Governo Bolsonaro asfixia ciência nacional e acelera o avanço para a neocolônia Brasil

C&TCortes feitos no financiamento do CNPq e da CAPES significam a interrupção de pesquisas estratégicas para o Brasil e deverão alimentar a fuga de cérebros.  Tânia Rego/Agência Brasil

Em um país com milhões de desempregados oficiais e outros tantos milhões vivendo de vender doces e salgados em semáforos na maioria das suas cidades, a decisão do governo Bolsonaro de cortar recursos que mantinham milhares de jovens cientistas pode até passar despercebida aos que passam fome e todo tipo de privação. Mas esta decisão que compromete o futuro da nossa capacidade de desenvolvimento econômico com um mínimo de autonomia não deveria passar em brancos por todos aqueles que entendem o papel da ciência e da tecnologia no processo de crescimento econômico.

É que sem ciência e tecnologia produzidas dentro de nossas fronteiras, o Brasil se tornará cada vez mais uma espécie de neocolônia dos países que estão hoje investindo pesadamente no desenvolvimento de sua capacidade de estabelecer novas formas de gerar riqueza sem depredar completamente rios e florestas, como é modelo que o governo Bolsonaro abraça com sofreguidão.

O que os cortes no investimento em ciência e tecnologia significam então é muito mais do que podar os sonhos de jovens pesquisadores que ficarão sem meios de sustento para continuarem dentro de universidades públicas (isso porque perto de 100% da ciência produzida no Brasil ocorre dentro delas) cada vez mais sucateadas e incapacitadas de pagarem sequer suas contas de água e eletricidade.

Gosto sempre de citar a entrevista que dei ao jornal Diário de Notícias que é publicado a partir de Lisboa onde teci um cenário tenebroso para a ciência brasileira com o nosso país sob o comando do presidente Jair Bolsonaro. Olhando em retrospectiva, penso que acertei na maior parte das minhas previsões do que estaríamos vivendo. Mas vejo que subestimei a intensidade do ataque que sofreríamos, e as condições que já estão postos representam quase que um extermínio de nossas instituições universitárias públicas.  Acrescento ainda que sob o impacto da forte recessão que vivemos, as instituições privadas de ensino superior também estão vivendo problemas graves que ameaçam deixar apenas com menor qualidade de portas abertas.

Um desdobramento imediato do ataque do governo Bolsonaro à ciência brasileira será a partida de milhares de jovens e não tão jovens pesquisadores para outras partes do mundo, começando pela Europa e pela América do Norte. É que em função dos investimentos feitos nos últimos 50 anos, o Brasil desenvolveu uma série de áreas da ciência que estão em forte demanda, o que implicará em um processo de recrutamento que nos tirará muita gente capacitada e que rumarão para o exrerior em busca das condições de estabilidade financeira e emocional que todo pesquisador necessita para avançar seus estudos.  Em outras palavras, continuada a atual situação asfixia financeira, o Brasil viverá um intenso processo de “fuga de cérebros” que provavelmente não ocorreu em períodos de exceção como foi a vigência do regime militar instalado em 1964. E com os saem sairão um enorme conhecimento acumulado em áreas como doenças tropicais,  aumento da produtividade agrícolas e novas formas de exploração do petróleo em áreas profundas.

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“A fuga de cérebros aponta o fracasso de um país”

Desta forma, considero que é mais necessário do que nunca que de dentro das universidades e instituições de pesquisa públicas seja iniciado um processo vigoroso de resistência política ao projeto de desmanche que está imposto pelo governo Bolsonaro sob a batuta trôpega de Jair Bolsonaro, Abraham Weintraub e Marcos Pontes. Isso precisa ser feito não apenas em nome das necessidades imediatas dos pesquisadores que tiveram suas bolsas cortadas, mas principalmente o futuro da ciência nacional.  Se nada for feito, a nossa transformação em uma neocolônia será inevitável.

 

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