
A provável eleição de Jair Bolsonaro para presidir o Brasil traz entre muitas promessas o desmantelamento das estruturas de proteção ambiental visando, supostamente, abrir novos espaços para a agricultura em biomas ameaçados como o Cerrado e a Floresta Amazônica. Mas quem pensa que isso acontecerá sem custos econômicos para o Brasil, de curto a longo prazo, está redondamente enganado, pois se confirmadas as ações para liberar o desmatamento, os produtos brasileiros tenderão a sofrer um forte boicote, especialmente na União Européia. Como os Estados Unidos da América são concorrentes e não parceiros comerciais na área de commodities agrícolas, também se engana que qualquer apoio do governo Trump a esse “liberal geral” vá amenizar os problemas que advirão da política de desmatamento livre, leve e solto.
Um sinal dessa questão é a matéria assinada pelos jornalistas Andres Schipani e Joe Leahy para o “Financial Times” onde eles abordam os problemas causados pelo avanço da fronteira da soja no bioma do Cerrado [1].

A matéria está centrada na prerrogativa apontada pelos diversos atores que foram entrevistados para produzí-la de que já espaço suficiente para ampliar os plantios de soja, sem que haja a necessidade de desmatar ainda mais áreas de florestas. Essa é uma questão óbvia para quem tem um mínimo de conhecimento sobre a relação entre uso e cobertura da terra existente não apenas nas áreas cobertas por cerrado mas também na Amazônia [2].
O fato é que novos desmatamentos podem até ser feitos sob a alegação de que estão necessários para a abertura de novas áreas agrícolas, mas a verdade é que a remoção de áreas florestadas serve aos interesses daqueles que apostam na especulação financeira por meio do controle do ativo terra. Em outras palavras, desmatar é lucrativo porque permite que áreas antes ocupadas por florestas entrem na ciranda financeira.
Entretanto, um ponto que parece ser ignorado pelos dublês de latifundiários e especuladores do mercado financeiro é que já existe uma forte concordância sobre o papel central que a Amazônia e o Cerrado cumpre na regulação hídrica e climática não apenas no continente sul americano, mas em todo o planeta. Em função disso é que ninguém deva se surpreender se o Brasil passar a ser o foco de sanções econômicas e seus produtos agrícolas se tornarem alvos de barreiras cada vez maiores se, de fato, as barreiras de contenção ao avanço do desmatamento forem fragilizadas.
Só à guisa de exemplo, a Holanda foi condenada pela Corte de Haia por não atingir suas próprias metas de redução das emissões de carbono [3]. Imaginemos o que acontecerá com o Brasil se forem confirmadas as notícias de que o Ministério do Meio Ambiente será extinto e o processo de licenciamento ambiental será enviado de volta para a metade do século XX! A questão central é que apesar de toda as eventuais resistências , o processo de responsabilização pela proteção das florestas, por causa da sua importância na regulação climática e hídrica da Terra, é um elemento chave nas decisões econômicas que estão sendo formuladas neste exato momento. Em outras palavras, quem apostar no desmatamento pode estar assinando seu próprio atestado de óbito.
[2] http://www.scielo.br/pdf/aa/v47n1/1809-4392-aa-47-01-00029.pdf
[3] https://www.theguardian.com/environment/2018/may/28/dutch-government-appeals-against-court-ruling-over-emissions-cuts