Sob a égide de Ricardo Salles, ICMBio destrói sinalização do “Caminho da Mata Atlântica”

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A sinalização da trilha “Caminho da Mata Atlântica” que liga o Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, a qual possui mais de 4.000 km, está sendo desfeita pelo ICMBio, órgão responsável pela gestão das 334 unidades de conservação em todo o Brasil. A denúncia foi feita pelo jornal carioca O Globo e verificada pela Revista Blog de Escalada.

Componente fundamental em qualquer trilha de longo curso, a sinalização serve não apenas para transmitir aos praticantes de trekking informações sobre navegação, mas também por conferir uma identidade ao percurso.

O Caminho da Mata Atlântica é uma trilha brasileira que tem início no Parque Nacional de Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul, e se estenderá até o Parque Estadual do Desengano, no Rio de Janeiro. A trilha irá cruzar mais de 70 áreas protegidas, incluindo 10 parques nacionais e 32 parques estaduais.

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O WWF lançou neste ano o manual “Parques do Brasil, Sinalização de Trilhas”, com exemplos ilustrativos sobre sinalização rústica (confundidos por leigos como sendo pichação), utilizada em outros países e que começava a ser adotada no Brasil no “Caminho da Mata Atlântica”.

De acordo com a reportagem, o “Caminho da Mata Atlântica” tinha apoio oficial do ICMBio até o ministro Ricardo Salles assumir o Ministério do Meio Ambiente. A governança do CMA publicou uma nota de repúdio em resposta à ação do Ministério do Meio Ambiente e enviou um ofício à diretoria do parque. De acordo com a reportagem ainda não houve nenhuma manifestação do ministério.

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O Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles é o que mais corre risco de ser o próximo substituído na reforma ministerial que teve início de fevereiro deste ano. Salles é constantemente acusado de sistematicamente desmontar a agenda ambiental, não adotar nenhuma medida prática para evitar desmatamento ilegal e por meio de declarações ofensivas afastar o Brasil de organismos internacionais de preservação.

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Este texto foi originalmente publicado pelo blog “deescalada” [Aqui!].

Qual o legado da operação militar para a proteção da Amazônia?

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  • Em 30 de abril, o governo federal encerra oficialmente a operação Verde Brasil, ação militar de fiscalização iniciada em agosto de 2019 para combater o pico de queimadas ilegais na Amazônia.
  • Desde então, os militares vêm ganhando força cada vez maior nas políticas ambientais aplicadas à Amazônia — inclusive sobrepondo-se a órgãos como Ibama e ICMBio no trabalho de fiscalização e ocupando cargos-chave nessas agências.
  • Especialistas criticam o gasto elevado da operação (cinco vezes maior que o orçamento do Ibama), empregado sobretudo na fiscalização de áreas já demarcadas ou registradas — ignorando as terras em disputa, mais suscetíveis à exploração ilegal.
  • Enquanto isso, o governo federal põe em prática seu plano nacional de desenvolvimento para a Amazônia para esta década, focando na expansão das cadeias produtivas e da atividade industrial. “A modernidade e o progresso estão na ordem do dia desde o governo imperial”, prega o plano.
Por  Caio de Freitas Paes para o Mongabay

O protagonismo dos militares na gestão da Amazônia se destaca desde 2019. Eles foram acionados pelo presidente Jair Bolsonaro em agosto daquele ano, após o “Dia do Fogo”, rompante de queimadas ilegais que balançou as relações do mundo com o Brasil. O presidente lhes concedeu força máxima, incluindo até a subordinação de agências ambientais federais, como Ibama e ICMBio. Não faltaram recursos nem pessoal para a chamada operação Verde Brasil. Sem tanto alarde, porém, os militares estão saindo de cena.

No último dia 11 de fevereiro, o vice-presidente Hamilton Mourão anunciou o encerramento da fiscalização por eles conduzida na maior floresta tropical do mundo. O fim da operação ocorre em 30 de abril de 2021, prorrogada por três meses após o término previsto.

Daqui em diante, o foco das ações será mais restrito, segundo os responsáveis. “Levantamos que 70% do desmatamento, ou dos crimes ambientais, ocorrem em 11 municípios que elencamos como área prioritária”, disse o vice-presidente Mourão.

Isso não é novidade. Uma lista com estas áreas de proteção prioritárias consta num processo do Ministério Público Federal (MPF), protocolado em abril de 2020 e consultado pela Mongabay. Ou seja, o MPF divulgou a informação mencionada por Hamilton Mourão um mês antes de uma das renovações da operação militar, em maio do ano passado.

Na lista constam áreas como São Félix do Xingu, no Pará, campeã em emissão de gases de efeito estufa no país graças ao desmatamento, municípios no sul do Amazonas e em outros pontos próximos, no Mato Grosso e em Rondônia.

Apresentar dados conhecidos – e aparentemente ignorados – é só um dos argumentos por trás das críticas sobre a operação Verde Brasil. O desmatamento segue elevado, como aponta a ONG Greenpeace, e prospera um milionário mercado clandestino de terras públicas, com compra e venda dentro de áreas indígenas. Enquanto isso, a fiscalização retorna às agências ambientais, fragilizadas sob a gestão Bolsonaro, e militares anunciam planos econômicos para a Amazônia. Como fica, afinal, a proteção à floresta e seus povos após quase dois anos sob a tutela verde-oliva?

patrulha 1Patrulha da operação Verde Brasil no porto de Belém (PA). Foto: Comando Militar do Norte.

Conflitos seguem intensos, até com investigação sobre militares

Não é segredo que a Amazônia está à mercê daqueles que a devastam. Um povo indígena já foi extinto graças à covid-19 – os Juma, em Rondônia – e o Ministério Público investiga o uso de um avião militar para levar garimpeiros a reuniões no Planalto em novembro de 2020.

Para Marcela Vecchione, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos na Universidade Federal do Pará (UFPA), a operação Verde Brasil foi um fracasso do ponto de vista socioambiental. “Os conflitos explodem quando se mantém um estado de exceção permanente, como vimos nas recentes operações na Amazônia”, diz.

A professora da UFPA ressalta que, desde o início, a fiscalização conduzida pelo Exército privilegiou áreas já demarcadas ou registradas, tanto indígenas quanto de quilombolas e ribeirinhos. Para ela, este é um erro grave em si.

“Quando operações se concentram apenas nas terras ‘oficiais’, as áreas em disputa ficam vulneráveis, ou seja, sob esse ponto de vista a operação foi muito ineficaz”, afirma Vecchione.

Agências ambientais sem dinheiro e militarizadas

A operação Verde Brasil moveu recursos milionários – algo em torno de R$400 milhões, segundo Hamilton Mourão. “Houve comentários de algumas agências dizendo que, se tivessem esse dinheiro, fariam muito melhor. Isso faz parte do debate”, disse o vice-presidente, como relatado pelo portal Poder360.

Mourão referia-se ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ambos em penúria fiscal.

“Como comparação, os gastos do Ibama para fiscalizações em todo o país não atingiram sequer R$80 milhões em 2020”, diz Suely Araújo, ex-presidente do Ibama e especialista em políticas públicas na coalizão Observatório do Clima.“O recurso usado na operação foi mal empregado, a meu ver”, afirma.

A coalizão que Araújo integra defende mais repasses aos órgãos ambientais. Segundo o Observatório do Clima, o orçamento hoje disponível para Ibama, ICMBio e ministério do Meio Ambiente é o menor dos últimos 20 anos.

Enquanto faltam recursos, sobram oficiais em postos de comando.

Em novembro de 2020 havia pelo menos 22 militares em funções-chave no Ibama, no ICMBio e também no ministério do Meio Ambiente, provenientes da Aeronáutica, do Exército e da Marinha. Os dados foram compilados pela agência Fiquem Sabendo, especializada na Lei de Acesso à Informação brasileira.

“Fiscais tanto do Ibama quanto do ICMBio têm uma expertise única, sabem quando é mais indicada uma operação do tipo ‘presença’ (mais contundente, com apoio armado) ou se é preferível monitorar via satélite e multar à distância”, diz Suely Araújo.

Para ela, o destacamento de militares acentua a desconfiança interna e aumenta o medo de represálias contra servidores nestas agências.

“Existe uma narrativa de descrédito [sobre as agências], um mito sobre a ‘indústria da multa’: este discurso é o grande responsável pelo desmatamento. O governo precisa parar com essa narrativa, algo que infelizmente não deve ocorrer”, afirma a ex-presidente do Ibama.

patrulha 2Patrulha da operação Verde Brasil na Amazônia. Foto: Exército Brasileiro.

Governo quer “ambientalismo de resultado”

“O grande inimigo do meio ambiente é a pobreza”, disse o ministro da Economia, Paulo Guedes, em seu discurso no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, ainda no início de 2020.

O plano do vice-presidente e dos militares para a floresta daqui em diante segue a mesma toada.“Precisamos chegar a um novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia”, disse Mourão em fevereiro deste ano, enquanto anunciava o fim das fiscalizações militares na região.

Como presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL), Hamilton Mourão tem defendido um “ambientalismo de resultado”, que possa “mapear e expandir as cadeias produtivas, as cadeias de valor, facilitando que haja um adensamento da atividade industrial”.

“Ou seja, eles resgatam uma antiga visão militar de levar o ‘progresso’ à Amazônia, mantendo apenas algumas ilhotas de preservação enquanto avançam sobre os povos da floresta”,diz Marcela Vecchione, da UFPA.

O “ambientalismo de resultado” é um dos objetivos do plano nacional para o controle do desmatamento e recuperação da vegetação nativa entre 2020 e 2023. O documento foi elaborado pelo ministério do Meio Ambiente, alinhado ao discurso do vice-presidente sobre o tema.

Segundo o ministério, “(…) é necessário desenvolver mecanismos econômicos e jurídicos robustos, de modo que forneça incentivos para quem pretende empreender de forma sustentável”.

Mas, para a professora da UFPA, o modelo proposto pelo governo e pelos militares ignora um patrimônio imaterial da floresta: seus povos.

“Tome o exemplo das culturas de açaí em torno de Belém (PA), manejadas do mesmo jeito há séculos: sua riqueza e variedade são frutos dos saberes tradicionais, opostos a qualquer modelo de desenvolvimento proposto hoje”, afirma a professora da UFPA.

A opinião de Suely Araújo, do Observatório do Clima, é similar. “Tanto militares quanto o governo federal destacam a questão da pobreza, mas não dizem que o desenvolvimento que eles propõem é, no fim das contas, em prol de grandes empresas, não dos mais pobres”, diz.

Desenvolvimento militar fortalece elites locais, diz pesquisador

“A modernidade e o progresso estão na ordem do dia desde o governo imperial”: assim começa o plano estratégico 2020-2030 do Conselho Nacional da Amazônia Legal, divulgado em novembro passado. Nele, o conselho exibe suas diretrizes para o desenvolvimento da Amazônia.

O documento, consultado pela Mongabay, mostra o receio diante da influência chinesa e um desejo de “fomentar o ambiente de negócios” e de “integrar a infraestrutura regional”. Para tal, o conselho avalia como necessária a “segurança jurídica” na Amazônia, com um novo “ordenamento territorial” e a “regularização fundiária”.

“Para os militares, a Amazônia deve ser uma espécie de projeção dos grandes centros, espelhada no que é a sociedade urbana, ‘civilizada’. É uma ideologia sem espaço para os povos da floresta, suas culturas e modos de vida”, diz Lício Monteiro, professor de Geografia na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Monteiro pesquisa o papel militar na defesa e manutenção das fronteiras nacionais na Amazônia, o que inclui ao menos um projeto de desenvolvimento socioeconômico: o Calha Norte, vigente desde 1985.

Quase desconhecida, a iniciativa foi recentemente agraciada pelo governo federal. No início de janeiro, a gestão Bolsonaro aumentou em mais de 150% o valor máximo para compra de equipamentos e elevou em outros 50% o teto para obras de engenharia via Calha Norte.

Segundo o professor da UFF, esta iniciativa aproximou militares das elites políticas e regionais com o passar dos anos. “Há uma presença relevante de militares na Amazônia, então eles participam da política, recebem homenagens de prefeitos, vereadores, deputados”, afirma.

“Os militares seguem com a mesma visão de 40, 50 anos atrás, de ‘integrar para não entregar’. Então, a eficácia de suas ações ou com quem as desenvolvem não importa muito: o que eles querem é retomar protagonismo e, para isso, precisam esvaziar o trabalho feito pelos civis desde a Constituição de 1988”, diz o professor da UFF.

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Este texto foi inicialmente publicado pelo site Mongabay [Aqui!].

Estudo revela o alcance da política anti ambiental do governo Bolsonaro: 59 iniciativas contra o meio ambiente

Estudo mostra que o governo brasileiro tem usado sistematicamente a distração corona para facilitar o desmatamento da floresta tropical

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Agentes de saúde municipais carregam vacinas da AstraZeneca / Oxford para a COVID-19 ao longo das margens do rio Solimões, onde vivem os ribeirinhos, em Manacapuru, estado do Amazonas. REUTERS / Bruno Kelly

RIO DE JANEIRO taz | Durante uma reunião do gabinete ministerial brasileiro realizada em abril de 2020, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi visto orientando como usar o foco da mídia na pandemia da COVID-19  para mudar as leis ambientais brasileiras sem a aprovação do Congresso. O pedido de Salles no vídeo para “passar a boiada” se tornou uma metáfora para a política ambiental do governo brasileiro.

Agora, um grupo de pesquisadores investigaram quais são as consequências da distração causada pela COVID-19 para a proteção ambiental. Conclusão: “Temos que concluir que o atual governo está explorando a pandemia da COVID-19 para enfraquecer a proteção ambiental no Brasil.” No estudo, que foi publicado pela revista Biological Conservation , os autores identificam um total de 59 iniciativas com as quais o o governo Bolsonaro enfraqueceu ou pretende enfraquecer as diretrizes de proteção ambiental existentes no Brasil.

Logo no início do governo Bolsonaro, o Ministério do Meio Ambiente tentou afrouxar a proteção da Mata Atlântica. Como resultado, o desmatamento ilegal em 20.000 km2 de áreas de florestas pode agora ficar impune. Outros 110.000 km2 de vegetação protegida em ilhas e áreas de mangue estão ameaçados de destruição. Após protestos, a iniciativa foi paralisada por enquanto. Mas o presidente Jair Bolsonaro questiona a constitucionalidade da lei de proteção ambiental perante a Suprema Corte. A decisão está pendente.

Além disso, as autoridades ambientais foram sistematicamente reestruturadas. Os servidores com experiência técnica ou em política ambiental tiveram que sair, em muitas áreas protegidas as autoridades agora estão com falta de pessoal ou sem gestão. Servidores foram demitidos por fazerem campanha contra o desmatamento.

Cortes drásticos em órgãos ambientais

Em abril, um dos programas de TV mais populares do Brasil exibiu gravações de funcionários do órgão ambiental Ibama realizando operações contra madeireiros e garimpeiros na área do povo indígena Ituna Itatá. Dois dias depois, o diretor de proteção ambiental do Ibama e dois funcionários tiveram que desocupar seus cargos. Além disso, o governo Bolsonaro cortou drasticamente o financiamento das autoridades ambientais e restringiu as oportunidades de participação da sociedade civil.

De acordo com os autores do estudo publicado pela Biological Conservation, tudo isso tem levado a cada vez menos multas para crimes ambientais. Nos primeiros sete meses da pandemia – que o estudo está analisando – o número de multas foi 72% menor do que o período anterior. Isso, por sua vez, levou ao aumento das taxas de desmatamento. Esses também alcançaram novos máximos durante a pandemia.

O que aconteceu após o período analisado pelos pesquisadores? “Acreditamos que o governo continua a usar a pandemia para relaxar as diretrizes de proteção ambiental”, disse a coautora Rita Portela, que é bióloga e professora de Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Planos para fundir órgãos ambientais

Ela estava particularmente preocupada com os planos atuais do governo de fundir o Ibama com o Instituto de Conservação da Biodiversidade (ICMBio ).“Isso significaria uma reestruturação completa dos órgãos e que vai fragiliza-los ainda mais.” Há poucos dias, o governo também apresentou seus planos para 2021. Isso inclui vários projetos polêmicos – como a legalização de projetos de mineração em terras indígenas.

Segundo os pesquisadores, essa política não apenas ameaça a perda de espécies, mas mais gases de efeito estufa serão emitidos e comunidades indígenas serão dizimadas. A perda dos abrigos fornecidos pelas florestas acarreta outro risco: infecções zoonóticas e, portanto, o risco de novas pandemias.

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Este artigo foi originalmente escrito em alemão e publicado pelo jornal TAZ [Aqui!].

Organizações da sociedade civil exigem aumento no orçamento de 2021 para o meio ambiente

De acordo com as organizações, se a proposta orçamentária do governo for aprovada como está pelo Congresso Nacional, não haverá recursos para combate ao desmatamento e queimadas no país

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• Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) do Governo Federal para 2021 prevê cortes severos no orçamento de combate ao desmatamento e fogo.

• Se aprovado como está, o ICMBio teria R﹩0,45 por hectare para cuidar de 165 milhões de hectares de Unidades de Conservação.

• A área desmatada da Amazônia, entre agosto de 2019 e julho de 2020, alcançou 11.088 km2, um aumento de 9,5% (Prodes) em relação ao período anterior e equivalente a 7,2 vezes o território da cidade de São Paulo. Trata-se do maior número desde 2008.

• Organizações da sociedade civil se unem para exigir que o Congresso Nacional altere o PL através de emendas, garantindo a recomposição do orçamento de meio ambiente.

• A PLOA 2021 prevê redução de 29% no orçamento do Ibama, de 40,4% para o ICMBio e de 39,4% para a administração direta do MMA – para despesas discricionárias, em relação a PLOA 2019.

PLOA O desmatamento continua a crescer no Brasil. Mas o Projeto de Lei Orçamentária (PLOA para 2021), enviado pelo Executivo para votação no Congresso Nacional, não reflete o tamanho do problema e prevê cortes severos no orçamento dos órgãos ambientais, responsáveis, por exemplo, pelo combate ao fogo. Em resposta a isso, o Greenpeace Brasil e 23 organizações da sociedade civil lançam, nesta quarta-feira, a campanha  Floresta sem Cortes”, para exigir que deputados e senadores alterem o projeto.

A redução e o represamento de orçamento têm sido uma das ferramentas usadas na política antiambiental do atual governo com objetivo de reduzir a proteção ambiental no Brasil. De 2019 para 2020 a redução no orçamento das despesas discricionárias do Ibama foi de R﹩112 milhões (30,4%), de R﹩97 milhões no ICMBio (32,7%) e de R﹩33 milhões (32,7%) para o MMA – administração direta. O PLOA de 2021 prevê cortes ainda mais acentuados, que podem comprometer ainda mais a capacidade do país de combater o desmatamento e as queimadas, enquanto enfrentamos mudanças no clima e aumento da destruição florestal.

No momento em que o Congresso Nacional debate a PLOA 2021, antes da votação, o objetivo da campanha é mobilizar a sociedade brasileira e pressionar deputados e senadores pela aprovação de um orçamento robusto, que seja capaz de financiar todas as ações necessárias para frear o desmatamento, queimadas e punir severamente os criminosos que agem na Amazônia e em outros biomas. Nesta fase, os parlamentares podem fazer alterações, por meio de emendas.

“É importante que o Congresso Nacional não compactue com a política antidemocrática e antiambiental do governo Bolsonaro, que está gerando um prejuízo incalculável para toda a sociedade brasileira. O Congresso pode, e deve, remanejar parte dos recursos para aqueles que têm a competência legal e a expertise técnica para combater o desmatamento e as queimadas: o Ibama e o ICMBio”, afirma Cristiane Mazzetti, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace Brasil.

“Não existe crise fiscal que justifique tamanho desmonte do orçamento do meio ambiente. Os cortes expressam, na verdade, a decisão política do atual governo de estrangular os órgãos ambientais e sucatear ainda mais a política ambiental brasileira. É uma irresponsabilidade que precisa ser revertida pelo Congresso Nacional por meio de emendas orçamentárias que assegurem recursos essenciais para que os órgãos possam atuar e cumprir seu papel”, diz Alessandra Cardoso, assessora política do INESC.

“O orçamento é um espelho fidedigno de opções políticas. Os valores reduzidos da proposta orçamentária para 2021 para os órgãos ambientais explicitam a não priorização do tema pelo governo Bolsonaro. Não adianta o Vice-Presidente da República prometer uma atuação mais forte no controle do desmatamento e de outros ilícitos ambientais, e na prevenção e enfrentamento dos incêndios florestais, se isso estiver dissonante da lei orçamentária nas ações afetas ao Ibama e ao Instituto Chico Mendes. Em relação ao ICMBio, o quadro é extremamente complicado: os recursos previstos para a gestão de áreas protegidas em 2021 vão inviabilizar a atuação da autarquia, matando-a por inanição. Recursos há, basta deslocar uma pequena parte do previsto para o Ministério da Defesa”, diz Suely Araujo, especialista sênior em Políticas Públicas do Observatório do Clima.

Para fazer parte deste movimento, todos podem acessar a página FlorestaSemCortes.org.br e pedir ao Congresso a aprovação imediata de um orçamento adequado para frear o desmatamento nos biomas brasileiros e garantir a proteção de nossa biodiversidade. A campanha está aberta para adesão de organizações da sociedade civil.

Participam e assinam a campanha: 350 Brasil, Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, Apremavi, Associação Civil Projeto Hospitais Saudáveis, Cidades afetivas, ClimaInfo, Fundação Avina, Greenpeace Brasil, Hivos, Idesam, Imaflora, Imazon, Inesc, Instituto Alana, Instituto Centro de Vida (ICV), Instituto Ethos, Ipam, ISA, ISPN, Mater Natura, Observatório do Clima (OC), Projeto saúde e alegria, Rede Grupo de trabalho Amazônico (GTA) e Transparência Internacional.

Em “debate” na Rádio Jovem Pan, João Capobianco reduz Ricardo Salles a pó

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A Rádio Jovem Pan resolveu colocar frente a frente para o que seria um debate o ministro (ou seria anti-ministro?) do Meio Ambiente, o improbo Ricardo Salles e o experiente biólogo, fotógrafo e ambientalista, e ex-presidente do ICMBio, João Carlos Capobianco.

Mas como os leitores do blog poderão testemunhar, o que ocorreu foi um massacre, onde Capobianco meticulosamente demonstrou todas as mentiras proferidas por Ricardo Salles, reduzindo o ainda ministro ao que ele realmente é, um completo despreparado para ocupar o cargo que ocupa (ver abaixo o vídeo contendo o debate entre Capobianco e Salles).

Ativistas pelo clima protestam em frente ao Ibama em São Paulo

No Brasil, movimento “sextas pelo futuro” terá foco nas queimadas e no desmonte da legislação ambiental

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Jovens, crianças e suas famílias protestam na tarde de hoje (25/9) em frente à sede do Ibama na cidade de São Paulo. A ação marca o Dia de Ação Mundial pelo Clima e faz parte do movimento global “sextas pelo futuro” (#fridaysforfuture), uma greve de estudantes pelo clima iniciada pela jovem ativista sueca Greta Thumberg. Além de São Paulo, outras capitais brasileiras terão atos contra o desmatamento e as queimadas que estão destruindo o Pantanal, a Amazônia e o Cerrado desde junho, em uma das temporadas secas mais letais da história do país.

“Há um ano ocupamos a Avenida Paulista porque um bioma queimava. Hoje são três deles sendo reduzidos a pó. Precisamos nos mobilizar urgentemente contra essa escalada de destruição!”, afirma o texto de convocação para os atos divulgado nas redes sociais.

Os ativistas também protestam contra a paralisia do Ministério do Meio Ambiente e o desmonte de órgãos federais de fiscalização ambiental, como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) e o ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

Por conta da pandemia, os protestos físicos terão regras de distanciamento social, e os participantes devem estar equipados com máscaras e álcool em gel. Também haverá um ato online, com a participação de pelo menos 27 movimentos e coletivos da sociedade civil brasileira, sob a hashtag #NossaCasaEstáEmChamas.

Protestos pelo mundo

As mobilizações globais de jovens pelo clima levaram 7,6 milhões de pessoas às ruas em 2019. Ao declararem o dia 25 de setembro de 2020 o Dia de Ação Mundial pelo Clima, os manifestantes preveem pelo menos 2500 ações de ativismo em dezenas de países.

Na América Latina, além do cenário de aumento das queimadas e da degradação de biomas como o Pantanal, a Amazônia e o Chaco, os jovens também priorizam demandas associadas à ideia de justiça climática e racismo ambiental, numa constatação de que as comunidades socialmente mais vulneráveis são também as que já enfrentam os piores impactos da crise climática.

Por causa da pandemia da Covid-19, a maior parte das mobilizações foi deslocada dos espaços públicos das principais metrópoles do mundo para a internet. Em seminários e protestos virtuais, jovens ativistas exigirão ações como o fim da produção e do consumo de petróleo, gás e carvão, a eliminação das fontes de financiamento aos combustíveis fósseis, o combate ao desmatamento e à degradação florestal e o respeito aos Povos Tradicionais.

Ato Global pelo Clima em São Paulo:

Será realizada uma vigília com distribuição de mudas.

● Concentração às 17h, ato 18h30-20h

● Sede do Ibama: Alameda Tietê, 637, Jardins

Cronologia de um desastre anunciado: Ascema Nacional lança dossiê sobre desmonte das leis ambientais pelo governo Bolsonaro

salles bolso mourãoRicardo Salles, Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão são, segundo a Ascema Nacional, os executores da destruição das leis ambientais brasileiras

O atual cenário político e socioambiental brasileiro demonstra o resultado do desmonte realizado pelo Governo Bolsonaro, os ataques constantes contra os órgãos e entidades socioambientais, além dos discursos contra a atuação dos servidores e as normas ambientais. Em função disso, a Associação Nacional dos Servidores de Meio Ambiente (Ascema Nacional) decidiu preparar um relatório elencando todas as ações realizadas pelo governo Bolsonaro para destruir a governança ambiental existente, bem como para inviabilizar o funcionamento dos sistemas de comando e controle da área ambiental.

cronologia

Segundo a Ascema, des o início do atual governo tem havido um aumento em número e extensão dos incêndios florestais, expansão do desmatamento da Amazônia; vazamento de óleo atingiu diversos pontos da costa brasileira sem que o governo se mostrasse capaz de dar uma resposta rápida e competente que possibilitasse descobrir os responsáveis por sua origem; as tentativas de incriminar e intimidar indígenas, ambientalistas e organizações não-governamentais, além de intimidação e cerceamento da ação dos servidores da área ambiental, resultando em um real e deliberado desmonte das instituições públicas de meio ambiente.

A diretoria da Ascema lembra que a trajetória do presidente Jair Bolsonaro é marcada por controvérsias e ataques ao meio ambiente e aos órgãos e servidores ambientais. Um exemplo citado ocorreu em 2002 quando Jair Bolsonaro foi multado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por pesca ilegal na Estação Ecológica de Tamoios, em Angra dos Reis (RJ). Um ano após o ocorrido, o então deputado apresentou um projeto de lei ( o PL 5720/2013) que visava proibir o porte de armas de servidores designados para atividades de fiscalização de caça.  A Ascema lembra que o projeto acabou sendo retirado de tramitação pelo próprio Jair Bolsonaro.

A Ascema denuncia que os servidores de órgãos ambientais federais (MMA, IBAMA, ICMBio e SFB), mesmo sofrendo com o assédio institucional e perseguição, vêm alertando sobre a gravidade dos problemas que, por sua vez, são reforçados pela falta de eficiência da gestão e a estratégia de desmonte. Nesse sentido, a Ascema aponta que a desestruturação e enfraquecimento do MMA e de suas autarquias, como a extinção de setores e cargos de direção deixados vagos por longos períodos nos órgãos, contribuem para a paralisação e deliberada ineficiência das suas atividades.

Além disso, a Ascema relata a falta de critérios técnicos para a nomeação de pessoas, muitas sem conhecimento suficiente e sem experiência prévia para cargos de direção, com destaque para a substituição de servidores de carreira por militares das Forças Armadas ou policiais militares (inexperientes, porém obedientes), demonstram a intencionalidade do enfraquecimento da área ambiental na atual gestão.

Outra denúncia importante feita pela Ascema refere à tramitação de uma imensa e injustificada proporção dos processos administrativos do ICMBio em caráter restrito ou sigiloso, em muitos casos sem qualquer justificativa legal que dê amparo à medida, ferindo o princípio da transparência no serviço público, prevista na lei de acesso à informação (Lei 12.527/2011).

Para quem desejar o relatório da Ascema em sua íntegra, bastante clicar [Aqui!]

TV ASCEMA promove debate sobre desmanche na gestão ambiental pelo governo Bolsonaro

*TV ASCEMA – Debate Ao Vivo #3 – 28/07 (HOJE) – 20h*

TV ASCEMA

HOJE (28/07), às 20h, na TV ASCEMA, debate ao vivo sobre a “Desmonte da gestão ambiental e o aumento do desmatamento no Brasil:  papel do monitoramento e da fiscalização ambiental”.

A convidada e os convidados para esse debate são especialistas em Meio Ambiente e discutirão a importância dos órgãos como o INPE, ICMBio e IBAMA no monitoramento e na fiscalização ambiental, e os impactos que desmonte vem causando.

Não percam! Participem pelos canais da  ASCEMA Nacional no  YouTube e no Facebook

O Brasil como lócus planejado da destruição ambiental

salles2Depois de quase dois meses ignorando o problema, o ministro (ou seria anti-ministro) do Meio Ambiente, Ricardo Salles, vestiu um colete do IBAMA para posar para fotografias em uma praia contaminada por óleo. Imagem: Felipe Brasil/Instituto do Meio Ambiente de Alagoas / Divulgação

Desde o início do governo Bolsonaro, o Brasil se transformou em palco de incidentes ambientais agudos, a começar pelo rompimento do reservatório de rejeitos da mineradora Vale em Brumadinho (MG) e chegando agora à contaminação de mais de 2.000 km de litoral por um derramamento de óleo cuja autoria ainda não se conhece. Entre Brumadinho e a mancha de óleo de origem supostamente desconhecida, ainda tivemos que testemunhar os efeitos da devastação acelerada da Amazônia brasileira. E, sim, não podemos nos esquecer da aprovação massiva de agrotóxicos proibidos em outras partes do mundo para sustentar monoculturas de exportação que, por sua vez, estão na raiz da ampliação da destruição dos biomas amazônicos e do Cerrado.

Em comum todos os eventos citados acima possuem a marca do desmanche da legislação ambiental por diferentes governos submetidos à lógica de que proteção ambiental é oposta aos ganhos econômicos. Em função dessa lógica é que vem se tolerando a transformação do território nacional em uma espécie de lócus preferencial para desastres ambientais cujas perdas econômicas, sociais e ambientais ultrapassam em larga escala qualquer ganho eventual em termos de crescimento econômico. 

Ainda que não carregue uma culpa isolada da destruição ambiental em curso no Brasil, o o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente (ou seria anti-ministro?), Ricardo Salles, já conseguiram em menos de um ano de governo operar um desmantelamento impressionante na capacidade do estado brasileiro de operar dentro de um limite mínimo de segurança quando se trata de impedir que a questão ambiental saia totalmente do controle.  Em vez de ações para aperfeiçoar as ações governamentais, o que a dupla Bolsonaro-Salles fez foi desmantelar e praticamente inviabilizar o trabalho de órgãos fundamentais como o IBAMA, o ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade]  e o INPE, congelando políticas ambientais e tornando ineficazes vários  mecanismos de monitoramento que poderiam fornecer respostas eficazes a incidentes ambientais, como  foi o caso do o PNC (Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo).

O resultado desse desmantelamento pode ser agora visto nas taxas explosivas de desmatamento e nas cenas de voluntários tirando com as próprias mãos o óleo que contamina praias, estuários e santuários ecológicos. Como já observei anteriormente, o que está acontecendo na área ambiental não é fruto do acaso ou da má sorte, mas sim de uma ação bem pensada de destruir a governança ambiental, de modo a facilitar a exploração descontrolada de nossos ecossistemas e biomas.

O problema é que nada do que foi feito para facilitar o acesso à áreas que estavam sob regime de proteção por parte de todo tipo de saqueadores (incluindo madeireiros e garimpeiros) compensa economicamente. Aliás, como no caso da Amazônia ou da contaminação das praias do nordeste, o impacto de qualquer ganho eventual será infinitamente menor do que os custos que isto trará com a perda de investimentos e oportunidades para setores que dependem da funcionalidade intacta das regiões atingidas, a começar pelo setores do turismo e da pesca artesanal. 

Para ampliar as dificuldades que vivemos, dificilmente haverá um abandono na postura ideológica amparada no paradigma da “Economia de Fronteira” que rege as ações não apenas do governo federal, mas da maioria dos governos estaduais.  Isso certamente ampliará as dificuldades já existentes, pois não apenas os problemas detectados continuarão sem o devido controle, mas como ainda iremos presenciar outros incidentes e situações ainda mais graves. É que o desprezo pela proteção ambiental não será mudada a partir do interior das máquinas de governo envolvidas, mas sim da pressão da maioria da sociedade.

Nesse sentido, as imagens de milhares de cidadãos limpando as praias nordestinas na ausência do governo federal é um indicativo de que as pessoas não estão simplesmente esperando sentadas pelo pior.  Se isso não chega a resolver as questões centrais, ao menos temos um indicativo do caminho a seguir. Resta saber quem vai querer ou poder galvanizar a energia social existente para se contrapor ao desmanche em curso.

Exposição da Jaguar Parade em São Paulo

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A Jaguar Parade – intervenção artística urbana que reúne obras de onças-pintadas estilizadas – vai reunir as 90 esculturas nos shoppings da rede Iguatemi (Market Place, JK Iguatemi, Iguatemi SP e Pátio Higienópolis) a partir do dia 27 de setembro.

O projeto será a maior exposição a céu aberto da história de São Paulo e tem como objetivo chamar a atenção para a degradação da fauna silvestre do país, em especial da onça-pintada, que corre risco de extinção. Segundo o ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade -, essa espécie é classificada como vulnerável no Brasil. Porém, em alguns biomas como a Mata Atlântica, a espécie é considerada como criticamente ameaçada, pois existem menos de 300 indivíduos em toda sua extensão.

No dia 25 de outubro, as peças ganharão as ruas e praças da capital paulista.

Jaguar Parade

Serviço:

Jaguar Parade

Data: de 27 de setembro a 23 de novembro

Local: Shoppings da Rede Iguatemi (Market Place, JK Iguatemi, Iguatemi SP e Pátio Higienópolis)

Cronograma completo com os artistas: jaguarparade.com/pinturas/

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Informações à Imprensa – Index Assessoria

Erika Sena – erika@indexconectada.com.br