A unidade de ecologistas com a esquerda resultou em vitórias surpreendentes nas eleições municipais francesas
As eleições municipais recém ocorridas ficarão marcadas por vitórias acachapantes de candidaturas de ambientalistas em cidades importantes, mas também porque parte dessas vitórias resultou de uma aliança com partidos e personagens que estão alinhados com a esquerda, inclusive aquelas da chamada “esquerda radical”, no que pode ser considerada uma onda verde e vermelha. Dentre os principais derrotados está o partido do presidente Emmanuel, o “La Republique en Marche“, e o de Marianne Le Pen, o partido de extrema-direita Reagrupamento Nacional.
A derrota com grande magnitude já forçou Emmanuel Macron a sair a público para declarar a adoção de políticas com claro viés pró-ambiente. Além disso, Macron já anunciou publicamente (ver vídeo abaixo) que analisa a possibilidade de retirar a França de tratados multilaterais que não respeitem o Acordo de Paris (2015), pois, segundo o presidente francês, “chegou a hora de fazer, de agir. É o tempo de ações concretas. Eu já estava comprometido com isso, mantenho minha palavra“.
E adivinhem qual será um dos primeiros alvos contra o qual Macron pretende? Certamente o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE), acordo que ele já se manifestou contrário no passado, mas que deverá agir de forma redobrada para atender a sinalização vinda das eleições municipais franceses.
Mas, convenhamos, com a proximidade dos grandes incêndios que irão ocorrer nos próximos dois meses na Amazônia brasileira, Macron terá a desculpa concreta para dobrar a primeira-ministra Angela Merkel que é a fiadora de fato do acordo da UE com o Mercosul.
Apesar da inviabilização do acordo Mercosul-UE não ser um contratempo apenas para o Brasil, mas para todos os membros do bloco sul americano, certamente é o nosso país que está posto em pior condição neste momento por dois motivos aparentemente não relacionados. Primeiro é o papel evidente do governo Bolsonaro no avanço desenfreado da pandemia da COVID-19. Segundo, é a responsabilidade pela expansão acelerada do processo de desmatamento em regiões da Amazônia que até recentemente estavam fora do chamado “arco de desmatamento”.
E não adiantará tentar jogar a culpa em quem expõe o papel negligente que o governo Bolsonaro vem cumprindo nessas duas esferas por uma suposta piora na imagem internacional do Brasil. É que o mundo, especialmente a Europa, sabe muito bem o que está acontecendo no nosso país neste momento, não apenas em termos da real situação da pandemia da COVID-19 e da aceleração do desmatamento na Amazônia, mas também sobre quem engendrou e, provalvemente, criou a sinergia entre esses dois processos.
Finalmente, que fique bem claro a lição vinda do eleitorado francês: em um mundo marcado por uma pandemia letal e o avanço da crise climática, a escolha está sendo por quem defende combinar a defesa dos direitos sociais com a do meio ambiente.
Se tudo correr na direção e velocidade do governo, em 2 anos o Brasil vai acabar.
CurtirCurtir