Coveiros no cemitério Vila Formosa, em São Paulo.AMANDA PEROBELLI / REUTERS
Já comentei aqui o problema da subnotificação que, no Brasil, é um fato recorrente para diversas doenças, inclusive para a pandemia do coronavírus. A subnotificação implica em outro problema igualmente preocupante que é a diferença entre os que efetivamente morreram pela infecção causada pelo COVID-19 e aquilo que os registros oficiais apontam.
Os números atualizados pelo Ministério da Saúde (ver quadro abaixo) apontam que o Brasil teria até este caso, um total de 1.857 casos confirmados e 941 óbtidos atribuídos ao COVID-19, com o estado de São Paulo liderando o placar nacional em ambos os quesitos.
Pois bem, uma reportagem assinada pelo jornalista Carlos Madeiro e publicada pelo site UOL traz a informação que com base nas declarações de óbito registradas nos cartórios, os números oficiais estariam subestimados em cerca de 48%, o que elevaria o número real de mortos pelo COVID-19 para 1.392 óbitos.
Um complicador para que se chegue a números mais precisos para se estimar com maior precisão o número de infectados pelo COVID-19 e os óbitos resultantes é que o Brasil continua aplicando um número irrisório de testes para confirmar se o coronavírus está presente em um determinada pessoa. Nesse caso a relação entre testes realizados/por milhão de pessoas é de 724. Apenas por comparação, no caso da Alemanha esta relação é de 15.730, o que explica não apenas a baixa letalidade que o COVID-19 está causando entre os alemães, mas também o grau de precisão com que a pandemia está sendo acompanhada pelo governo alemão.
O maior problema dessa situação toda é que a maioria da população brasileira fica alijada do acesso a informações mais precisas sobre a gravidade que a pandemia causada pelo COVID-19 já alcançou no Brasil. Com isso, é inevitável que haja um relaxamento nas medidas de isolamento social, o que já pode ser facilmente observado em imagens que circulam nas redes sociais.
Por outro lado, este posição “relax” em relação a um vírus letal é estimulado por ocupantes de diferentes postos de governo, começando pelo presidente da república, passando pela maioria dos governadores e de prefeitos que negam a gravidade da pandemia, preferindo tratá-la com uma gripezinha. O problema é que o COVID-19 não é uma mera gripezinha, e seu grau de letalidade está sendo explicitado com assombrosa didática na população dos Estados Unidos da América.
FPSO Capixaba, da Petrobras, que produz e armazena petróleo no campo de Cachalote, no Parque das Baleias. Crédito: Agência Petrobras
Uma demonstração do que pode estar nos esperando por causa da postura negacionista e negligente de muitos governantes e de parte considerável da classe empresarial brasileira vem de um navio plataforma estacionado entre o sul do Espírito Santo e a região Norte Fluminense (o FPSO Capixaba mostrado acima), onde foram registrados 53 casos de COVID-19 entre os trabalhadores que estavam a bordo.
Imaginemos o que poderá ocorrer quando coronavírus penetrar com força nas áreas mais pobres das nossas regiões metropolitanas? Por isso, há que se rejeitar toda a confusão que ronda os supostos embates dentro do governo Bolsonaro e nos concentrar para aprofundar, e não afrouxar, o isolamento social. Do contrário, será como alertou o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) em entrevista ao jornal “O TEMPO” quando ele disse que: “se a população achar que nossa curva está tranquila, que não vamos ter pico, preparem-se para virar Milão. Para jogar corpo em campo de patinação, como se faz na Espanha, porque não tem caixão para enterrar, ou como se faz no Equador, onde estão jogando caixão nas ruas“. Simples assim!