Lula e Bolsonaro: no tratamento das pandemias da COVID-19 e das queimadas existe alguma diferença entre eles?

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Por Douglas Barreto da Mata

Em conversas mantidas com o amigo George Gomes Coutinho, e em tantas outras com o editor deste blog, que generosamente permite que eu veicule minhas inquietações neste espaço eletrônico, o Professor Marcos Pedlowski, sempre questionamos o sentido da palavra democracia no modelo capitalista.

Por certo, de forma mais ou menos intensa, concluímos que falar em democracia no capitalismo é um erro conceitual grave.  Coutinho, inclusive, cunhou o termo “mercado democrático”, para dar sentido a um sistema de concorrências políticas, em ambientes específicos, onde as forças em conflito tratam suas diferenças, dando uma gradação mais ou menos “democrática” para cada sistema, de cada país, atendendo a critérios de mais ou menos liberdade de expressão, estabilidade jurídica e normativa, etc. Eu chamaria de mercado representativo.

Continuo a achar que nada há de democrático no capitalismo, nem mesmo um “mercado democrático”, ainda que eu entenda cada nuance da expressão imaginada por Coutinho.  Pois bem, olhando o movimento recente da economia, no atual governo, e as guinadas e recuos do Presidente Lula, juntando com o desastre ambiental e a inação da administração federal, onde o próprio Lula disse, ontem, senão me engano, que ninguém está preparado para tais circunstâncias, em todas as esferas de governança, eu fiquei imaginando: tem diferença entre Lula e Jair Bolsonaro?

Se a pandemia da COVID-19 foi o pior ponto do governo Bolsonaro, onde os analistas entendem que ali se exauriu boa parte de seu capital político, e se concordamos com o magistrado do STF, o insuspeito e ex Ministro da Justiça Flávio Dino, que estamos diante de uma pandemia ambiental, então também podemos concluir que esse será o ponto fatal para Lula, dentre tantos outros já acumulados.

Como assim não estamos preparados, Lula?  Esse atual cenário de desastre ambiental foi projetado desde 1992.  Já se passaram dois mandatos seus, e um e meio de Dilma, como assim não sabiam o que ia acontecer?

COP dois mil e X paineis climáticos internacionais, e se Lula não souber ou puder ler ttodo o material gerado nesses encontros, pode ir de “O Dia Depois de Amanhã” mesmo, com Dennis Quaid.  Ali, de forma exagerada e resumida dá para ter uma noção do que o aquecimento vai trazer ao clima.  Se Lula não sabe, não quer saber, manda alguém ler e traduzir para ele. Tudo certo, não se pode saber tudo.

O que não pode é dizer que um tema de 40 anos não gerou no presidente uma demanda de planejamento e preparação, e neste caso, de enfrentamento da causa: o modelo econômico agroexportador!

Quer dizer que o governo Lula, que alimentou-se dos superávits da balança comercial, pelas exportações do latifúndio (chamado, carinhosamente, também por Lula de agronegócio), não sabia que o custo sócio ambiental seria esse?

Lula passou todos os seus anos de governo sem mexer em nada na estrutura da nossa carteira de exportações, somos quase que meros exportadores de “pau-brasil”, ganhando em troca, não espelhos e miçangas, como os índios da época, mas isqueiros e gasolina, para transformar tudo em pastagens e áreas de soja e milho.

Quando exportamos carne, milho, soja, etc, na verdade, enchemos os bolsos de ricos fazendeiros, que não recolhem impostos sobre a venda exterior desses produtos (Lei Kandir), e damos, de graça, trilhões de litros d’água, usadas nesses cultivo e criações, enquanto os compradores poupam seus biomas quando adquirem essas commodities a preços generosos.

Você fica sem água, no calor, na fumaça, para alguém enriquecer, e sequer pagar o imposto para ajudar a conter os estragos.  Vejam bem a que ponto chega a cretinice desse governo, ao justificar que poderia haver um incremento da inflação por causa das queimadas, ao mesmo tempo que criou a narrativa dos “piromaníacos lobos solitários”, ou dos “incêndios terroristas”.

Ora, claro que podem haver grupos organizados para criar tensão, bem como a ação de incendiários malucos, agindo por imitação.  Sim, é possível.  Mas creditar a esses atos a responsabilidade por tudo que está acontecendo desde sempre nos biomas que servem como repositores de chuva e umidade no resto país, leia-se Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica é de um cinismo tão cruel quanto Bolsonaro dizer que não se importava com as vítimas da pandemia, porque não era coveiro.

Ao lado disso tudo, Lula, que passou anos atacando o Presidente do Banco Central, agora deu uma guinada, e na iminência de colocar o seu indicado na presidência, resolveu aderir à tese da autonomia, e sequer deu um pio sobre a subida recente (ontem) da SELIC em 0.25%.  Alguns dirão que faz sentido o cálculo de Lula, para afastar os questionamentos sobre as ações de seu indicado, quando ele tomar as medidas que Lula deseja.

Será Lula um ingênuo, e será que ele acredita que o seu indicado fará mesmo o que ele mandar, e não o mercado?  Mesmo diante da canalhice dos porta-vozes da banca, os mercenários do teleprompter, dizendo em alto e bom som que a subida se justificava para “acalmar” o mercado de trabalho.  Em outras palavras, aumentar o desemprego, para evitar que os patrões tenham que pagar mais pela mão-de-obra.

Assim, como sempre, toda vez que há alguma merreca em ganho de renda, a banca, com a cumplicidade do governo, aumenta os juros para subtrair esse excesso das mãos dos trabalhadores.  O governo não cria impostos, nem torna a estrutura tributária mais justa (rico paga mais, pobre paga menos) mas permite o “tributo dos juros” sobre os que têm menos renda.  Assim temos o pior dos mundos.

Um país massacrado pela inépcia e covardia de um governo, que cede aos magnatas dos juros e do latifúndio, e que agora resolveu voltar a lamber as botas dos EUA nas questões geopolíticas regionais, antigo fetiche de Lula pelos Democratas, logo eles que nos entubaram o golpe de 2016, em Dilma, via juízes treinados pelo departamentos de Estado e de Justiça dos EUA.

Talvez estas conjunturas tenham reflexo aqui, na planície, onde o PT parece desgovernado, cambaleando, trocando as pernas. Faz sentido.

Há diferença entre Lula e Bolsonaro?  Bem, respondendo a esta pergunta,  talvez a diferença entre Lula e Bolsonaro é que o primeiro não gravou, ou pelo menos ainda não divulgou, imagens e áudios de reuniões ministeriais com a Marina Silva falando em passa boi, passa boiada.

Na prática, porém, o boi e a boiada passaram, e foram direto para o brejo.  Alguém disse que é mais fácil imaginar o fim do mundo, a pensar no fim do capitalismo.  Pode ser. Lula e o PT, com certeza, são herdeiros dessa tese.

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