Dados de desmatamento branqueados: relatos de redução da perda de floresta tropical no Brasil são enganosos

.A degradação florestal explodiu na Amazônia em 2024 

Serraria clandestina na região de Porto Velho, no estado brasileiro de Rondônia, em 6 de fevereiro

Por Norbert Suchanek para o “JungeWelt”

A história de sucesso “Menos Desmatamento no Brasil!” recebeu ampla cobertura da mídia em maio passado, inclusive na Alemanha. Tanto o governo brasileiro quanto a Mapbiomas, rede de pesquisa que monitora os ecossistemas do país, confirmaram uma queda significativa no desmatamento na Amazônia no ano passado. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 30,6% menos floresta tropical foi destruída em 2024 do que em 2023, enquanto a Mapbiomas calculou uma redução de 16,8% em seu relatório anual de desmatamento (RAD). No entanto, dados sobre perda florestal do renomado World Resources Institute (WRI), também publicados em maio, indicam exatamente o oposto: a floresta amazônica brasileira registrou sua maior perda florestal em 2024 desde o recorde de 2016. Cerca de 110% a mais de desmatamento do que em 2023. A região amazônica perdeu 2,82 milhões de hectares de floresta tropical primária no ano passado, em comparação com “apenas” 1,14 milhão de hectares perdidos em 2023, de acordo com o WRI.

O INPE, por outro lado, estima 628.800 hectares de destruição da floresta tropical em 2024, em comparação com 906.400 hectares no ano anterior. Os menores números de desmatamento foram calculados pelo Mapbiomas, uma rede não governamental de universidades, organizações ambientais e empresas de tecnologia. Segundo o relatório, a área desmatada na Amazônia caiu de 454.230 hectares em 2023 para 377.708 hectares no ano passado.

Então, quem está certo? Os números do WRI são do Laboratório Global de Análise e Descoberta de Terras da Universidade de Maryland (UMD). Tanto o INPE quanto o Mapbiomas, assim como a UMD, coletaram os dados de desmatamento usando imagens de satélite, mas com diferentes métodos de análise e limitações do sistema.

A base de dados varia

O INPE avalia os dados usando seu sistema de monitoramento florestal Prodes. Este sistema registra cortes rasos maiores que 6,25 hectares. Os pesquisadores da UMD, por outro lado, consideram o desmatamento tão pequeno quanto 0,09 hectares e também registram perdas devido ao fogo , que o Prodes não inclui. No ano passado, de acordo com o WRI, 60% da destruição florestal foi causada pelo fogo. Devido a uma seca intensa e prolongada na Amazônia, os incêndios, que geralmente são iniciados por humanos, destruíram mais área florestal do que em outros anos. E quando mais área queima, menos floresta tem que ser desmatada com motosserras para expandir pastagens de gado ou campos de soja.

Outra diferença importante é o período de avaliação. Enquanto o Prodes considera os doze meses entre agosto e julho, os dados da UMD referem-se ao ano civil, ou seja, de janeiro a dezembro de 2024.

Por fim, o Mapbiomas combina dados de desmatamento de sistemas independentes de monitoramento, como o SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento) do Instituto Amazonas para a Humanidade e o Meio Ambiente (Imazon), com dados de sistemas do INPE, como o Prodes, e se concentra exclusivamente no corte raso e na remoção completa da vegetação natural. O Mapbiomas não inclui perdas devido a incêndios florestais ou exploração madeireira seletiva em suas estatísticas de desmatamento, razão pela qual os números são significativamente menores. “Como o Mapbiomas não contabiliza a crescente perda florestal devido a incêndios no Brasil, uma proporção crescente da mudança florestal geral não é adequadamente representada”, resume a plataforma online do WRI, Global Forest Watch (GFW).

Os danos florestais são maiores

Para avaliar se a proteção florestal na região amazônica está de fato melhorando ou piorando, precisamos de dados sobre degradação florestal, além de estatísticas de desmatamento. Florestas danificadas, por exemplo, devido à exploração madeireira seletiva e estradas florestais, têm uma cobertura vegetal mais rala, são mais suscetíveis à seca e pegam fogo com mais facilidade. Por outro lado, iniciar incêndios em florestas tropicais intactas e úmidas não é uma tarefa fácil.

De acordo com o instituto de pesquisa Imazon em Belém do Pará, houve um aumento explosivo na degradação florestal na região amazônica em 2024. Segundo o relatório, 3,64 milhões de hectares de floresta tropical foram degradados, cerca de seis vezes mais do que em 2023. De acordo com o Imazon, os danos florestais registrados no ano passado pelo sistema de monitoramento do SAD foram os maiores desde que o instituto começou a monitorar florestas em 2009, superando em muito o recorde anterior estabelecido em 2017, quando 1,15 milhão de hectares de floresta amazônica foram degradados.

Segundo o Imazon, o aumento da degradação florestal na região amazônica está diretamente ligado ao aumento dos incêndios florestais no ano passado. A seca e a exploração madeireira também contribuíram para esse processo de degradação.


Fonte: JungeWelt

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