da ciência, em especial a brasileira, nesta presente conjuntura histórica tão marcada pelos discursos e práticas governamentais anti-ciência.
Abaixo publico uma matéria assinada pela jornalista Daniela Klebis , do Jornal da Ciência, que sintetiza a fala do professor Sérgio Mascarenhas, e na qual fica clara a sua preocupação com o futuro da ciência brasileira.
“Não destruam a ciência como este governo está fazendo”
Por Daniela Klebis – Jornal da Ciência
O passado, o presente e o futuro da ciência foram contados pelo presidente de honra da SBPC, Sérgio Mascarenhas, em conferência especial da 69ª Reunião Anual da SBPC, nesta quarta-feira, 19.
Aos 89 anos de idade, e 70 deles dedicados à atividade científica, a história do físico e químico Sérgio Mascarenhas é amalgamada com a história da ciência brasileira. E em sua conferência na manhã desta quarta-feira, 19, na 69ª Reunião Anual da SBPC, o pesquisador, convidado para levar a plateia em uma viagem pela história dos grandes cientistas do mundo, não poderia deixar de fazer seu apelo nesse momento tão grave: “não destruam a ciência como este governo está fazendo”.
Presidente de honra da SBPC, Mascarenhas foi protagonista no desenvolvimento da ciência do País. Ele foi um dos fundadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do Centro Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Instrumentação Agropecuária da Embrapa (Embrapa Instrumentação). Também criou o Instituto de Física e Química da USP de São Carlos e o primeiro curso de Engenharia de Materiais da América Latina, na UFSCar. Foi professor convidado das mais prestigiosas universidades do mundo, como Harvard, Princeton e o MIT. E a lista de prêmios que já recebeu é imensa: de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, Prêmio de Mérito Científico, na classe de Grã Cruz, a Prêmio Conrado Wessel de Ciência e Cultura 2006, entre tantos outros.
Uma história incrível de um intelectual que sempre com muita lucidez está a olhar para o futuro, como Junus, o deus de duas faces romano, que representa a dualidade, os começos e as passagens, ponto inicial da conferência intitulada De Leibniz à Era Digital do Século XXI. “Em sua imagem, a face do homem olha para o passado e a face da mulher olha para o futuro. E é olhando para o passado que a gente constrói o futuro”, disse ele, sugerindo, todo tempo, a leitura de grandes clássicos – porém, em suas versões digitais. “Hoje em dia, quem não lê livro digital está por fora. Eu posso carregar uma centena de livros comigo em meu tablet”.
A história dos grandes cientistas e das grandes revoluções científicas foi se construindo ao longo de séculos de muito estudo, muitas dúvidas e muita incompletude. Mascarenhas passa por Galileu Galilei, o gênio que revolucionou a ciência e a forma como hoje vemos o mundo. Morreu no mesmo ano em que nasceu Isaac Newton, em 1642. “Uma generosidade do universo”. O criador da teoria da gravitação sabia que não compreendia sua criação por completo, mas resolveu o problema de explicar a movimentação da lua. “Newton introduziu na ciência uma coisa muito ruim, que foi o determinismo absoluto”. Mas Karl Popper, séculos depois, contestou o princípio da verificabilidade, e trouxe para ciência a ideia da falseabilidade.
Retornando à época de Newton, passamos pela história de Gottfried Wilhem Leibniz, matemático, político, historiador, filósofo que descreveu o primeiro sistema binário de numeração. Os estudos de Leibniz, segundo o físico brasileiro, preparam o caminho para a criação do computador, séculos mais tarde. Ele também ficou conhecido por sua teoria das mônadas – outro conceito científico extremamente complexo que ainda não é totalmente compreendido. “A cabeça dele era um vulcão em atividade”, comenta.
Mascarenhas perpassa ainda Faraday, Darwin, Freud, Bertrand Russel, Godel e Ludwig Boltzmann, físico austríaco que desenvolveu o conceito de entropia e explicou a direção do tempo: “Foi com ele que aprendemos que o tempo é irreversível”.
E, décadas mais tarde, todo esse conhecimento edificado por séculos desemboca na revolução da informática que vivemos hoje. A invenção do transistor, em 1947, no Bell Labs, no Vale do Silício, nos Estados Unidos, foi a pedra fundamental de todos os produtos digitais que conhecemos hoje. “Isso foi mais importante que a bomba atômica”, considera.
Consciente de que o tempo só nos faz caminhar para frente, Mascarenhas conta que vislumbra um futuro para a ciência como o que foi desenhado por Charles Percy Snow, cientista e autor do livro “Duas Culturas e a Revolução Científica”. Nesse tempo, não muito distante, está a criação de uma chamada “terceira cultura”, fruto da união entre a ciência e o humanismo. “Isso é o que realmente precisamos: de uma ciência e arte, ciência e empreendedorismo”.
Essa seria a união que vai ser capaz de solucionar os problemas do futuro. E, como concluiu o vice-presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, que assume hoje a presidência da instituição, Sérgio Mascarenhas é um exemplo dessa convergência entre humanismo e ciência. E é este o conselho final do sábio cientista: “O futuro da ciência brasileira está nas crianças da favela, na solução da desigualdade. O futuro da ciência está na compaixão”.
FONTE: http://portal.sbpcnet.org.br/noticias/nao-destruam-a-ciencia-como-este-governo-esta-fazendo/
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Professor Marcos pergunto ao senhor: Para que um pais exportador de alimentos e matérias primas irá precisar de ciência e tecnologia?
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Para deixar de ser um país exportador de alimentos e matérias primas?
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O senhor me fez rir… Hahahahahaha… O povo brasileiro através dos políticos me faz chorar… lamento pelo Prof. Sérgio Mascarenhas, lamento pelo senhor, lamento por minha filha de 10 anos Maria Fernanda, lamento por todos os trabalhadores e aposentados honestos deste país, lamento pela falta de compaixão e educação, lamento pelas crianças nas favelas… enfim lamento pelo “mortadela” que acredita piamente que a solução está em Lula 2018, lamento pelo “coxinha” que acredita piamente que devemos as mazelas de nosso país unicamente aos petistas, lamento pelo “bolsominion” que acredita piamente em Bolsonaro 2018, lamento pelo PSOL não conseguir trilhar um caminho próprio longe do PTucanismo rumo a verdadeira Revolução Brasileira e ao mesmo tempo se livrar dos liberais de esquerda que comando o partido.
Agro é tech, Agro é pop, Agro é tudo… plim plim.
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Marco Antônio, é hora de parar de lamentar, mas de se insurgir. Eu, ao meu jeito, tento isso todos os dias. Ainda bem que consigo te fazer rir com esse meu simplório esforço cotidiano.
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O senhor sugere um “outubro vermelho” por estas bandas?
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Eu sugiro que todos os meses sejam vermelhos. Um outubro para o Brasil e para o Rio de Janeiro é pouco.
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Um país que é ,predominantemente,exportador de alimentos e matérias primas ,não há interesse ,nem espaço para cultura no campo científico.
A pior ignorância é a ignorância política.
Um povo culto não se deixa escravizar.
O sábio cientista Sérgio Mascarenhas, expressa ;
“o futuro da ciência brasileira está nas criancinhas da favela,na solução da desigualdade ,na compaixão ”
O futuro da ciência não está só na compaixão e sim no conhecimento da necessidade de mudar o sistema social.Necessário se faz que não existam favelas,nem crianças sem lar,sem escolas ,sem fome,sem acesso à saúde ,sem escolhas a não ser a escola da rua ,do crime,da exclusão social.Infância perdida.
Quantos cientistas dormem dentro dessas criançinhas que seriam despertos num sistema de justiça social onde todos tem os mesmos direitos e oportunidades ?
O povo fica pedindo direitos e justiça.
Direitos não se pedem ,se conquistam.
Acorda povo.Deixa os sonhos para os poetas.
Abraços
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