COVID-19: Os EUA concentram o maior número de contaminados, de mortos e de pacientes em condições críticas
Até por força do fato de morar no Brasil, tenho abordado de forma repetida os efeitos e características da difusão da pandemia da COVID-19 em nosso país, que nesta segunda-feira (27/04) já contabiliza 4.286 óbitos. Entretanto, por mais catastróficas que as tendências no Brasil sejam em relação aos resultados da pandemia, nada do que nos acontecer vai ofuscar o desmoronamento do sistema de saúde dos EUA, que lideram em três quesitos importantes da crise sanitária deflagrada pelo desprezo ao poder letal do novo coronavírus.
É que os EUA são o país com o maior número de pessoas infectadas (32,7% do total global), no número de mortos (26,7% do total) e no número de casos graves (26,3%). Apenas por comparação, a Espanha que é a segunda colocada no número de casos de pessoas infectadas detém 7% do total global, 11% dos mortos, e 13% dos casos graves.
Fossas coletivas estão sendo usadas para enterrar os mortos pela COVID-19 na Ilha de Hart em Nova York
A pergunta que se coloca para muitas pessoas é de como a principal potência econômica e militar da história da Terra conseguiu se tornar o centro desta pandemia, mesmo tendo alguns meses para se preparar a sua chegada em seu próprio território.
Uma primeira e óbvia questão é que nos EUA não há um sistema gratuito de saúde, e o acesso ao sistema privado de saúde se dá pela via dos planos de saúde. Além disso, segundo dados de 2018, um total de 27.9% de estadunidenses abaixo de 64 anos não possuíam qualquer cobertura para obter atendimento de saúde (ver o gráfico abaixo).
E obviamente os não-possuidores de seguro de saúde estão localizados em grupos economicamente fragilizados e que operam em áreas profissionais em que predominam salários que mal lhes garante o ato de comer todos os dias. Estão aí inclusos negros e latinos, mas também um número significativo de trabalhadores brancos que, aliás, são a maioria dos que não possuem seguro de saúde (ver figura abaixo).
Há ainda que se lembrar que a desigualdade de renda nos EUA é uma das maiores dentre os chamados países industrializados, e vem crescendo aceleradamente desde o final da União Soviética. O resultado disso é que os membros do 1% mais afluentes da sociedade estadunidense possuem acesso a todo tipo de luxo, enquanto uma porcentagem crescente está sendo empobrecida de forma galopante, com um número cada vez maior de pessoas sem trabalho e morando nas ruas das principais cidades dos EUA.
O presidente Donald Trump foi um negacionista de primeira hora do impacto do coronavírus nos EUA, e agora paga o preço da sua postura anti-científica
Para completar a equação, não há como deixar de fora a situação política, onde a atuação do presidente Donald Trump foi decisiva para uma piora nas condições de financiamento da pesquisa científica, com seguidos cortes de investimento e a ostracização de cientistas que passaram a ser vistos como inimigos das ideias por detrás do “Make America Great Again“. Para piorar, Trump se apresentou até recentemente com um negacionista da pandemia, e só parece ter acordado para o problema quando ficou evidente que sofreria danos eleitorais se nada fosse feito para conter o número de mortos pela infecção. A partir daí, o que tem sido visto é um percurso errante de Trump, que culminou na sugestão de que as pessoas ingerissem dióxido de cloro (usado em alvejantes) para eliminar o coronavírus.
Como ocorre no Brasil em relação aos “bolsonaristas”, os seguidores de Donald Trump tem sido mobilizados para tentar romper as políticas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos para diminuir a velocidade de difusão do coronavírus. A diferença é que, ao menos por enquanto, nos EUA, a maioria da população vem ignorando as carreatas e manifestações dos seguidores de Trump. Entretanto, isto não tem impedido que governadores mais alinhados ao presidente Donald Trump sinalizem uma abertura precoce do comércio, mesmo em estados em que a difusão do coronavírus ainda está em fase de aceleração, como é o caso da Geórgia.
Seguidores de Donald Trump se mobilizam para acabar com as políticas de isolamento social em diferentes partes dos EUA
Ainda que seja difícil realizar um prognóstico definitivo de como os EUA estarão após o fim da pandemia, já é possível dizer que sairão com a imagem de maior nação do mundo e terra das oportunidades desmoronar de forma inapelável. É que certamente outros países mostrarão que com sistemas públicos de saúde e com políticas de apoio aos trabalhadores desempregados são as principais formas de enfrentamento desta e das outras pandemias que virão.
Finalmente, o economista Nouriel Roubini previu no início de março que a pandemia da COVID-19 levaria a um derrota eleitoral de Donald Trump e a uma recessão de dimensões globais que, em última instância, obrigaria um abandono das políticas neoliberais. A entrevista, quando dada, soou exagerada, mas nesta etapa da pandemia, Roubini parece ter acertado mais uma vez.
É a ganância por dinheiro e o abuso pelo poder. Obama já havia prevenido e tentado mudar o rumo do atendimento às pessoas, com seu famoso ObamaCare, que foi boicotado pelo aprendiz de feiticeiro, Donald Trump.
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