MAM Nacional: CBA e Grupo Votorantim atuam para enganar comunidades na Serra do Brigadeiro

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Este vídeo não existe

 

Processo judicial movido contra o blog por postagens sobre o conflito da mineração em Belisário não prospera

No dia 20 de Fevereiro publiquei a postagem intitulada “Conflitos da mineração em MG: religioso sofre ameaça para abandonar organização da resistência popular em Belisário”  (Aqui!), onde trouxe ao conhecimento público a ameaça de morte realizada contra o Frei Gilberto Teixeira por causa de seu papel de organizador da resistência da comunidade local ao proposto processo de expansão da mineração de bauxita no Distrito de Belisário, que faz parte do município de Muriaé (MG).

Pois bem,  já no dia 02 de Março, postei novo material sobre o conflito em Belisário, agora para informar do recebimento de uma notificação extra-judicial que foi enviada ao endereço do blog pelo prestigioso escritório de advocacia sediado na cidade de São Paulo, “Moraes Pitombo Advogados”, o qual se apresentou como representante legal da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA). Nessa notificação extra-judicial foi apresentada a demanda para que fosse feita a remoção da referida postagem “sob pena de adoção de medidas judiciais cabiveis” (Aqui!). E para tanto, me foi dado o prazo de 24 horas. Como entendi que nada havia feito além de informar a ocorrência de um fato, lamentável é preciso que se frise, não atendi aos  termos da referida notificação extra-judicial.

Depois disso, ainda voltei a tratar dos desdobramentos da ameaça realizada contra o Frei Gilberto Teixeira em diversas postagens (Aqui!Aqui!Aqui! e Aqui!).

O que eu desconhecia até a manhã desta 5a. feira (25/05) é que já no dia 03 de Março, o escritório de advocacia  “Moraes Pitombo Advogados” havia dado entrado no Fórum de Campos dos Goytacazes com um processo em que requeria tutela de urgência para remoção da postagem feita no dia 20 de Fevereiro e de um outra sob pena de multa diária de R$ 5.000,00, e ainda atribuía à causa o valor de R$ 50.000,00! (Processo 0005264-58.2017.8.19.0014 (Aqui!).

Agora, vem a parte interessante desse caso. É que em decisão publicada no dia 16 de Maio, o juiz responsável pelo caso indeferiu o pedido feito pelos representantes legais da CBA por entender em minha postagem eu havia apenas informado acerca da ameaça de morte realizada contra o Frei Gilberto, e não de violar a imagem da CBA (ver texto completo abaixo).

caso 1

A decisão do juiz parece ter sido bastante impactante, já que teve como desdobramento prática a desistência dos advogados da CBA em relação ao processo iniciado contra mim, sendo que, já no dia 17 de Maio, o caso foi considerado como transitado em julgado e colocado em processo de arquivamento (ver sentença abaixo).

caso 3

Findo este processo,  os leitores podem ficar certos que blog que ele continuará sendo um espaço dedicado a jogar luz sobre fatos e situações que considere pertinentes, independente da possibilidade de desagradarem determinados interesses.  Além disso, ao contrário do que possa ser afirmado, este blog sempre observa com rigor a qualidade do que é apresentado por suas fontes antes de publicar uma postagem.   Talvez por isso é que o juiz responsável pelo caso chegou à decisão que chegou. E sigamos em frente!

Conflito da mineração em Belisário: a ameaça que aqueceu a resistência

 

belisario

Desde o dia 20 de Fevereiro venho dando informações neste blog sobre o conflito socioambiental em curso no distrito de Belisário que pertence ao município de Muriaé. Desde então, foi possível observar que a ameaça realizada ao Frei Gilberto Teixeira desembocou num processo de reaquecimento da disposição de resistir ao avanço da mineração de bauxita dentro e no entorno do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro.

Abaixo posto dois vídeos que foram produzidos pelo jornalista Silvan Alves e que estão disponíveis no canal que ele possui no Youtube.  O que surge dessas imagens é uma clara demonstração de que se  ameaça de morte ao Frei Gilberto tinha o objetivo de silencia-lo e diminuir o nível de resistência da comunidade local, o efeito que a mesma teve foi exatamente o contrário.

Caminhada em Defesa das Águas e Contra a Mineração em Belisário

Conflito da mineração em Belisário: jornal O Globo faz ampla matéria sobre o caso

As ameaças de morte ao Frei Gilberto Teixeira, um dos líderes da resistência contra a extração de bauxita no Distrito de Belisário, Muriáe (MG), e que foram noticiadas inicialmente neste blog no dia 20 de Fevereiro deste ano (Aqui!) motivaram até o envio de uma notificação extra-judicial  contra mim pelos representantes legais da Companhia Brasileira do Alumínio (CBA) que exigiam que eu retirasse a citação à empresa da postagem (Aqui!).

Pois bem, como eu já havia comentado, quem arquitetou as ameaças de morte contra o Frei Gilberto deu um verdadeiro tiro pela culatra. É que no dia de hoje, o jornal “O GLOBO” publicou uma extensa matéria mostrando os vários ângulos do conflito em curso em Belisário, ouvindo não apenas o Frei Gilberto, mas também outros atores como o próprio prefeito de Muriaé (Aqui!).

A matéria ainda confirma a informação dada neste blog sobre a eleição da CBA para o Conselho Consultivo do Parque Estadual da Serra da Brigadeiro  (Aqui!) e salienta que este fato serviu para acirrar os ânimos a área do conflito.

Abaixo posto a íntegra da matéria assinada pela jornalista Fernanda Krakovics, e aproveito para notar o papel essencial que os colaboradores deste blog que enviaram informações que agora estão sendo confirmadas pelo “O GLOBO”. E a coisa é simples assim: blog que tem bons colaboradores não morre pagão, nem teme notificação extra-judicial.

 

Exploração de minério enfrenta resistência de moradores em distrito de Minas

Frade franciscano diz que foi ameaçado de morte

POR FERNANDA KRAKOVICS

Controvérsia. Moradores de Belisário resistem à mineração por temer impactos ambientais e na produção agrícola; mineradora diz que não há risco – Mônica Imbuzeiro

BELISÁRIO – Uma controvérsia sobre a exploração de minas de bauxita, matéria-prima para a produção de alumínio, se agravou no último mês em Belisário, distrito de Muriaé (MG), na Zona da Mata mineira. O frade franciscano Gilberto Teixeira, administrador da paróquia local, procurou a polícia afirmando que foi ameaçado de morte por tentar impedir o início da mineração. A extração do minério enfrenta resistência de moradores, que temem o impacto ambiental na produção agrícola.

A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), empresa do grupo Votorantim, já extrai bauxita em cidades vizinhas e tem os direitos minerários, concedidos pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), para fazer o mesmo em Belisário. A CBA afirmou, no entanto, que não tem planos de minerar nesse distrito de Muriaé nos próximos cinco anos, e que ainda não deu início ao processo de licenciamento.

 Uma manifestação contra a mineração em Belisário foi realizada no final de outubro e, em novembro, os ânimos se acirraram com a eleição da CBA para compor o conselho consultivo do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, unidade de conservação que fica na região.

Uma das lideranças do movimento de resistência à mineração, frei Gilberto disse que foi empurrado para dentro da casa paroquial por um homem armado na manhã do dia 19 de fevereiro, após celebrar a missa dominical na igreja matriz de Belisário. O caso foi registrado em boletim de ocorrência na 32ª delegacia de polícia civil de Muriaé, que abriu um inquérito.

— Ele estava com uma arma na cintura (um revólver) e falou assim: “Hoje é só um aviso que eu vim te dar, pode ficar tranquilo”. Ele começou dizendo que eu estava falando muito sobre mineração e que eu devia falar menos sobre esse assunto — disse frei Gilberto.

O frade afirmou que não conhece o homem que o ameaçou e que não tem elementos para acusar alguém de tê-lo contratado:

— Não posso dizer que foi a CBA que mandou alguém aqui. Não tenho provas. O que posso afirmar é que a ameaça está ligada à atividade minerária. Pode ser alguém da própria região interessado em que a mineradora chegue.

A CBA paga aos donos dos terrenos para extrair a bauxita, e o contrato prevê a recuperação da terra no fim do processo. A empresa ainda não começou a negociar o arrendamento das propriedades em Belisário.

Quatro dias após a suposta ameaça, a diocese de Leopoldina, que abrange Belisário, divulgou nota de apoio a frei Gilberto. O documento cita o assassinato, em 2005, em Anapu (PA), da missionária norte-americana Dorothy Stang, que defendia os direitos de pequenos produtores rurais.

“Frei Gilberto, em sua função missionária, como deve ser, vem prestando assistência e apoio aos pequenos agricultores de sua comunidade, na luta contra a espoliação de suas terras e a degradação das áreas de lavouras familiares. Em nosso país, como temos assistido com muita dor, os ditos ‘grandes empreendimentos’ não suportam argumentação que contrarie seus planos, sabedores de que sempre sairão vitoriosos. Pelo que, ignoram qualquer bem-estar ou direito dos fracos. Se entender necessário, desprezam até mesmo a vida humana dos contraditores. Irmã Dorothy é uma das nossas mais recentes e dolorosas memórias”, diz trecho da nota, assinada pelo bispo de Leopoldina, dom José Eudes Campos do Nascimento, e pelo chanceler do bispado, Pedro Lopes Lima.

Frei Gilberto solicitou, anteontem, sua inclusão no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do governo de Minas.

Gerente das unidades da CBA na Zona da Mata, Christian de Andrade lamentou o envolvimento do nome da empresa no episódio da suposta ameaça:

— Como membro da comunidade que somos, estamos operando aqui (na região) já há algum tempo, e nos solidarizamos com o frei Gilberto, mas ao mesmo tempo ficamos incomodados com o envolvimento do nosso nome neste caso.

A principal atividade econômica de Belisário é a agricultura familiar, sobretudo plantação de café. O distrito, que tem cerca de 2.500 habitantes, fica no entorno do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro.

— Não dá para conciliar atividade minerária e agricultura familiar. Por mais que eles falem que depois eles recuperam, a gente tem visto nas áreas que já foram mineradas que a terra fica muito empobrecida. E agride de maneira especial a produção de água. Boa parte da água que é consumida em Muriaé e nas cidades aí para baixo vem daqui. Temos um grande número de nascentes — diz frei Gilberto.

A CBA contesta e diz que não há riscos:

— A mineração de bauxita, aqui na Zona da Mata, é extremamente simples e altamente sustentável, pelas características do minério na região e pelo nível de desenvolvimento que a gente teve das nossas técnicas. São minas extremamente pequenas, corpos pontuais. A lavra é muito rápida, e o processo de reabilitação inicia assim que o processo de lavra é concluído. Rapidamente o proprietário rural está produzindo novamente na área que foi minerada — afirma o gerente das unidades da mineradora na Zona da Mata.

Segundo ele, a CBA devolve as terras em melhores condições do que antes:

— Nós temos uma terra que já passou por vários processos de produção rural aqui na região. Como a gente entra com tecnologia, correção do solo, estruturas de drenagem, técnicas que às vezes o produtor rural não tem conhecimento ou não tem recurso financeiro para investir, a gente entrega a área melhor, de maior produtividade.

Histórico ruim

Apesar de ter dito que não ia se posicionar sobre a exploração de bauxita em Belisário, o prefeito de Muriaé, Ioannis Grammatikopoulos (DEM), conhecido como Grego, afirmou que a cidade não tem boas lembranças da mineração:

— Muriaé tem um histórico ruim, o estouro da barragem do Consórcio Miraí, em 2007, que assolou nossa cidade. Eu tenho certeza que isso pesa muito na opinião pública de todos os muriaeenses.

O rompimento de um dique da mineradora Rio Pomba Cataguases Ltda, em Miraí (MG), cidade vizinha de Muriaé, provocou o vazamento de pelo menos dois milhões de metros cúbicos (dois bilhões de litros) de lama misturada com bauxita e sulfato de alumínio no Rio Muriaé, um dos afluentes do Paraíba do Sul, em janeiro de 2007.

O prefeito também ressaltou que há restrições para a mineração em Belisário, porque há áreas de proteção ambiental, e defendeu que o distrito se torne um “santuário”.

Inicialmente, Grego disse que não daria opinião sobre a controvérsia porque não cabe à prefeitura, e sim aos governos estadual e federal, o processo de autorização para a mineração. Ele disse ainda que não há perspectiva de a extração de bauxita em Belisário começar no seu mandato e, por isso, não teria por que se meter no assunto.

Potencial turístico

Meeiro em uma propriedade que produz café em Belisário, Norival Oliveira disse ser contrário à mineração:

— A maioria é contra (a mineração). Mas eles (CBA) acham que, se comprar o terreno de uma pessoa, os que estão em volta vão acabar querendo também. Acredito mais em ganhar dinheiro futuramente com a parte turística.

O Pico do Itajuru, um dos pontos turísticos de Muriaé, fica em Belisário. O distrito também tem diversas cachoeiras.

Já Carlos Alberto de Freitas, criador de gado de corte também em Belisário, defende a extração de bauxita no local:

— Isso é o progresso, não tem como barrar. E depois eles recuperam tudo. Eles pesquisaram aqui há 25 anos. Na época, as pessoas foram a favor, ganharam dinheiro para fazer a cova (deixar pesquisar no terreno). Agora estão influenciadas, mas na hora ficam a favor por causa do dinheiro.

FONTE:  http://oglobo.globo.com/brasil/exploracao-de-minerio-enfrenta-resistencia-de-moradores-em-distrito-de-minas-21083328#ixzz4bmW92lM5

Conflitos da mineração em MG: religioso sofre ameaça para abandonar organização da resistência popular em Belisário

Em 31 de Outubro de 2016 abordei neste blog (Aqui!) um conflito que estava ocorrendo no Distrito de Belisário, que faz parte do município mineiro de Muriaé, por causa das disputas envolvendo a população e a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA). Pois bem, hoje recebi o relato abaixo de um morador que traz uma denúncia preocupante sobre ameaças que estariam sendo cometidas contra lideranças comunitárias.  Essa denúncia é especialmente preocupante no atual quadro de precarização da legislação ambiental e perseguição a ativistas ambientais que está ocorrendo não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina.

Eis o relato:

Ontem, dia 19 de fevereiro, por volta das 11.30 da manhã, o pároco local do Distrito Belisário, o Frei Gilberto Teixeira, foi abordado por um pistoleiro ao sair da casa paroquial  onde atendia seus párocos.  foi surpreendido pela visita de um homem armado De forma contínua, o pistoleiro afirmou que estava ali apenas para dar um aviso, mas que o Frei Gilberto deveria tomar cuidado, pois na próxima vez ele iria agir.

Segundo o pistoleiro, o frei, que é uma liderança local no processo de resistência contra o avanço da mineração de bauxita em unidades de conservação existente em Belisário, “estaria falando demais sobre a mineradora em suas missas e campanhas“. O pistoleiro também disse que o Frei Gilberto “também estaria sendo seguido, e soube descrever a sua agenda semanal com detalhes, inclusive as casas onde o religioso havia passado a noite em viagens a outros municípios, como Ouro Preto e Contagem”. Essas informações não estão disponíveis em suas redes sociais. O pistoleiro também exigiu o celular do Frei Gilberto  que não estava com ele no momento. Depois de  fazer uma revista pessoal, o pistoleiro ainda ameaçou assassinar o Frei Gilberto caso  ele deixasse a sala antes de 15 minutos.

Um detalhe que ilustra a gravidade da situação em Belisário é que no dia anterior houve  uma reunião para discutir a Campanha da Fraternidade de 2017. O tema deste ano está relacionado aos Biomas brasileiros, sendo que a Diocese de Leopoldina escolheu o Distrito de Belisário para representar a zona da Mata Mineira, em parceria com biólogos e ativistas ambientais. Na reunião foi abordado o tema da mineração e o pistoleiro que visitou Frei Gilberto soube descrever com detalhes o que havia passado durante esse encontro. 

Há que se notar que este tipo de ameaça já aconteceu antes, pois faz alguns meses, o agricultor Carlos Alberto de Oliveira, conhecido popularmente como Pavão, outra liderança da resistência à ampliação mineração na região de Belisário, já havia sido vítima de ameaça ao sair de uma reunião que tinha como foco a organização da resistência ao avanço das atividades de mineração no entorno do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB). Naquela ocasião, um desconhecido informou a Pavão que era melhor ele tomar cuidado, pois poderia facilmente morrer ao andar sozinho de moto à noite depois de reuniões como aquela.

Em tempo, a empresa que tem interesse em ampliar as atividades de extração de bauxita no Distrito de Belisário é a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) que até meados de 2016 fazia parte do Grupo Votorantim (Aqui!).