Em carta à editores da Nature, Jeffrey Beall conclama ação coletiva contra os jornais de trash science

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Em uma dura carta publicada nesta 5a. feira (16/06) (ver imagem abaixo) na seção “Letter to the editor” de uma das principais revistas do mundo, a Nature, o professor Jeffrey Beall da University of Colorado-Denver demanda uma ação clara contra as revistas que publicam “trash science” (que ele chama de predatórias) (Aqui!).

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Em linhas gerais, o que Jeffrey Beall aponta é que as revistas predatórias estão ameaçando a credibilidade da ciência ao fingir ou negligenciar a realização de uma séria revisão de suas publicações por outros cientistas que não os autores (o chamado processo de peer review).   Beall aponta em sua carta que, ao ignorar a avaliação rigorosa por pares, as revistas predatórias estão poluindo a literatura científica com informações periféricas ou mesmo com simplesmente lixo científico.

Mas em sua carta aos editores da Nature, o prof. Beall vai além da mera denúncia quando insta as instituições de ensino superior a que parem de utilizar o número de artigos científicos publicados como uma medida de desempenho acadêmico. Além disso, Beall argumenta que pesquisadores e revistas científicas sérias não deveriam mais citar artigos oriundos de revistas envolvidas na publicação de “trash science“, e bibliotecas de universidades deveriam excluir as revistas científicas de suas bases de metadados. 

Entretanto, Jeffrey Beall também cobra ações claras de empresas que ofereçam serviços à editoras científicas no sentido de que parem de se relacionar com revistas de “trash science“.  As cobranças de Beall pela eliminação de editoras e revistas predatórias envolvidas na publicação de “trash science” atingem até gigantes do setor de referenciamento como a Scopus, a Web of Science da Thomson Reuters, e o US National Center for Biotechnology Information.

Uma cobrança final do prof. Beall é dirigida aos defensores das publicações de acesso aberto. Para Beall, esses defensores deveriam parar de fingir que o modelo de acesso aberto baseado na regra de ouro do “autor paga, revista publica” está totalmente livre de sérios problemas estruturais de longa duração.

Como alguém que vem acompanhando a questão dos impactos do “trash science“, penso que o prof. Jeffrey Beall está prestando um grande serviço à ciência mundial, e em especial à de países como o Brasil, onde a construção de uma vigorosa comunidade científica ainda está engatinhando. Particularmente ara mim, a ditadura oficializada da quantidade sobre a qualidade serve apenas para a criação de uma casta de tigres de papel cuja serventia ao avanço da ciência é basicamente nenhuma. Além disso, a negligência em rejeitar a premiação de autores “trash science” está criando sérias distorções não apenas na distribuição de verbas públicas para a pesquisa científica, mas também a realização de concursos públicos para professores nas universidades públicas. Com isso, o que temos é a possibilidade de um gigantesco salto para o passado que já está causando graves danos à ciência brasileira.

Lamentavelmente no caso brasileiro esse importante alerta do prof. Jeffrey Beall chega num momento de desarranjo da sistema científico nacional como resultado da dissolução do Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Em função disso, é bem provável que as medidas cirúrgicas que Beall sugere caiam em ouvidos completamente surdos.  Os pesquisadores brasileiros que vem turbinando seus CVs Lattes com lixo científico agradecem!

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