Conflito da mineração em Belisário (MG): ameaça de morte a religioso resulta em nota assinada por 73 entidades

A ameaça de morte a um religioso que atua no distrito de Belisário, muncipío de Muriáe (M), que foi noticiada por mim na última 2a. feira (20/02) (Aqui!) está gerando várias repercussões importantes. A primeira foi uma nota da Diocese de Leopoldina a qual o Frei Gilberto Teixeira está ligado (Aqui!) e ainda nesta 6a. feira uma nota assinada por 73 entidades que repudiam de forma clara à ameaça cometida contra ele por seu envolvimento na organização comunitária contra o avanço da mineração em Belisário.

Ao que parece se a intenção foi coagir e calar a luta popular em Belisário, desculpem-me o trocadilho, o tiro saiu devidamente pela culatra.

E, mais uma vez, quero expressar toda a minha solidariedade ao Frei Gilberto, pois vivemos uma conjuntura muito complexa, e precisamos de personagens como ele para organizar comunidades  inteiras que estão hoje sob grave pressão em diferentes partes do Brasil.

 

Frei Gilberto é ameaçado de morte e recebe solidariedade de organizações e movimentos sociais de todo país

mam

Mais de 70 organizações, movimentos sociais, populares e sindicais assinam nota em solidariedade ao Frei Gilberto Teixeira que foi ameaçado de morte no último dia 19 de fevereiro, em razão de sua atuação contrária a ampliação dos projetos de mineração de bauxita na da Serra do Brigadeiro em Minas Gerais, distrito de Belisário (Muriaé-MG).

Após a celebração de uma missa, Frei Gilberto, franciscano da Fraternidade Santa Maria dos Anjos e responsável pela Paróquia de Belisário, foi abordado por um homem armado que o ameaçou devido aos seus posicionamentos contrários aos projetos das mineradoras na região.

As organizações signatárias da Nota de Solidariedade repudiam a ameaça e exigem dos órgãos “a garantia de segurança à vida e do direito de lutar pelas causas coletivas. Ao mesmo tempo expressamos nosso total apoio e solidariedade ao companheiro Frei Gilberto e aos sujeitos que se dedicam na luta em defesa do território da Serra do Brigadeiro contra os interesses do capital mineral na região”. Confira a Nota completa abaixo.

A região da Serra do Brigadeiro, situada na Zona da Mata de Minas Gerais, é conhecida nacionalmente por sua rica biodiversidade, amplas áreas preservadas de mata atlântica, belezas naturais e uma agricultura familiar e camponesa consolidada com forte matriz agroecológica. Além disso, a região abriga a segunda maior reserva de bauxita do país, o que despertou, desde a década de 80, o interesse de mineradoras em explorar as jazidas minerais objetivando o lucro sem se importar com as consequências nefastas da mineração na região.

Há 20 anos as comunidades e organizações populares do entorno da Serra do Brigadeiro se mobilizam contrárias aos impactos ambientais e sociais gerados pela mineração de bauxita na região, que tem à frente a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), pertencente ao grupo Votorantim.

Em outubro de 2016, a comunidade de Belisário se manifestou contra a expansão da mineração na região

Nos últimos meses a luta histórica das comunidades se intensificou, principalmente em razão dos projetos que preveem a ampliação da mineração no distrito de Belisário. Essa luta, que é fruto da articulação de vários movimentos, conta com o apoio de Frei Gilberto Teixeira, padre da Paróquia de Belisário.

“O atentado contra o companheiro Frei Gilberto, um padre que se coloca de forma abnegada em defender os direitos das comunidades e construir um projeto justo e sustentável no território da Serra do Brigadeiro, é um sintoma claro de que nossa articulação e lutas contra o capital mineral na região tem avançado de forma acertada. Este episódio, ao invés de nos amedrontar ou enfraquecer, fortalece nossa convicção e certeza de que devemos intensificar a luta pela consolidação da Serra do Brigadeiro como um território livre de mineração”, ressalta Luiz Paulo, da coordenação estadual do MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração, em Minas Gerais.

Em setembro de 2016, a comunidade de Belisário realizou uma Assembleia Popular que debateu os impactos da mineração de bauxita na região, no mês seguinte um ato com a participação de moradores do Distrito reafirmou os anseios da comunidade com a palavra de ordem: Mineração? Aqui Não!

América Latina

A ameaça sofrida por Frei Gilberto Teixeira é retrato do cenário vulnerável das pessoas que atuam em defesa dos direitos humanos. Desde o início de 2017, 14 pessoas defensoras dos direitos humanos foram assassinadas na América Latina. A denúncia é da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos – OEA, que emitiu um comunicado no dia 7 de fevereiro para alertar sobre os números. No informe, a entidade “reitera sua preocupação pelas pessoas defensoras dos direitos à terra e aos recursos naturais, e as pessoas defensoras indígenas e afrodescendentes que continuam enfrentando grandes riscos de violência”.

Por Flávia Quirino/MAM

Nota de solidariedade ao Frei Gilberto e à luta contra a mineração na Serra do Brigadeiro

A região da Serra do Brigadeiro, situada na Zona da Mata de Minas Gerais, é conhecida nacionalmente pela sua rica biodiversidade, amplas áreas preservadas de mata atlântica, belezas naturais e uma agricultura familiar e camponesa consolidada com forte matriz agroecológica. Além disso, a região abriga a segunda maior reserva de bauxita do país, o que despertou, desde a década de 80, o interesse de mineradoras em explorar as jazidas minerais objetivando o lucro sem se importar com as consequências nefastas da mineração na região.

Dentre as mineradoras que atuam na região, a principal delas é a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que no último período tem intensificado a pressão nas comunidades para a expansão do empreendimento e exploração dos territórios. Apesar da CBA utilizar inúmeras estratégias de má fé para enganar as famílias, as comunidades não têm aceitado a possibilidade da perda de seus modos de vida para um projeto de mineração que nada tem a oferecer ao bem-estar social local. Nesse sentido, diversas organizações, entre movimentos populares, sindicatos, pastorais sociais, grupos religiosos, ONG’s e pesquisadores tem atuado conjuntamente na defesa do território, construindo lutas e fazendo resistência aos intentos dos interesses do capital mineral em saquear o território.

No último período, diversas ações foram realizadas na região da Serra do Brigadeiro para denunciar e repudiar a atuação da CBA. Estas ações têm gerado cada vez mais a ampliação da consciência das comunidades locais sobre os impactos e riscos da chegada deste modelo de mineração e ao mesmo tempo gerado também reações de coação às lutas e, até mesmo, ameaças aos sujeitos envolvidos na defesa do território.

No último domingo, dia 19 de fevereiro, o companheiro Frei Gilberto, franciscano da Fraternidade Santa Maria dos Anjos do distrito de Belisário (Muriaé – MG), ao finalizar a celebração da missa de domingo foi covardemente abordado por um pistoleiro armado que o ameaçou devido aos seus posicionamentos contrários aos projetos pretendidos pelas mineradoras. O pistoleiro enfatizou em sua abordagem que naquele momento era só um aviso, mas que, se o Frei Gilberto continuasse atuando junto aos movimentos de resistência e se posicionando contra a mineração ele retornaria para matá-lo. Além da ameaça à vida, o pistoleiro ainda sinalizou que Frei Gilberto está sendo monitorado de perto: forneceu informações sobre todas as viagens recentes e ainda sabia conteúdo da fala do Frei em diversos eventos. O que pode significar que o Frei Gilberto está sendo grampeado e seguido em todas suas ações.

Diante do episódio, manifestamos publicamente o repúdio ao tal acontecimento e exigimos dos órgãos responsáveis a garantia de segurança à vida e do direito de lutar pelas causas coletivas. Ao mesmo tempo expressamos nosso total apoio e solidariedade ao companheiro Frei Gilberto e aos sujeitos que se dedicam na luta em defesa do território da Serra do Brigadeiro contra os interesses do capital mineral na região.

Muriaé – MG, 23 de fevereiro de 2017.

1. Associação Franciscana Santa Maria dos Anjos

2. Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM)

3. Comissão Pastoral da Terra (CPT)

4. Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Miradouro

5. Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Barão do Monte Alto, Rosário de Limeira e Muriaé

6. Associação de Pequenos Agricultores de Miradouro

7. Levante Popular da Juventude

8. Consulta Popular

9. Instituto Universo Cidadão

10. Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)

11. Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST)

12. CRESOL Fervedouro

13. CEIFAR – ZM

14. Comissão de Justiça e Paz

15. Mandato Coletivo e Participativo Deputado Federal Padre João

16. Mandato Deputado Estadual Rogério Correia

17. Mandato Deputado Estadual André Quintão

18. Mandato Vereador de Rosário de Limeira Davi Aparecido de Oliveira

19. Escola Nacional de Energia Popular (ENEP)

20. Movimento Evangélico Popular Eclesial (MEPE)

21. Escola Família Agrícola da Serra do Brigadeiro (EFASB)

22. Escola Família Agrícola Puris

23. Escola Família Agrícola Dom Luciano

24. Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (NACAB)

25. Centro Alternativo de Formação Popular Rosa Fortini

26. Cáritas Diocesana de Leopoldina

27. Comitê Estadual (MG) da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

28. FOMENE

29. Rede SAPOQUI

30. Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Palma

31. Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Patrocínio de Muriaé

32. CASA – Centro de Análise Socioambiental

33. NEA – Núcleo de Estudos em Agroecologia

34. NETTE – Núcleo de Estudos em Educação, Tecnologia e Trabalho

35. Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade (AFES)

36. Intersindical – Central da Classe Trabalhadora

37. Pastoral da Juventude Rural (PJR)

38. Projeto de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens e Mineração (PACAB)

39. CUT – MG

40. Sindute – MG

41. Grupo Rede Congonhas

42. Unaccon – União das Associações Comunitárias de Congonhas

43. Marcelo Leles Romarco de Oliveira, professor Dr. do DER-UFV e Coordenador do projeto de Assessoria a Comunidades Atingidas por Barragens e Mineração-PACAB

44. Programa de Extensão Mineração do OuTro: Programa Marxista de cultura e Crítica Social’

45. Kathiuça Bertollo – Professora da UFOP

46. Fonasc – Fórum Nacional de Solidariedade Civil na Gestão de Bacias Hidrográficas

47. Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia – Sinfrajupe

48. Serviço SVD de Jupic

49. GESTA – Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais – da UFMG

50. GEPSA/UFOP (Grupo de Estudos e Pesquisas Sociambientais da UFOP)

51. Rede Ambiental do Piauí-REAPI

52. REAJA – Rede de Articulação e Justiça Ambiental dos Atingidos Projeto Minas-Rio

53. Brigadas Populares

54. Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular

55. IBEIDS – Instituto brasileiro de Educação Integração e Desenvolvimento Social

56. Observatório dos Conflitos no Campo (OCCA)/UFES

57. Rede Justiça nos Trilhos

58. IBASE

59. Fórum Mudanças Climáticas

60. Justiça Social

61. Comissão Pró-Índio de São Paulo

62. Associação Alternativa Terrazul

63. FBOMS – Fórum Brasileiro de Ongs e Movimentos Sociais para o Meio

64. Rede Igrejas e Mineração

65. Justiça Global

66. Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração

67. Grupo Tortura Nunca Mais (Bahia)

68. CDDH da Serra – ES

69. Sociedade Maranhense de Direitos Humanos – SMDH

70. Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos – CBDDH

71. Justiça Global

72. Inesc – Instituto de Estudos Socioeconômicos

73. Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS)

FONTE: https://www.facebook.com/notes/mam-movimento-pela-soberania-popular-na-minera%C3%A7%C3%A3o/frei-gilberto-%C3%A9-amea%C3%A7ado-de-morte-e-recebe-solidariedade-de-organiza%C3%A7%C3%B5es-e-movim/1480190332023529

2 comentários sobre “Conflito da mineração em Belisário (MG): ameaça de morte a religioso resulta em nota assinada por 73 entidades

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