Um dos segredos básicos da diplomacia é que se pretende interferir politicamente em um dado país, o pior caminho é atacar frontalmente o adversário que se escolheu para brigar. Essa máxima foi esquecida recentemente pelo presidente Jair Bolsonaro que não só se envolveu na campanha presidencial da Argentina, como também resolveu atacar o resultado da rodada de primárias que ocorreu no final de semana passada. Em palanque no Rio Grande do Sul, o presidente brasileiro previu que se a chapa formada por Alberto Fernández e Cristina Kirchner vencer as eleições presidenciais argentinas que ocorrerão em outubro, o Rio Grande do Sul viraria uma espécie de região de refúgio de refugiados argentinos. De quebra, ainda caracterizou a dupla Fernández-Kirchner de “esquerdalha”.
A resposta de Alberto Fernández não demorou muito a vir e em entrevista quando o candidato presidencial argentina disse celebrar as críticas e a oposição de Jair Bolsonaro, não sem antes aplicar os adjetivos de “racista”, “misógino” e “violento, e ainda provocou o presidente brasileiro a libertar o ex-presidente Lula para que concorram em eleições presidenciais. Fernández disse ainda que, apesar de desejar manter relações comerciais com o Brasil, ele não tem problema em ter problemas com o presidente do Brasil (ver vídeo abaixo).
Como Alberto Fernández tem plenas chances de ser o próximo presidente da Argentina, o clima que está sendo criado durante esse período eleitoral vai tornar difícil a convivência com o principal parceiro comercial brasileiro na América Latina, o que poderá respingar não apenas sobre o Mercosul, mas também em várias outras de alto valor econômico para o Brasil. Se considerarmos a atual situação da economia brasileira, isto cheira a um completo desastre diplomático.
Um aspecto que está presente na fala de Alberto Fernández e que deverá agudizar ainda mais os ataques de Jair Bolsonaro é que o político argentino afirma que “Bolsonaro é um problema conjuntural para o Brasil, tal como Maurício Macri é um problema conjuntural para a Argentina”. Em outras palavras, o destino eleitoral de Bolsonaro poderá ser o mesmo de Maurício Macri.
Enquanto isso, Maurício Macri já deve ter telefonado para Jair Bolsonaro para implorar para que ele se cale em relação ao processo eleitoral argentino. É que se o “apoio” dado nas eleições primárias resultou em uma derrota de 15%, imaginemos o que acontecerá em outubro quando ocorrerão as eleições presidenciais argentinas se o presidente Jair Bolsonaro continuar “apoiando” Maurício Macri.