A tentativa de golpe: senilidade do empresariado brasileiro

empresários

POR LUCIANE SOARES DA SILVA*

O empresário Luciano Hang, conhecido por ser um tipo de cover do Louro José, usou um grupo de Whatsaap para tramar um golpe de Estado caso o atual presidente Jair Bolsonaro perca as eleições. O grupo conta com Afrânio Barreira Filho, Luiz André Tissot, Marco Aurelio Raymundo, José Isaac Peres Ivan Wrobel, José Koury e Meyer Joseph Nigri.

Eu ousaria pensar nesta estratégia como um poderoso indicador de desespero. Não apenas pela irracionalidade e imbecilidade explicitadas na proposta, mas principalmente pela “saída “ na qual eles parecem acreditar. Ou seja, melhor implodir de vez uma economia já em farrapos e manter nossos lucros. Mas isto já é assunto superado. Ninguém desconhece que esta sempre foi a opção de nossa elite.

Ontem ao passar pela praça observei o Data Toalha em uma banca de jornal após tomar café em uma padaria central na qual um pastor tentava ganhar o voto de um cidadão “anti política” para Bolsonaro. De voz mansa e sorriso largo, estava ali o instrumento divino da eleição de 2018.

Do outro lado da rua, mulheres em trabalho mais que precarizado gritavam com aquela voz aguda e estridente “empréstimo, empréstimo com o auxílio Brasil”. Oito da manhã de uma segunda de agosto. Provavelmente a população das periferias Brasil afora, acordava com um único objetivo: garantir o mínimo para alimentação do dia. Com o auxílio e vivendo um período de desemprego que se manteve após a pandemia. O centro cheio de lojas fechadas não é privilégio de pequenas cidades. Olhem hoje o centro do Rio de Janeiro. 

Uma elite com saudades da Ditadura e em alguns casos, do Império (sofre coração), não tem qualquer ambição em relação ao quadro geral do país. Se o golpe for um atalho para manter trabalho análogo a escravidão, ainda melhor. Vocês percebem? Não é uma questão de competição capitalista sustentada na mão autoritária do regime. É mais profunda. O desejo, pode parecer um misto de sadismo, suicídio e estupidez, é retroceder o trabalhador à condições tão precárias, que mesmo um dono de usina gritaria: “alimente  este escravo porque ele trabalha por dois”. Como não é mais necessário um “escravo” que trabalhe por dois, a questão não é apenas ética ou jurídica (talvez nem seja o caso). É (também) estética: “não tolero esta gente na Universidade”. É de dominação patriarcal: “não consigo mais quem trabalhe e durma na minha casa”. É de desprezo e desconsideração: “vamos dar um prêmio perto das eleições aos funcionários” (traduza-se por compra de voto, prática ilegal). É a luta de classes banhada no racismo mais atroz das Américas. Aquele no qual só poderá existir uma elite se forem mantidas as condições de humilhação dos trabalhadores.

Hoje é aniversário do meu pai. Ele trabalhou desde os seus 18 anos, serviu quartel, carregou de tudo. Até peça de usina hidrelétrica. Nunca desejou ter o que seu patrão tinha. Nunca foi dedo duro de colegas. Meu pai tem uma consciência de classe intuitiva. Desconfia muito das posições sociais de ostentação. Por uma razão simples: ele sabe que cada bloco de mármore dos donos de shopping golpista, foi carregado por gente como ele. Que vive na zona norte de Porto Alegre ou em centenas de bairros de trabalhadores país afora.

O problema desta eleição é que tem muita gente como ele pouco interessada em trocar o auxílio, o prêmio ou a ameaça por voto em Bolsonaro. E sabem que momento é este ? É aquele momento assustador e que o trabalhador, empregado ou não, nada tem a perder. Não é um momento revolucionário. Mas é o suficiente para colocar esta elite em desespero.

E eu ? Como digo com frequência, acho é pouco.

*Luciane Soares da Silva é é docente da Universidade Estadual do Norte Fluminense  (Uenf), onde atua como chefe do Laboratório de Estudos da Sociedade Civil e do Estado (Lesce)

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