Carla Machado, como Greta Garbo, quem diria, acabou no Irajá. E o PT Campos arrisca ir junto

A então prefeita Carla Machado entregando a medalha de “Barão de São João da Barra” a Eike Batista

Esta postagem pode parecer uma sequência do preciso texto assinado pelo Douglas da Matta, e até certo ponto é, porque trata de uma mesma personagem, a ex-prefeita de São João e atual deputada estadual pelo PT, Carla Machado. Começo dizendo que sou do tempo em que a hoje deputada pelo PT era uma espécie de filial do chamado Garotismo nas terras que dão ao Brasil o conhaque de alcatrão São João da Barra. Depois por motivos que se tornaram óbvias, Carla Machado assumiu voo próprio e passou a fazer uma oposição visceral a Anthony Garotinho e seu grupo político.

Mas passada a introdução, eu tenho que dizer que Carla Machado foi uma personagem habitual no espaço deste blog desde sua criação em 2011 por um motivo que considero emblemático da sua trajetória pós-Garotismo que foi o processo de desapropriação de 7.500 hectares pertencentes a agricultores familiares para a implantação de um natimorto Distrito Industrial de São João da Barra que daria uma conformação produtiva ao Porto do Açu, empreendimento iniciado sob os auspícios de um grande amigo de Carla Machado, o ex-(des) governador Sérgio Cabral  (Aqui!, Aqui!, Aqui!, Aqui!).

Carla Machado foi uma figura instrumental não apenas para a Codin tomar terras cujas indenizações ainda não pagas, mas também para transformar terras que eram agrícolas em um grande latifúndio improdutivo, o que facilitou não apenas a instalação do Porto do Açu com Eike Batista, mas também todo o desarranjo social e produtivo que vigia no V Distrito de São João da Barra.

carla machado porto do açu

Carla Machado e o então reitor do IFF, Jefferson Manhães na Feira de Oportunidades de 2019

As imagens abaixo mostram Carla Machado participando de uma espécie de divisão (neo) colonial do V Distrito com direito a poses com mapas que lembram muito o que as potências europeias fizeram na Ásia e na África no Século XIX.

O fato é que Carla Machado nunca foi cobrada por sua participação na tomada de terras de centenas de agricultores pobres que tiveram seu modo de produção e reprodução completamente dilacerados por um empreendimento que até hoje se mostra um pesado fardo para São João da Barra. As promessas de crescimento de empregos e da renda municipal não se confirmaram e o nível de miséria se manteve firme, mas Carla Machado continuou surfando nas boas ondas da política regional. O que ficou foi  salinização das águas continentais, erosão costeira, aumento dos problemas sociais, e perda da produção agrícola.

Uma das explicações para isso foi sua migração para o Partido dos Trabalhadores (PT) e sua eleição para deputada estadual, a despeito da trajetória anti-camponesa que ela construiu como uma das avalistas da tomada de terras pelo (des) governo de Sérgio Cabral. As cenas de agricultores idosos sendo removidos algemados de suas propriedades nunca resultaram na devida fatura política para Carla Machado e seu acolhimento nas hostes do PT serviu como uma espécie de indulto da qual ele se beneficiou alegremente.

Como alguém que trabalhou para conseguir o registro nacional do PT junto ao Tribunal Superior Eleitoral em 1982 subindo os morros na cidade do Rio de Janeiro para captar filiados, ver uma personagem como Carla Machado andando com a estrela no peito é não apenas fonte de desgosto, mas também de confirmação de que ter me retirado do partido a que ajudei a fundar foi um ato correto.  Mas como considero que existem militantes sinceros no PT de Campos, eu fico imaginando como eles estão se sentindo hoje com a ida de Carla Machado para a campanha da Delegada Madeleine, enquanto o partido tem um candidato no pleito, o Professor Jefferson Manhães.

Mas para além do desrespeito com a candidatura oficial do partido, o abraço de Carla Machado em outra candidatura de viés claramente mais à direita do espectro ocupado pelo PT torna ainda mais difícil o esforço que os membros da nominata de vereadores estão tendo que fazer para serem chances mínimas de eleição.  Curiosamente nesta nominata existem militantes do campo da reforma agrária, como no caso do Hermes Mineiro e do Mateus do MST. Pelo menos para esses, a boa notícia é que não terão a companhia de uma inimiga da agricultura familiar nas caminhadas em que estão gastando a sola do sapato e as cordas vocais para enfrentar alianças que possuem mais dinheiro para se viabilizarem.

Aliás, o aparecimento de jovens militantes que ainda acreditam no PT como instrumento de luta era uma das poucas coisas boas que eu pude ver no atual ciclo eleitoral. Agora, com essa guinada pró-Madeleine de Carla Machado, fico me perguntando se até isso não está sendo jogado pelo ralo.

Aí me parece que não apenas se deverá fazer o devido balanço do custo de ter se incensado uma política que é efetivamente uma alienígena dentro do PT e perdido tanto tempo em um esforço para viabilizar uma candidatura impossível.   Há que se tirar consequências práticas não apenas sobre o que fazer com Carla Machado após sua migração para a candidatura da delegada Madeleine, mas também para que se evite o mesmo tipo de vexame político no futuro.

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