A ministra da Agricultura Tereza Cristina (DEM/ES) é uma negacionista convicta dos efeitos devastadores que o uso intensivo de agrotóxicos está causando no meio ambiente (solos, águas e animais vivos) e sobre a saúde pública no Brasil. Isso fica evidente pelas declarações que ela deu na na 41ª Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura da FAO que acaba de ocorrer em Roma.
Mas definitivamente Tereza Cristina não nega os múltiplos males trazidos pelos agrotóxicos por falta de conhecimento científico ou de uma farta documentação sobre os diferentes ângulos que o uso dos mais de 2.000 agrotóxicos disponíveis no mercado brasileiro, muitos deles banidos em outras partes do mundo.
Um exemplo de um documento acadêmico com farta documentação sobre as consequências devastadoras dos agrotóxicos sobre a saúde dos brasileiros é o chamado “Dossiê Abrasco: Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde” que foi publicado em 2015 pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva.
Este dossiê traz uma série de relatos e estudos que apresentam dados sobre contaminação de águas e alimentos, bem como de diversos casos de exposição direta de populações inteiras a venenos potentes, os quais causaram efeitos imediatos sobre a saúde dos atingidos. Mas mais do que trazer dados científicos e relatos, o que o Dossiê da Abrasco faz é apresentar um diagnóstico compreensivo dos graves problemas causados pelo vício em agrotóxicos em que a agricultura corporativa brasileira está baseada; além de apontar subsídios para a superação deste modelo ambiental, social e economicamente insustentável.
E é preciso que se precise que a partir de 2015 não apenas apareceram mais evidências sobre os danos em curso por causa do uso de uma multitude de venenos agrícolas, a Abrasco continuou a sua compilação de evidências materiais. Assim, as negativas e a tentativa marota da ministra da Agricultura para desacreditar as evidências de que a agricultura brasileira está afundando no veneno não são resultado de falta de conhecimento científico, mas de desprezo pelo que já rigorosamente documentado pela comunidade de pesquisadores brasileiros.
A verdade é que esse modelo ancorado no veneno só é viável com uma série de benefícios econômicos que aparecem na forma de isenções fiscais, crédito subsidiado e um pesado esforço para apoiar a movimentação da produção oriunda dos grandes latifúndios. Em alguns casos, vendedores de veneno são também fazendeiros (um exemplo recente é o do deputado Luiz Nishimori (PL/PR) que chegou a ocupar a posição de relator do Projeto de Lei 6299 (o famigerado Pacote do Veneno).
É imperioso romper com esse ciclo de benesses que premia um pequeno grupo de pessoas em detrimento do direito da maioria dos brasileiros de consumirem alimentos e água sem venenos, bem como de exercer atividades agrícolas dentro de um modelo que seja sustentável.