Deslizamento de terra, previsto em estudo de 2016, destruiu hoje prédios históricos no centro da cidade de Ouro Petro (MG)
A persistência das chuvas e o inevitável impacto que elas trazem sobre a estabilidade geológica está trazendo uma série de prejuízos para muitas cidades em Minas Gerais, incluindo as históricas. O último acontecimento que está dando o que falar foi o deslizamento de terras no Morro da Forca na manhã desta quinta-feira (13), em Ouro Preto/MG, cujo resultado foi a completa destruição de casarões no centro histórico da cidade (ver vídeo abaixo).
Para que se tenha ideia da perda que ocorreu hoje em Ouro Preto é só notar que um dos prédios destruídos, o Solar Baeta Neves, era a primeira construção de estilo neocolonial do município. Mas o que a maioria das pessoas que está assistindo chocada à destruição do patrimônio histórico em Ouro Preto é que um estudo de 2016, realizado por pesquisadores da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), vinculada ao Serviço Geológico Brasileiro, já havia previsto o “alto risco de movimento de massa” no local que desmoronou no dia de hoje (ver imagem abaixo).
Este estudo, segundo me foi informado, foi entregue às autoridades locais que, obviamente, optaram por desprezar o prognóstico científico que cerca de 6 anos depois se provou muito preciso. Esse desprezo pela ciência custou um valor incalculável para não apenas para os proprietários dos imóveis destruídos pelo deslizamento de terras, mas principalmente para o patrimônio arquitetônico nacional.
Mas está mais do que claro que a rejeição ao conhecimento científico não está restrito aos governantes de Ouro Preto, mas é a regra entre a maioria dos mandatários brasileiros, e em todas as esferas de governo. Assistindo de longe as cenas de destruição que estão ocorrendo no Norte Fluminense, principalmente em Campos dos Goytacazes e São João da Barra, fica óbvio que estamos diante de governantes que não levam em conta o conhecimento científico existente, seja para responder aos problemas imediatos, seja para preparar seus municípios para o “novo normal” climático que será a ocorrência de eventos meteorológicos extremos em curtos períodos de tempo. Essa postura é quase que uma garantia de que continuaremos expostos à repetição de eventos trágicos, seja em termos de perdas materiais ou de vidas humanas.
A questão da persistência de padrões ultrapassados de governança só será alterada se houver uma clara tomada de posição da população para exigir que a ciência seja internalizada na gestão pública. Também caberá aos cientistas saírem de sua posição majoritariamente passiva frente ao que ocorre na sociedade em que vivem para que o seu conhecimento seja colocado adiante de formas arcaicas de governo que tendem a privilegiar o patrimonialismo e, não raramente, os interesses privados de quem ocupa as cadeiras de poder.