Trânsito transformado em selva e o anunciado plano de mobilidade urbana: solução ou repetição de velhos erros?

serrinha

Muitos esperaram (ingenuamente em minha opinião) que a pandemia da COVID-19 causasse formas espontâneas de solidariedade e uma consequente diminuição das atitudes individualistas cultivadas pela ideologia neoliberal no nosso cotidiano.  Como alguém que dirige todos os dias em uma cidade de porte médio onde inexistem mecanismos de restrição de atitudes antagônicas ao bom dirigir, só posso dizer que vivencio uma piora impressionante nos padrões de comportamento dos motoristas e demais participantes da selva que é o trânsito de veículos em Campos dos Goytacazes.

O que mais salta aos olhos é que semáforos que já não era muito levados em conta antes da pandemia, agora se transformaram em elementos meramente decorativos, especialmente se estamos falando de motociclistas e ciclistas, ainda que o comportamento dos motoristas não seja lá muito melhor.

A obediência aos padrões mínimos de civilidade estão simplesmente ausentes, pois a cada esquina ou cruzamento, o perigo é obedecer e não obedecer a sinalização, pois parece que vivemos em uma cidade de daltônicos, já que a maioria simplesmente passa sem medo de serem felizes. Aos que não querem colisões ou perdas de vida, comportamento no qual eu me incluo, precisam ter atenção redobrada, pois ainda se corre o risco de  sermos culpabilizados por algum incidente provocado por algum condutor  imprudente.

As obras realizadas de uma forma claramente caótica pelo governo municipal parecem ter exponencializado esse comportamento de “vale tudo”, e quem teve o azar de precisar passar pelas áreas beneficiadas pelas reformas sabe bem do que estou falando.  Tendo que ir a uma escola localizada em um trecho relativamente calmo, mas próximo das obras, tive o desprazer de ver pais (um deles portando um visto adesivo em defesa do voto  impresso) retornando na contramão, apenas para não ter que cruzar uma esquina bloqueada. 

Diante desse cenário, fico me perguntando o porquê de tanta omissão do poder público municipal em relação à modernização do controle de trânsito em Campos dos Goytacazes. Aqui inexiste qualquer mecanismo de controle de velocidade ou de câmeras que captem violações e facilitem a punição aos que as realizam. É como se ainda vivêssemos  em uma cidade pequena, quando, na verdade, possuímos características de uma cidade média com mais de 600 mil habitantes.

A minha hipótese é de que não se pretende investir para alcançar um nível mínimo de civilidade, seja por aumentando os efetivos da Guarda Municipal de forma substancial, ou na aquisição de equipamentos de controle de velocidade, isto sem falar nas estruturas de sustentação da sinalização existente porque existem muitas claramente em péssimas condições em vias importantes de circulação ( a Avenida Felipe Uébe é um exemplo crasso disso). 

Não posso deixar de citar aqui que todo esse caos é agravado pela existência (ou seria inexistência?) de um sistema público de transportes que é vexaminoso em todos os aspectos que se pense. Com isso, além de se deixar o cidadão pobre largado à própria sorte, temos um incentivo a que se coloque mais veículos nas ruas, aumentando os congestionamentos que, por sua vez, exacerbam os comportamentos individualistas que mencionei no início desta postagem. Em suma, temos uma receita perfeita para que nossas ruas e avenidas se transformem em campos da morte, e o máximo que o governo municipal até aqui se dispôs a fazer é dar uma tapeada na condição do pavimento.

Por isso tudo, é que estou curioso para conhecer em detalhes o  Plano de Mobilidade Urbana que será será apresentado e discutido em audiência pública que será realizada na Câmara Municipal de Campos dos Goytacazes na próxima segunda-feira (21/03). Quem sabe ali vejamos apresentados caminhos para que saiamos do padrão caótico em que nos encontramos.  Eu sinceramente espero que não seja mais uma daquelas geringonças destinadas a perpetuar um modelo falido de transporte público que vive pendurado no poder público e no tesouro municipal. 

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