Uma matéria assinada pelos jornalistas Henry Sanderson e Neil Hume e publicada pelo Financial Times sinaliza que as grandes mineradoras estão tendo que se defrontar com uma situação inédita e que as pressiona para que saiam do seu histórico padrão “sujo” de atividades para um que seja mais sustentável e menos agressivo ao ambiente e aos povos que estejam tradicionalmente nos territórios onde a mineração ocorre.
Essa novidade é que não são governos que repentinamente tenham decidido afrontar as mineradoras em vez de lavar as mãos em relação às consequências negativas que a mineração traz. O que a matéria de Sanderson e Hume traz de novidade é que a pressão sobre as mineradoras está vindo de grupos de investidores que priorizam empresas com melhor gestão ambiental para investir. Assim, quanto pior for o passivo socioambiental das empresas, menor será a atratibilidade que terão para este tipo de investidor.
A matéria aponta ainda que o Tsulama da Vale em Brumadinho acabou piorando ainda o ambiente para a operação da empresa nas bolsas mundiais. Segundo Anderson e Hume, após o colapso das barragens no Córrego do Feijão, a Vale foi imediatamente rebaixada pela Sustainalytics, uma influente agência de classificação focada em métricas de ESG e removida de um importante índice de sustentabilidade no Brasil. Com isso, mais de US $ 13 bilhões foram eliminados pelo valor de mercado da Vale desde o desastre.
Na figura abaixo, o gráfico da extrema esquerda mostra um particularmente revelador do “padrão Vale” de fazer negócios (que é mostrado abaixo) é muito pior em termos de emissões, efluentes e rejeitos do que os praticados pela Anglo American e pela Glencore.
Esse padrão “sujo” até agora compensava, mas com o crescimento exponencial no número de fundos socialmente conscientes está colocando em risco a performance das ações.
A matéria traz uma série de declarações de investidores que refletem as péssimas consequências que os Tsulamas de Mariana e Brumadinho tiveram sobre a imagem da Vale junto a este tipo de investidores. Segundo um deles “eu não me importo com o quão barato isso fica, a Vale agora é ininvestível“, “o fato de haver prédios de escritórios e uma cantina de funcionários nas proximidades da represa é simplesmente imperdoável. É como se nada tivesse sido aprendido com o desastre anterior “.
Como se vê, a Vale como reincidente de Tsulamas agora terá de repensar suas práticas não por causa da “autoregulação” que o governo Bolsonaro quer adotar, mas por causa de uma mudança no perfil de uma parcela diferenciada dos que se interessam por investir em ações. Por isso, qualquer propensão a apoiar a liberação total da poluição no Brasil acabará tendo consequências bem diferentes das pretendidas.
Quem desejar ler a matéria do Financial Times na íntegra, basta clicar [Aqui!].