Uma das principais características do período em que o presidente eleito, Luís Inácio Lula da Silva, governou o Brasil por dois mandatos foi a sua quase profissão de fé em torno da criação de um país “sem classes sociais”, pois supostamente o que buscava era cumprir uma fórmula onde todos ganhariam. Entretanto, o que se viu após o fim do último ciclo virtuoso das commodities que embalou Lula e seus governos foi não apenas o rompimento da aliança que deu sustentação aos governos do PT, mas uma opção das elites brasileiras por uma agudização dos ataques aos direitos dos trabalhadores, e que culminou na eleição de Jair Bolsonaro em 2018.
A clara ação de segmentos das elites brasileiras não apenas para tentar eleger Jair Bolsonaro, mas também para promover um golpe militar em face de sua derrota aponta claramente para uma aposta no confronto direto com o novo governo Lula. Essa indisposição para o apaziguamento ficou evidente nos bloqueios das estradas onde a categoria dos caminhoneiros foi usada como bucha de canhão dos donos de transportadoras, estes sim interessados em reverter os resultados das urnas, como sugerem relatos surgidos na imprensa.
A essa indisposição de segmentos que se beneficiaram das regressões perpetradas pelos governos Temer e Bolsonaro de se apaziguarem com Lula é acrescida a movimentação de segmentos minoritários, porém claramente mobilizados, da população brasileira que se sentem contemplados pelo modelo de organização econômica ultraneoliberal. Esses segmentos, apesar de minoritários, certamente se manterão em movimento, mesmo porque não há ganho aparente em se retirarem calmamente da cena política, por mais bizarras que sejam suas posições.
Aos brasileiros que, como eu, votaram em Lula sem ter ilusões com seu futuro governo resta investir em esforços que retirem segmentos da classe trabalhadora das garras da extrema-direita. É que sem esses segmentos da classe trabalhadora, os elementos mais radicalizados da extrema-direita só terão a si mesmos para continuarem em cena, e sozinhos seu impacto na vida política será o que foi historicamente no Brasil, qual seja, praticamente nulo.
E para quem desejaria voltar a um cenário de hipotética harmonia (a qual realmente nunca existiu no Brasil), quanto mais rápido se reconhecer que a luta de classes está aqui para ficar melhor será. Afinal, se tivemos o risco da manutenção da extrema-direita no poder, isto se deve em grande parte à falta de entendimento da dinâmica política que estamos vivendo não apenas em nosso país, mas em todo o mundo. E se eu aprendi algo na vida é que a luta de classes não perdoa os ingênuos e desorganizados.