É a crise climática, estúpido!

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Quando James Carville pensou nos motes de campanha de Bill Clinton para a presidência dos EUA em 1992 acabou produzindo uma frase que sintetizaria toda a disputa e se transformaria em um “snowclone” capaz de ser adaptada a qualquer contexto em que se procurava facilitar o entendimento de uma dada situação processo. Falo aqui do “It´s the economy, stupid” (ou em português “é a economia, estúpido”. 

Pois bem, o que se viu na cidade de Petrópolis, região serrana do estado do Rio de Janeiro, poderia ser sintetizada como “é a crise climática, estúpido”.  É que a tempestade de ontem alcançou formidáveis 259.8 mm em um período de apenas 6 horas e trouxe com isso um amplo rastro de destruição que atingiu fortemente a cidade como um todo, mas especialmente áreas ocupadas pela população mais pobre (ver vídeo abaixo).

Antes que alguém venha dizer que chuvas intensas não são novidade na região serrana do Rio de Janeiro, o que aconteceu ontem é fora dos parâmetros até para uma região em que fortes chuvas são comuns, bem como a destruição que elas trazem. Mas olhando para os vídeos que circulam amplamente desde ontem, nas redes sociais e nos veículos da mídia corporativa, não há como deixar de se sentir impactado, pois a força da tempestade e os resultados que a mesma teve são realmente impressionantes (ver vídeo abaixo).

O problema é que não há espaço para surpresa, pois esse tipo de tempestade extrema está previsto em incontáveis artigos científicos e nos diferentes relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).  E o pior é que na falta de ações para deter o aquecimento da atmosfera da Terra, esses eventos tenderão a piorar, causando ainda mais destruição material e perda de vidas humanas.

Entretanto, o que o evento meteorológico extremo ocorrido em Petrópolis deixa claro é que não se está mais no plano puramente do prognóstico sintetizados em tabelas e figuras dos relatórios do IPCC. Temos diante de nós a prova empírica do que significa estar em um mundo afetado por uma forte crise climática. E isto demanda que os governantes brasileiros parem de ignorar o que não pode ser ignorado e comecem a se preocupar com o necessário processo de adaptação climática para que as cenas devastadoras de ontem não sejam apenas um prenúncio de muitos outros desastres que ainda estão por ocorrer.

Um dos problemas que teremos de enfrentar no Brasil é a existência de um governo federal, o de Jair Bolsonaro, e de seus satélites estaduais e municipais que não apenas desprezam o conhecimento científico acerca das mudanças climáticas, mas que agem para piorar a situação ao realizar ações que pioram o status climático do Brasil, a começar pela destruição dos biomas amazônicos e do Cerrado. A presença desse tipo de governante nas esferas de decisão é talvez uma das particularidades especialmente ruins da realidade climática brasileira, pois com este tipo de personagem no poder o caminho para o fundo do precipício é acelerado.

E lembrem  que “é a crise climática, estúpido”. Pense nisso quando for escolher seus candidatos nas eleições de 2022.

Um comentário sobre “É a crise climática, estúpido!

  1. E a crise climática esta dentro de um contexto maior que é a crise do conhecimento e o crescimento do negacionismo.

    Boa parte de nossa sociedade resolveu negar a realidade dos fatos, negar a ciência, negar a tecnologia, negar a educação.

    Cada vez mais, temos uma sociedade que se apega a dogmas e mitos.

    Temos movimentos negacionistas crescentes em várias áreas, o exemplo mais evidente o negacionismo das vacinas, mas não para aí, temos: religiões e igrejas defendendo porte de armas; representantes de comunidades negras negando o racismo; representante das mulheres negando as lutas das mulheres; representantes da cultura negando a cultura; representantes do meio ambiente negando as crises ambientais e incentivando o desmatamento; representantes do judiciário negando investigações, e vários outros exemplos.

    A cada dia que passa, mais e mais consumismo de produtos cada vez menos duráveis, numa conta que não fecha; e continuamos com um projeto neoliberal totalmente fracassado, que nega a realidade e expõe o povo a mais e mais pobreza e miséria.

    O fato concreto é que nosso planeta esta estressado – falta matéria prima e energia para sustentar este sistema de consumo irresponsável.

    Estamos caminhando rapidamente para vários pontos de instabilidade.
    Este evento, em Petrópolis, só mostra que não estamos preparados para o que vem por aí.

    Democracia em crise; sociedade em crise; meio ambiente em crise; sustentabilidade em crise; e negacionismos crescentes.
    Esta conta não fecha!

    E nossa educação – tão falada e apresentada como solução, em que pé está?

    Esta se encontra cada vez mais fragilizada, sem prestígio e sem reconhecimento.

    Professores da UENF, UERJ e outras universidades a vários anos sem reposição das perdas salarias.

    Temos em Macaé um Laboratório de Meteorologia (maiores detalhes aqui https://www.lamet.uenf.br/); Este laboratório está, há vários anos, esperando vagas de professores para que possamos ter, em Macaé, o ciclo básico dos cursos de Engenharia Meteorológica e Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo.
    Algo que já havia sido prometido nos tempos de Garotinho, Cabral, entre outros.

    Mas, como visto, a expansão do conhecimento perdeu vez para o negacionismo crescente;

    A criação de novos cursos e a consolidação dos existentes esta paralisada a anos!
    Projetos aprovados no conselho universitário, como a expansão dos cursos no Campus Macaé, engavetados a anos.

    A expansão das pesquisas nestes temas – que se mostram cada vez mais urgentes, estão praticamente paralisadas. Dezenas de projetos foram simplesmente cancelados nos últimos 3 anos.

    Neste caso específico das chuvas em Petrópolis temos associadas às áreas de geociências(geologia, geofísica, petrofísica), engenharia, meteorologia, produção de energia.

    Mas, infelizmente, os investimentos em educação e pesquisa passam por todo tipo de interesse, menos os interesses de nossa população, que se vê, a cada dia, mais submetida a interesses mesquinhos ou, pior ainda, religiosos.

    Ou nossa sociedade revê seus conceitos e para de negar a realidade, cancelando estes movimentos negacionistas, ou teremos um futuro sombrio pela frente.

    Precisamos retomar a educação, a ciência, tecnologia e a pesquisa científica, como nortes, e isto significa, na prática, investimentos nas instituições de ensino e pesquisa.

    Agora, é trabalhar pela reconstrução de Petrópolis, recompor a vida destas famílias, e criar as condições para uma cidade mais sustentável no longo prazo.

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