A execução de Marielle Franco explicita a farsa da intervenção militar no Rio de Janeiro

Vereadora Marielle Franco foi a quinta mais votada das últimas eleições e tinha base na favela da Maré

A  execução sumária da vereadora Marielle Franco (PSOL/RJ) quando saia de uma atividade pública na noite de ontem chocou seus amigos e parentes, pois não havia sobre ela nenhuma ameaça conhecida. O que havia sim era a sua militância política em prol dos pobres, especialmente daqueles que vivem nas favelas da cidade do Rio de Janeiro.

Não conheci Marielle Franco pessoalmente, mas conheço pessoas que conviveram com ela em diversos níveis e tudo o que estou ouvindo agora indica que essa é uma grave perda política, mas também pessoal.  Dentre as muitas qualidades que Marielle Franco carregou em vida estavam a sua disposição para lutar pelos menos favorecidos, mas também a  de ignorar as limitações que foram postas sobre ela mesma por uma sociedade profundamente desigual e marcada por amplas diferenças de oportunidades.

Quem assassinou friamente Marielle Franco certamente já fez isso antes, pois a ação foi de profissionais. Esse profissionalismo indica que não houve nada de acidental na execução de uma parlamentar que vinha exercendo seu mandato nas linhas que havia prometido que faria.  Esse padrão de profissionalismo é marca de uma indústria de extermínios que existe no Rio de Janeiro sob a sombra do Estado e, muitas vezes, sob o comando de quem deveria evitar que isso acontecesse. Basta lembrar a execução da juíza Patrícia Accioly em 2011 quando se descobriu posteriormente que sua morte havia sido planejada e realizada por policiais militares que ela estava julgando.

A morte de Marielle Franco também revela que todo o discurso que justificou a intervenção militar em curso no Rio de Janeiro acaba de ser definitivamente desmascarado. Afinal, se o objetivo da intervenção era coibir a ocorrência de casos de violência, a execução de uma parlamentar deixa evidente que a razão alegada não foi alcançada.

Mais ainda, como se suspeita que a execução de Marielle Franco está associada às denúncias que ela vinha fazendo sobre execuções sumárias em favelas do Rio de Janeiro que estão ocupadas pelas forças armadas e policiais, agora fica ainda mais claro que o único resultado prático desta intervenção tem sido o aumento da violência contra os pobres.

Assim, se o presidente “de facto” Michel Temer pretendia fazer uma jogada de mestre ao determinar a intervenção militar, a morte de Marielle Franco acaba de assegurar que de mestre essa jogada não tem nada. Aliás, tem tudo para ser o Waterloo de Michel Temer.

Aos amigos e companheiros de Marielle Franco, meus pêsames. Luta que segue, pois certamente seria isso que ela nos diria para fazer.

 

2 comentários sobre “A execução de Marielle Franco explicita a farsa da intervenção militar no Rio de Janeiro

  1. Ao calar uma VOZ, ratificam a falsa democracia, enobrecem os que se revestem com lutas sociais em qualquer âmbito… MAS FORTALECEM, acima de tudo, O PODER QUE EMANA de uma NAÇÃO, que NÃO ESTÁ DORMINDO EM BERÇO EXPLÊNDIDO!!! Aguardemos!

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  2. Boa tarde Professor, eu estou achando duas coisas muito estranhas neste caso: uma é o grau de profissionalismo na execução das vítimas e a outra coisa é a repercussão que está dando. Já tem até parlamentar europeu (um idiota em minha opinião) querendo punir o MERCOSUL em razão desta execução (confesso que não entendi o que o tal parlamentar europeu está querendo com isso). Quem dera que houvesse esta repercussão toda em cada morte violenta que acontece no RJ. Sabemos que a mídia não trabalha em prol do povo, então esta repercussão toda tem algum propósito. Ou esta vereadora iria denunciar alguém importante e a mataram antes que o fizesse ou sua morte está servindo (ai entraria a mídia) para tirar a atenção de algo muito grave e importante que está para acontecer. Agora foi noticiado que a munição usada na execução era de um lote comprado pela Polícia Federal. Este caso é muito estranho…

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