A informação de que o governo de Nicolás Maduro acaba de firmar um convênio com a Rússia para adquirir a vacina Sputnik V em número suficiente para imunizar 10 milhões de seus habitantes (o país caribenho possui uma população total de 32 milhões) é mais um sinal de que o Brasil corre o sério risco de ficar isolado não apenas do resto do mundo, mas também da América do Sul.
É que além da Venezuela já começaram o processo de vacinação a Argentina e o Chile, sendo que o governo de Alberto Fernandez já sinalizou que irá compartilhar seu estoque de vacinas com a Bolívia e o Uruguai, no que representa uma espécie de diplomacia da vacina.
Enquanto isso, o governo Bolsonaro está atolado num pântano onde estão misturados negacionismo científico e incompetência não apenas para assegurar a compra de vacinas, mas também das seringas necessárias para aplicá-las quando estas estiverem finalmente disponíveis para uso em território nacional. A situação brasileira é ímpar e especialmente problemática, na medida em que possuímos uma das maiores populações do mundo, mas estamos sob o tacão de um governo que mostra completo desrespeito pela segurança sanitária dos brasileiros.
O primeiro resultado desse descompasso será a manutenção do número de infecções e mortes pela COVID-19 em números altíssimos. Com mais de 7,5 milhões de infectados e 192 mil mortos, a ausência de uma processo nacional de vacinação o Brasil deverá se manter virtualmente paralisado, e com grandes possibilidades de vivenciar uma forte crise social, caso seja mantida a decisão de encerrar o pagamento do chamado “auxílio emergencial” pelo governo federal a partir de janeiro.
Outro resultado inevitável será a proibição da circulação de brasileiros fora das fronteiras nacionais, visto que com o avanço do processo de vacinação na maioria dos países, qualquer país que não vacinar seus cidadãos será alvo de proibição para viagens e até a realização de trocas comerciais. A suspensão temporária da autorização para a entrada de turistas brasileiros pelo governo da Argentina é apenas a primeira de muitas que deverão ocorrer até que a vacinação em massa alcance a maioria dos brasileiros.
O impressionante é que nada disso parece empurrar o governo do presidente Jair Bolsonaro a adotar uma postura mais célere na compra de vacinas e na adoção de medidas que impeçam a transformação da crise sanitária em um processo de convulsão social aberta.
Mas consigo visualizar pelo menos uma coisa boa nessa situação trágica. O brasileiro médio, especialmente aqueles segmentos bolsonaristas, terá que pensar duas vezes antes de levantar o nariz pedante para nossos vizinhos sul americanos. É que está ficando mais do que patente que estamos ficando para trás em termos de capacidade de mobilizar nossas forças institucionais para fazer o básico, no caso a vacinação contra a COVID-19.