O anúncio pelo Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia de que estabeleceu uma espécie de período de moratória para a soja brasileira se adaptar aos padrões vigentes para os limites máximos de glifosato parece ter caído em ouvidos mocos no governo Bolsonaro.
É que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou no último dia 23 a atualização anual dos temas que fazem parte da lista de prioridades da agência para definição de regras até 2020. E para este anor etirado da lista de prioridades, o processo de “revisão do regulamento técnico para o ingrediente ativo acefato em decorrência de sua reavaliação toxicológica”.
Como informou a “Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, o “acefato é um componente altamente tóxico usado em agrotóxicos e que pode causar câncer”, segundo a própria Anvisa. Além disso, na nota técnica publicada por ocasião da reavaliação do acefato, a Anvisa estabeleceu que “o potencial carcinogênico do acefato foi avaliado em vários estudos em roedores (ratos e camundongos) e em um estudo em cães” e que “há uma preocupação em relação à exposição crônica à doses baixas aos possíveis efeitos sobre a saúde humana”.
O acefato é um agrotóxico do grupo dos Organofosforados cuja utilização tem sido associado a várias consequências negativas sobre a saúde humana. Em função disso, os organofosforados vem sendo paulatinamente proibidas em várias partes do mundo. O uso acefato já se encontra completamente banido na União Europeia, um dos principais parceiros comerciais do Brasil, onde é fabricado pela Nortox S/A.
Um detalhe a mais é que uma das culturas onde o acefato é mais largamente usAado é justamente a soja, a mesma que está sob o efeito de uma “bandeira vermelha” na Rússia por causa do glifosato. Além disso, como já mostrado pela professora Larissa Bombardi na obra “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia“, o limite brasileiro para resíduos de acefato na soja é três vezes maior do que o aplicado pela União Européia (ver figura abaixo).
Assim, que nenhum grande produtor de soja venha reclamar se barreiras fitossanitárias foram levantadas por causa do amplo uso de agrotóxicos que, como o acefato e glifosato, estão sendo cada vez mais vistos como detrimentais à saúde dos consumidores. É que eles estão sendo repetidamente avisados sobre os riscos de continuarem com seu modelo de agricultura viciada em agrotóxicos perigosos, vários deles banidos no exterior.
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