Inicialmente quero adiantar que considero legítimo o desejo da campanha do ex-presidente Lula de resolver as eleições presidenciais no primeiro turno que ocorrerá no dia 2 de outubro. No entanto, não considero legítimo tentar resolver a peleja anulando as candidaturas (principalmente as de esquerda) que não querem ceder aos cânticos de que se retirem da disputa em nome de um suposto risco de golpe que seria acelerado pela necessidade de que se realize um segundo turno.
É que todas as causas apresentadas para que não se vote em outras candidaturas que não as de Lula trazem subliminarnamente um empoderamento do campo político ocupado pelo presidente Jair Bolsonaro que é apresentado como possuidor de grande capacidade operacional de desmanchar a frágil democracia brasileira. O problema é que se olharmos de perto, vamos lembrar que nem um partido para chamar de seu Jair Bolsonaro conseguiu criar.
Na verdade Jair Bolsonaro e a extrema direita são fortalecidos pela ausência de um campo de esquerda que organize a grave insatisfação que corre na massa de trabalhadores empobrecidos por três décadas de políticas neoliberais. Basta ver o que está acontecendo neste momento com o PSOL cuja direção nacional abdicou de ter candidaturas majoritárias e decidiu ingressar com mais força do que os próprios militantes petistas na campanha de rua de Lula. O resultado é que o PSOL não apenas sumiu dos debates eleitorais e da atenção dos eleitores que antes votavam nas candidaturas majoritárias do partido, mas como suas candidaturas proporcionais acabaram se perdendo em um mar de candidatos de direita, com o partido ficando sem saber quantos deputados vai conseguir eleger.
Aliás, se olharmos os efeitos que o giro à direita de estrelas da esquerda identitária (o melhor exemplo é Marcelo Freixo) realizaram em troca de agregarem votos, mas que acabaram abraçando pautas da direita, o que acabou afastando setores inteiros da juventude. Assim, não é de surpreender que Marcelo Freixo esteja tão atrás de Cláudio Castro nas pesquisas de opinião, pois seu giro direitista acabou desorganizando setores inteiros da juventude e até da classe trabalhadora. Contraditoriamente este giro em vez de somar votos, acabou tirando.
Para mim um problema grave é que a candidatura de Lula não apenas não dialoga com os partidos da esquerda/esquerda (como o PCB, a UP e o PSTU), mas como não mostra qualquer interesse em fazer. A razão aparente é que o comando lulista considera que os partidos da esquerda/esquerda não possuem densidade eleitoral, esquecendo o fato de que na luta política que se seguirá a uma eventual vitória de Lula, o que mais contará será a capacidade de colocar militantes organizados para defender um programa político que ajude o Brasil a sair do atoleiro em que se encontra.
Dentro desse contexto, considero o abandono do voto em partidos efetivamente de esquerda não apenas não garante a vitória de Lula, mas também contribui para um extermínio de pautas que são necessárias e urgentes, na medida em que ao dizimar eleitoralmente quem as defende, não haverá necessidade de sequer discutir a importância das mesmas.
O resultado disso será o posicionamento de um eventual governo Lula em umapostura de manter todo o saco de maldades (ao menos o que é essencial) do que foi implementado pelo governo de Jair Bolsonaro. Não é à toa que não se sabe qual é a plataforma política sob a qual Lula está concorrendo, e não me surpreenderia se no dia seguinte descobrirmos que serão mantidas as reformas da previdência e a trabalhista, apenas para começo de conversa.
Em suma, são essas as razões pelas quais que estou recusando o canto da sereia do voto útil em Lula no dia 2 de outubro. E como já disse a eleitor de Jair Bolsonaro que me perguntou sobre quem votaria em um eventual segundo turno votarei sem medo em Lula, mas já me preparando a ser uma voz que cobrará a efetiva implementação dos novos rumos que ele nos sinaliza que irá oferecer aos brasileiros. Considero ainda que está cada vez mais posta a necessidade de gerar um processo de unificação das forças políticas que recusam a continuidade das políticas ultraneoliberais que hoje infernizam a vida da classe trabalhadora e da juventude no Brasil.