Ciro Gomes sucumbiu ao encanto das mesas finas da Firjan, mas quem se surpreende?

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O candidato Ciro Gomes falando para a plateia de “gente preparada” na Firjan no dia de ontem (31/08)

Reunido em um ambiente de mesas finas fornecido Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) para que ele pudesse detalhar o seu plano econômico no dia de ontem, o candidato presidencial Ciro Gomes parece ter sido tomado pelo encanto dos presentes. É que após realizar sua apresentação, Ciro afirmou que o evento era um “comício para gente preparada” e que seria difícil abordar o tema em uma periferia.

A fala teria sido feita após Ciro  Gomes ser elogiado e ter a apresentação comparada com uma aula pelo empresário Luiz Césio Caetano.  A esse chamego, o candidato do Partido Democrático Trabalhista (PDT) teria dito rindo que “Na verdade, é um comício, né? Um comício para gente preparada. Você imagina eu explicar isso na favela, isso é um serviço pesado”.

Eu cá como meus botões, que nunca me iludi com o nacionalismo de verniz ralo de Ciro Gomes, fico pensando como ele agora irá (será que vai?) poder explicar o seu complexo programa que só é compreensível para “gente preparada”  como vai acabar com a miséria galopante contra a qual a Firjan nunca se insurgiu.

Finalmente, eu fico pensando sobre os critérios usados para definir o que vem a ser “gente preparada”. Afinal de contas, o parque industrial do Rio de Janeiro agoniza há várias décadas e não vejo nada de muito preparado saindo da Firjan para reverter a situação. Já do interior das favelas eu vejo saindo respostas inovadoras e criativas ao processo de desmonte das políticas sociais e do desmanche do sistema público.

Depois dessa, apesar do crescimento momentâneo dos seus indíces na pesquisa, é provável que Ciro Gomes já esteja comprando as passagens para Paris. A ver!

Sobre patos e a fábula do cartão de crédito

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Por  Bruno Leonardo Barth Sobral 

Fui dar uma olhada na apresentação da FIRJAN que ganhou um destaque hoje apesar de falar mais do mesmo [Aqui!]. O que achei curioso foi um slide colocar em letras garrafais “derrubando mitos” e afirmar: Previdência: não tem déficit; Faltam funcionários públicos no estado do Riode Janeiro; Crise Fiscal no Rio de Janeiro é resultado da queda de receita. Esses são os mitos para ela na discussão da crise sobre o Rio.

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Evidentemente, o objetivo da peça publicitária disfarçada de estudo é apoiar a reforma nacional da previdência. Para isso, nos slides seguintes vai se falando de sua visão de previdência nacional, o que não tem nada haver com as especificidades do regime previdenciário do RJ. Confundir as duas questões é um bom exercício de ilusionismo. Nem as descapitalizações forçadas feitas são mencionadas, mesmo quando o governo estadual está com intenção de fazer mais uma (nova antecipação de royalties).

Depois disso, o slide seguinte apresenta a “conta”: o custo da previdência… mas para apenas um ano (!), 2016. Para quê cálculo atuarial avaliando trajetória de reequilíbrio ou discutir as mudanças já introduzidas em anos anteriores (segmentação de massas, introdução de previdência complementar etc.)? Se podemos pegar um ano horrível para facilitar o convencimento já basta.

Em seguida, vem a evolução de despesa com pessoal em proporção da receita corrente líquida. Como um indicador, sozinho ele não diz nada. Mas olhando você é induzido a achar que há uma explosão de despesa com pessoal. Mas, se avaliar a trajetória em separado, logo sem o artifício do indicador, iria se ter conclusões diferentes. Por exemplo, em termos reais, as receitas primárias e despesas primárias caem, mas as receitas caem mais que as despesas. Ou seja, não há como esse indicador despesa sobre receita melhorar se a queda de receitas não for estacada de forma significativa. Ocultam isso.

Nos slides seguintes apontam o caos para dar aquele tom de alarmismo de praxe. Para isso, apontam enorme volume de restos a pagar e que o acordo com governo federal não resolve. E aí chegamos num slide alegórico que ponho anexo: compara evolução da receita total e receita descontado empréstimos e transferências. Sua intenção é defender que o governo tem que sobreviver com arrecadação própria basicamente como uma “família”, e usa a metáfora do viver sem cartão de crédito.

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Esse ponto é curioso, pois sugere algo que eu concordo mas que não é o enfatizado, a arrecadação própria é estruturalmente ruim. No gráfico a evolução é modesta. Mas quem disse que a FIRJAN quer discutir isso, cola do lado um indicador de despesa com pessoal sobre receita corrente liquida e defende cortar em despesas.

Esse ponto é mesmo curioso pelo que a FIRJAN não explora, porque a arrecadação própria é baixa? Em particular, por problemas de estrutura tributária e desempenho econômico como reflexo de uma debilidade produtiva. Se chegasse nesse ponto, a FIRJAN se preocuparia em porque há essa debilidade produtiva e suas razões. Mas não, ela como federação de indústria não curte discutir industrialização, e se preocupa em como o governo estadual tem que se ajustar nesse cenário que dificulta o orçamento público.

Disso se extrai uma evidência: sua consultoria gratuita não precisa ter responsabilidade de dizer aonde vai cortar significativamente para estancar tal fraqueza de receitas. Sendo mais enfático, sua consultoria gratuita não tem mandato nem precisa responder as demandas da população sacrificadas.

No geral, os dados apresentados só requentam indicadores da lei de responsabilidade fiscal. Não permitem enxergar que a maquina pública, ao invés de inchada, está desestrutura e sob risco de se desestruturar mais. Mas isso não importa para FIRJAN, ela só não quer pagar o pato. Aliás, pato em boa parte produto de as decisões empresariais reiterarem uma estrutura produtiva oca e não priorizar articular seus pares para disputas federativas sobre questões tributárias.

Entre defender os interesses do Rio de Janeiro e abraçar uma ideologia antiestado, escolhem o segundo. Seu interesse principal é só usar o Rio de Janeiro como contraexemplo.

*Bruno Leonardo Barth Sobral  é economista e professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ, tendo doutorado pelo Instituto de Economia da Unicamp.

FONTE: https://www.facebook.com/professorbrunoleonardo/posts/518178481895110

Beneficiados ameaçam com demissões se farra fiscal for suspensa

A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) tem ventilado o número de 100.000 novos empregos que teriam sido gerados pela farra fiscal promovida a partir do primeiro mandato do ex (des) governador e atual hóspede do complexo prisional de Bangu, Sérgio Cabral (Aqui!).

Não é que agora 199 empresas beneficiadas pela farra fiscal estão ameaçando com 45.122 demissões caso as “generosidades” fiscais sejam suspensas! 

Então, para que todos possamos entender melhor qual foi o benefício real dos quase R$ 200 bilhões de recursos públicos colocados nessas empresas que agora ameaçam demitir quase a metade dos postos de trabalho que todo esse investimento supostamente geraram.

Mas não deixe de ser interessante notar que essa ameaça de demissão em massa acontece mesmo antes que seja instalada a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para apurar o que de fato ocorreu na farra fiscal promovida por Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão. Imagine-se o tipo de pressão que ocorrerá caso essa CPI seja realmente instalada!

Para maiores informações sobre a posição das empresas beneficiadas pela farra fiscal, basta clicar  (Aqui!).

Firjan consegue mandado de segurança contra lei dos 10% sobre isenções fiscais

17.06.2015 - Rio de Janeiro - RJ -  Governador Luiz Fernando Pezão participa de almoço na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN), para receber o Fórum Econômico Brasil- França, no centro do Rio de Janeiro.
Foto: Carlos Magno/ GERJ

Governador Luiz Fernando Pezão participa de almoço na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN), para receber o Fórum Econômico Brasil- França, no centro do Rio de Janeiro. Foto: Carlos Magno/ GERJ

Em seus esforços para continuar a farra fiscal comandada por Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) obteve um mandado de segurança contra a lei que criou o Fundo Estadual de Equilíbrio Fiscal (FEEF) (Aqui!).

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Agora vamos por partes. A Firjan afirma em sua nota que o juiz que aceitou o mandado interposto por ela sob a alegação de inconstitucionalidade do dispositivo em função de designar o uso dos recursos para um fundo específico. E qual seria o uso destes 10%? Auxiliar na catastrófica situação fiscal em que o Rio de Janeiro se encontra, o que aparentemente pouco sensibiliza a direção da Firjan.  Mas de novo, quem se surpreende?

Além de conseguir liminarmente que a farra fiscal continue intacta, com os prejuízos já conhecidos, a Firjan está em plena campanha publicitária para justificar a continuidade dessa espécie de derrama reversa, onde os escassos recursos públicos são doados a todo tipo de empreendimento, incluindo termas, cabeleireiros e joalherias flagradas vendendo jóias caríssimas ao ex (des) governador Sérgio Cabral sem a devida emissão de nota fiscal!

Algo que me parece positivo nessa vitória circunstancial, e provavelmente temporária, da Firjan é o fato de nos permitir um exame mais apurado das alegações que essa organização patronal está empregando para justificar a farra fiscal, a começar pela geração de supostos “quase 100 mil novos empregos e mais que dobrando a arrecadação de ICMS nas regiões beneficiadas”  (Aqui!). Como a partir de fevereiro de 2017 está previsto o início do funcionamento de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para tratar dessas isenções fiscais bilionários, o exame desses números da Firjan poderia ser um excelente ponto de partida para o início dos trabalhos dessa comissão.

Aliás, essa CPI deverá ser uma boa oportunidade para que se discuta as isenções fiscais pelo que elas são, ou seja, transferências biolionárias de recursos públicos para empresas corporações privadas, no que consiste numa espécie de “Bolsa Família para Bilionários”. Enquanto isso, escolas, universidades e hospitais públicos são destruídos de forma impiedosa. Quanto a isso, a Firjan é compreensivelmente muda e surda.

 

Firjan coloca a cara para fora e defende farra fiscal do (des) governo do RJ

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Como um bom parceiro que é, o (des) governador Pezão esteve nesta sexta-feira (28/10) na sede da Firjan para prometer que vai recorrer contra a decisão da 3a. Vara de Fazenda Pública do Rio de Janeiro que impede a concessão de novas generosidades fiscais.

A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) é, em minha opinião, uma das parteiras da política de farra fiscal levada a cabo pelo (des) governo comandado pelo PMDB. Além disso, em vários momentos, a Firjan realizou seus seminários pró-mercado dentro da própria Assembleia Legislativa, o que mostra que os laços dessa federação vão além do executivo.

Agora que a farra fiscal que levou o Rio de Janeiro à bancarrota está sendo exposta, principalmente a partir da decisão do juiz  Marcelo Martins Evaristo da Silva, da 3ª Vara da Fazenda Pública do Rio, que acolheu pedido do Ministério Público estadual em ação civil pública movida contra o (des) governo do Rio de Janeiro (Aqui!), a Firjan está tendo que se sair do conforto em que se encontrava para defender a manutenção da farra fiscal. A maior expressão disso é a nota pública que a Firjan fez circular para vender os supostos beneficios da farra fiscal que já custou algo que deve beirar R$ 200 bilhões (ver reprodução abaixo).

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Posso adiantar que achei interessante a tentativa feita pela Firjan de separar os prejuízos da farra fiscal em dois momentos: renúncia e postergação. Essa separação é importante para o argumento da Firjan, pois o prejuízo deixa de ser algo em torno de R$ 150 bilhões (valor que englobaria os dois momentos) para meros (meros?) R$ 33 bilhões que seria o valor relativo apenas à renúncia.

Como já li vários decretos promulgados pelo executivo estadual para justificar as benesses fiscais concedidas, sinceramente não tenho como aceitar que a postergação de até 5 décadas no recolhimento do Imposto sobre Circulação de Serviços e Mercadorias (ICMS) não possa ser tratada como renúncia. É que apenas em um caso, o do Consórcio Pipe Rack, a concessão da generosidade fiscal beneficiou uma empresa que já nem existe mais (Aqui!). Agora, como é que se vai, se é que se pretende, recuperar o valor “postergado”? Mas como o caso do Consórcio Pipe Rack não tem como ser o único, vê-se logo a matemática da postergação vai acabar tendo que cair na rubrica das renúncias, e elas prometem ser onerosas para os cofres públicos.

Outro detalhe que eu considero curioso (para não dizer outra coisa) é o anúncio que essa política de benesses fiscais logrou instalar 231 indústrias e criar quase (adorei o quase) 100 mil empregos no interior fluminense.  Faltou a Firjan apenas dizer que tipo de “indústrias” foram criadas e onde. E por que digo isso? É que os procuradores do Ministério Público Estadual que moveram a ação pública acatada pelo juiz Marcelo Martins Evaristo da Silva, da 3ª Vara da Fazenda Pública do Rio identificaram um completo descontrole nos processos relativos à concessão de renúncias e postergações. Pelo jeito, para que se saiba ao certo os sujeitos que receberam os benefícios da farra fiscal, bastaria perguntar à Firjan que parece estar mais informada do que as secretarias responsáveis pelas concessões das benesses fiscais. Melhor ainda seria se a Firjan entregasse esses dados voluntariamente para o MPRJ!

Mas o mais legal de tudo isso é que agora temos a Firjan fora da penumbra, e certamente será interessante ver como toda a repercussão que já ocorreu em relação a essa primeira decisão proibindo a concessão de novas generosidades fiscais vai acabar acarretando em outras decisões semelhantes envolvendo os múltiplos casos de concessões de benesses fiscais que não tem nem eira, nem beira. A ver!

 

Jogando luz sobre um dos mitos do Porto do Açu, o da gestão sustentável dos ecossistemas de entorno

Desde o início da implantação do Porto do Açu, tenho lido e ouvido declarações sobre o compromisso ambiental das corporações responsáveis pela implantação do empreendimento. Primeiro foi o Grupo EBX que alardeou um programa para lá de ambicioso de recuperação florestal dentro da Reserva Particular de Proteção da Natureza (RPPN) da Fazenda Caruara. Depois, a herdeira do colapso de Eike Batista, a Prumo Logística continuou a propalar a mesma cantilena de responsabilidade ambiental (Aqui!). 

A propaganda em torno da RPPN Fazenda Caruara foi tão boa que em 2013, a Federação de Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) concedeu à LL(X), o prêmio Firjan de Ação Ambiental na categoria Biodiversidade pelos seus supostos esforços de recuperação ambiental na propriedade.

Aliás, basta ver a imagem abaixo, tirada da página oficial da Prumo Logística para ver como o suposto compromisso em enriquecer a flora da RPPN Fazenda Caruara aparece em dois itens da pauta de ações ambientais com grande importância.

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Pois bem, essa versão de responsabilidade ambiental dentro do Porto do Açu e do seu entorno não vão passar de fantasia rasgada caso a Prumo Logística não apareça com uma boa explicação para as imagens que seguem abaixo, e que me foram enviadas por um leitor deste blog que é nascido e criado em São João da Barra, e que viveu correndo pelas terras da Fazenda Caruara. Segundo me disse esse leitor em mensagem enviada ao endereço deste blog, o programa de recuperação ambiental da RPPN da Fazenda Caruara é apenas um mito corporativo, já que a maioria das mudas plantadas em boa parte da propriedade morreram por falta de cuidado e por erros crassos na escolha das espécies a ser utilizadas.  Nas palavras do leitor/colaborador do blog, boa parte da área alvo do plantio de mudas hoje se parece com ” catacumbas de bambu”.

Mas vamos às imagens que me foram enviadas para que vejamos o aparente contraponto entre o discurso corporativo e a realidade no chão da RPPN da Fazenda Caruara.

caruara1Estacas de bambu desacompanhadas das mudas que sustentava mostram alta taxa de mortalidade afetando os esforços de regeneração da RPPN Fazenda Caruara.

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Aparente amontado de vegetação de restinga que teria sido removida de alguma área no interior da RPPN Fazenda Caruara.

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Detalhe de um setor da imagem mostrada acima.

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Número ainda maior de estacas de bambu desacompanhadas das mudas que deveriam estar protegendo, o que indica perda total no esforço de recuperação vegetal na RPPN Fazenda Caruara.

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Muda morta, provavelmente em função da falta de irrigação durante o período de seca da RPPN Fazenda Caruara.

Como acompanhei de perto um esforço de recuperação florestal na Amazônia brasileira por quase duas décadas, sei que essa não é uma atividade fácil e que necessita do tipo de envolvimento social alardeado pela Prumo Logístico Global em sua propaganda corporativa.  Agora, o que está sendo mostrado é que no caso da suposta regeneração da RPPN Fazenda Caruara, estamos diante de um esforço insuficiente para garantir que se tenha efetivamente sucesso para o enriquecimento florestal da área.

Enquanto isso, a remoção da floresta de restinga que ocorreu na área do empreendimento foi bastante real e com efeitos duradouros para a sustentabilidade ambiental dos ricos ecossistemas que ali existem. E mais uma vez eu me pergunto: por onde andam os órgãos ambientais e o Ministério Público que deveriam estar cuidando da aplicação das leis ambientais e dos planos de contingência que deram base à emissão das licenças ambientais para a implantação do Porto do Açu? A ver!