No dia 25 de março comentei o problema que estava se armando no horizonte em função da evidente subnotificação de casos da COVID-19 no Brasil. Ali mostrei estimativas do Imperial College de Londres de que a taxa de subnotificação brasileira estava na ordem de 11:1. Desde então, já li outras estimativas que colocaram a subnotificação em uma faixa de 11:1 a 100:1, o que torna os números oficiais minúsculos em relação ao que está realmente ocorrendo.
Eis que hoje, o jornalista Fernando Canzian publicou um artigo no jornal “Folha de São Paulo” cujo o título é “Estados e municípios relatam subnotificação gigantesca de casos” (de COVID-19). Nesse artigo, a subnotificação foi estimada como estando na ordem de 30:1.
Assumindo então que a taxa correta de subnotificação é de 30:1, o número oficial de infectados, como fornecido pela Faculdade Medicina da Universidade de São Paulo de Ribeiro Preto (FMRP/USP) que até ontem era de 6.836 pessoas, o valor real de infectados passaria a 205.080 de brasileiros. Isto faz com que o número potencial de infectados esteja entre 6.836 e 205.080, o que dificulta sobremaneira estimativas mais precisas sobre a evolução da pandemia em território brasileiro. Isto acaba deixando os profissionais de saúde e gestores governamentais completamente cegos em meio à batalha contra a COVID-19.
A matéria assinada por Fernando Canzian traz duas razões pelas quais o Brasil está hoje em um efetivo voo cego contra a COVID-19. A primeira seria a falta de kits para testes, e a segunda a inexistência de uma portaria específica do Ministério da Saúde para determinar quais casos devam ser considerados confirmados ou suspeitos têm feito com que muitos doentes não entrem nas estatísticas. Em outras palavras, o Ministério da Saúde é o lócus primário para a falta de preparação que dificultam a vida dos governos estaduais e municipais, e dos profissionais de saúde que estão à frente do combate à pandemia.
Por causa dessa situação que é de inteira responsabilidade do governo Bolsonaro, o Brasil está cada vez mais dependente das ações de isolamento social que estão sendo impostas por estados e municípios. Será graças a elas que o Brasil poderá evitar os piores cenários em termos de mortos pela COVID-19.
Por outro lado é fundamental que haja uma mobilização política por parte de cidadãos, organizações da sociedade civil, sindicatos, partidos políticos e até de representantes das grandes empresas nacionais para impor uma modificação no curso adotado até aqui pelo governo Bolsonaro no enfrentamento desta pandemia. Do contrário, o que teremos em poucas semanas no Brasil é a repetição agigantada do que está sendo visto agora em países como Itália e Espanha. Afinal de contas, todos já sabem que a COVID-19 não é a gripezinha ou o resfriadinho que o presidente Bolsonaro quer nos convencer que é.
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