Observei recentemente neste espaço a minha estranheza em relação a uma visita da reitora da Universidade Estadual do Norte Fluminense, professora Rosana Rodrigues, ao gabinete do deputado federal Lindbergh Farias em Brasília. É que diante do papel de dirigente de uma universidade estadual, a reitora da Uenf deveria saber que visitar um dos principais adversários políticos do governador Claúdio Castro não resultará na boa vontade deste com as muitas demandas que ela tem para apresentar, a começar pela aprovação do Plano de Cargo de Vencimentos (PCV) da Uenf.
Eis que hoje, um dos dirigentes do sindicato que representa os interesses dos servidores técnico-admnistrativos da Uenf divulgou imagens do que seria a cerimônia de filiação da reitora Rosana Rodrigues (ver imagem abaixo).

Essa filiação é inusitada, na medida em que os professores da Uenf possuem sindicato próprio, a Aduenf, e a reitora, ao que me consta, é filiada. Assim, ao se filiar a outro sindicato que representa outra categoria dentro da Uenf, a reitora cria uma situação sui generis de possu ir uma dupla filiação sindical. Isso até segunda ordem não está previsto na legislação trabalhista, até porque é uma situação tão bizarra que nem os mais visionário dos legisladores poderia ter previsto este caso. Até aqui, resta saber o que vai pensar o Andes-SN, sindicato nacional que representa os interesses dos professores universitários em nível nacional.
Mas essa repentina volúpia de adesão sindical da reitora da Uenf me surpreenda pela trajetória dela dentro desde a formalização da Aduenf em 1999. É que tendo sido presidente e vice-presidente da Aduenf por duas vezes em cada posto, eu raramente vi a reitora presente em nossas assembleias. Aliás, nas poucas vezes que a professora Rosana Rodrigues se fez notar em assembleias, ela apenas apareceu para votar pelo fim de greves que eram mais do que justas, as quais foram responsáveis pelos principais avanços que conseguimos em nossos direitos trabalhistas a partir de 1999.
Uma peculiariedade relacionada ao Sintuperj/Uenf é um dos seus principais diretores é, ao que me consta, pré-candidato a vereador pelo PT, o mesmo do deputado Lindbergh Farias. Com isso, a reitora estaria dobrando a sua aposta na “Melô do Marinheiro”, pois comete a pouco sábia atitude de se vincular novamente a um partido de oposição em uma situação política muito complexa que o estado do Rio de Janeiro atravessa neste momento.
A verdade é que ao dobrar essa aposta, a reitora da Uenf mostra um grau de incompreensão formidável em relação ao seu papel de reitora de uma universidade pública localizada no interior do estado. Com essa adesão ela pode ter complicado não apenas a situação do trâmite do novo PCV, mas fechado outras portas importantes no governo estadual. Ou será que Cláudio Castro já adiantou a ela que está se mudando de mala e cuia para o PT? Se for isso, tiro o chapéu para a professora Rosana Rodrigues. Se não for, me parece urgente que ela nomeie uma versão uenfiana do “ministro do vai dar merda” que foi criado e eternizado por Chico Buarque.
E antes que eu me esqueça, uma história de bastidores. Na última vez em que fui presidente da Aduenf, o governo estadual estava com uma ideia maluca de unificar os salários da Uenf e da Uerj. O mentor da ideia era o vice-reitor da Uerj, João Regazzi Gerki que, na época, ocupava um cargo importante na Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia. Em um final de reunião com a diretoria da Aduenf na Secti, João Regazzi me confabulou a ideia e propôs a realização de uma reunião apenas com os sindicatos das universidades. Intrigado com o convite, perguntei a Regazzi se ele não iria falar primeiro com os reitores. Ele rapidamente retrucou que não porque reitores, segundo Regazzi, eram patrões que não mandavam e ele queria falar direto com quem mandava, os sindicatos. O fato é que mandando ou não, os reitores exercem o papel semelhante a de um patrão dentro das universidades. Assim, levando em conta o que me disse João Regazzi, o que dizer de uma reitora que se filia a um sindicato no início de um mandato que vai até 2027?















