Os péssimos resultados de Campos dos Goytacazes no IDEB são apenas a ponta de um imenso iceberg de destruição da educação municipal

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Os péssimos resultados  obtidos, mais uma vez,  por Campos dos Goytacazes na edição de 2022 do chamado Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) são apenas a ponta de um gigante iceberg, e revela que há uma persistente crise estrutural na rede municipal de educação. 

Mas relatos que tenho recebido de pais e profissionais da educação municipal revelam fatos gravíssimos que estão ocorrendo em muitas escolas municipais, onde turmas inteiras estão sem professores e, pior, em edifícios escolares em que inexistem até portas nas salas de aula.

Uma colega que atua na rede estadual de ensino na Baixada Campista me relatou que a capacidade de aprendizagem dos alunos que chegam da rede municipal é tão precária que, em sua escola, um primeiro esforço é realizar um nivelamento para que os jovens estudantes possam ter um mínimo de chance para que possam evoluir dentro do sistema estadual.

A situação, segundo essa mesma colega, chega a ser bizarra, pois na escola municipal que fica ao lado da sua, na maioria do tempo as crianças ficam sem qualquer atividade escolar, na medida em que inexistem professores para dar aula. Com isso, o ambiente da escola serve apenas para que as crianças se alimentem, já que não efetivamente não existe um processo de aprendizagem ocorrendo.

O problema não é falta de dinheiro, mas de projeto de escola

Alguém mais desavisado que o fato de Campos dos Goytacazes estar na rabeira do IDEB no estado do Rio de Janeiro se deve à falta de recursos financeiros por parte da Prefeitura Municipal.  Acontece que Campos dos Goytacazes ainda possui um dos maiores orçamentos municipais do Brasil e, por extensão, de toda a América Latina. Aliás, se olharmos o montante gasto com a educação municipal, veremos que um dos maiores orçamentos de secretarias municipais é o da Educação.

Desta forma, a situação catastrófica em que a educação municipal me faz lembrar da frase lapidar que do  fundador da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), o professor Darcy Ribeiro, caracteriza a crise da educação brasileira. Darcy dizia que  “a crise da educação no Brasil não é uma crise, mas um projeto“.  

Parece óbvio que o projeto identificado  por Darcy Ribeiro visa manter os filhos da classe trabalhadora em condição de completa desigualdade de oportunidades, não me que lhes é negada a possibilidade de uma educação que efetivamente os habilite a se inserir no mercado de trabalho com alguma chance de sucesso.

Ao se negar um ensino minimamente de qualidade às crianças campistas, o que se faz é mantê-las em um ciclo vicioso de pobreza e violência, esta é a mais pura verdade.

O curioso é que vimos em plena pandemia da COVID-19 o Ministério Público Estadual pressionando a Prefeitura de Campos dos Goytacazes a fazer o retorno das aulas, ainda que se colocasse em risco as crianças e suas famílias pela possibilidade de aumento de transmissão do coronavírus.  Mas não vejo movimento semelhante para cobrar que as crianças tenham professores e ambientes escolares que lhes ofereça mais do que o pouco sendo oferecido neste momento.

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