Pensou que o TsuLama da Samarco parou? Pois, pense de novo!

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A análise abaixo produzida por Alexandre G. Valente representa uma lembrança incômoda do fato de que os rejeitos da Mineradora Samarco (Vale + BHP Billiton) continuam escapando da estrutura de barragens que foram abaladas pela erupção do TsuLama em Mariana no dia 05 de Novembro de 2015.

Além da atualização do montante que teria escapado das barragens para o Rio Doce e seus afluentes, esta análise é importante porque coloca em xeque toda tentativa de minimizar o incidente causado pela Samarco.  Esses números tornam imprestáveis quaisquer anúncios intempestivos e pouco científicos de que haverá uma pronta “ressurreição” do Doce e de todos os ecossistemas que foram e seguem sendo impactados pelo TsuLama.

Como bem me lembrou um colega que é biólogo e que esteve na foz do Rio Doce há pouco tempo, o maior problema é que depois do impacto agudo pelo qual a região afetada está sofrendo, teremos um longo período de impacto crônico que será menos visível, mas não menos impactante. 

Felizmente, apesar do TsuLama estar sendo rapidamente esquecido pela mídia corporativa, temos centenas de pessoas atuando em rede para gerar informações que poderão compor uma visão mais real do que realmente está ocorrendo no Rio Doce e no litoral capixaba.

O VAZAMENTO DE REJEITOS DA SAMARCO NÃO CESSOU EM 3 MÊSES E JÁ ACUMULA 6 MILHÕES DE TONELADAS

Por Alexandre G. Valente

De acordo com o relatório preliminar do IBAMA em sua página 3 de 38, “a barragem continha 50 milhões de m³ rejeitos de mineração de ferro.

Trata-se de resíduo classificado como não perigoso e não inerte para ferro e manganês conforme NBR 10.004. Trinta e quatro milhões de m³ desses rejeitos foram lançados no meio ambiente, e 16 milhões restantes continuam sendo carreados, aos poucos, para jusante e em direção ao mar” e corrigindo os dados para toneladas temos que das 100 milhões de toneladas:

78 milhões de toneladas vazaram para o Rio Doce (410 Kg para cada brasileiro);

32 milhões de toneladas estão armazenados entre o Fundão e a montante do vertedouro da barragem de Santarém.

Passados três meses do desastre, a barragem de Santarém libera por seu vertedouro, quantidades diárias de rejeitos que aqui usamos dados de relatórios diverso para poder quantificar. A Samarco em seu relatório de sustentabilidade de 2014 afirma que vertiam 722 m3/ hora pelo vertedouro de Santarém e nestes mínimos temos que considerar o período de inverno, onde as chuvas também são mínimas.

Integramos então os dados de vazão mínima do Córrego Santarém com a vazão de 100m3/seg da Usina Hidroelétrica de Candonga estimarmos os números atualizados para o período chuvoso a partir de Novembro de 2015. A UHE de Candonga é a primeira usina do Rio Doce com sua vazão reportada pela ANA e seu reservatório abriga toda área de drenagem da região de Mariana e sua vazão espelha o regime de chuvas com elevada precisão.

O CPRM – Serviço Geológico do Brasil acompanhou o desenrolar do acidente principal e apontou que as águas continham rejeitos suspensos na ordem de 400 g por litro, rejeito esse que o mesmo relatório afirma ter densidade de 2 kg/litro e calculando a densidade desta mistura obtemos a densidade de 1,4 kg / litro.

No dia 27 de Janeiro de 2016 houve um novo vazamento de rejeitos da ordem de 2 milhões de toneladas e que a Samarco afirmou ter permanecido no interior da barragem de Santarém, porém esta barragem perdeu qualquer capacidade de armazenamento, já que seu volume foi totalmente ocupado pela lama. Quatro dias mais tarde, notou-se um brutal aumento da pluma de óxido de ferro no mar e o mesmo CPRM notificou o aumento da turbidez do Rio Doce. O material definitivamente vazou para o Rio Doce e contabilizamos ele em Janeiro.

Utilizando uma planilha de cálculos e com a nova densidade da lama que verte da barragem de Santarém, acrescidos e decrescidos pelo regime de chuvas, encontramos que até meados de Fevereiro de 2016, vazaram pelo Rio Doce mais 6 milhões de toneladas de rejeitos que as autoridades ainda não contabilizaram e a mineradora está longe de conter.

Permanecem retidos mais de 26 milhões de toneladas no complexo Fundão e Santarém e temos mais outros 300 milhões de toneladas represados na barragem de Germano.

O novo vazamento do dia 27 de janeiro foi filmado por 12 minutos e mostrou como a vibração do solo gerada por um desmoronamento inicial é capaz de produzir ondas vibratórias que liquefazem demais pontos, mesmo distantes. Este fenômeno foi o que ocorreu no dia 5 de Novembro, onde uma pequena ruptura e suas ondas de choque causaram a liquefação do rejeito a sua volta evoluindo para uma avalanche agravada pela construção de uma estrutura sobre as nascentes de rios e em terreno tão íngreme quando a rodovia Anchieta em seu trecho de serra (5% de declive). O abalo sísmico de 5 de Novembro foram gerados pela imensa movimentação das massas em avalanche.

O que mais chama a atenção é que um documento de licenciamento da barragem, emitido pelo Governo Estadual de Minas Gerais, em sua página 15 de 23, pedia que no Córrego Santarém a Samarco monitorasse mensalmente o Ferro total, Alumínio Total, Manganês, Sólidos totais no efluente a jusante do vertedouro. Estes importantes parâmetros estão sendo omitidos de todas as análises apresentadas das águas do Rio Doce feitas em recente relatório do IGAM ou qualquer relatório do CPRM. De uma hora para outra limitam-se a medir apenas os teores dissolvidos (filtrados em filtro de 0,45 mícrons) e o que foi importante para a qualidade das águas agora é literalmente ignorado.

Novamente, enquanto as autoridades dormem, tomo a frente em mostrar que o acidente está longe de terminar e que a capacitação técnica da Samarco para contê-lo é duvidosa.

Eng. Alexandre G. Valente

Fontes:
Laudo Técnico Preliminar do Acidente – IBAMA – Novembro/2015
http://www.ibama.gov.br/…/noti…/laudo_tecnico_preliminar.pdf

MONITORAMENTO ESPECIAL DA BACIA DO RIO DOCE – RELATÓRIO I – Dezembro/2015
http://www.cprm.gov.br/…/RT_01_2015_MONIT_ESP_BACIA_RIO_DOC…

Relatório I CPRM – página 24 – Na estação de Cachoeira dos Óculos a concentração de rejeitos em suspensão medido foi de 400 g / litro.
Relatório I CPRM – página 28 – A densidade do rejeito é da ordem de 2 Kg/Litro

RELATÓRIO ANUAL DE SUSTENTABILIDADE – 2014 – SAMARCO – página 68 a mineradora informa vazão mínima garantida de 722 m3/hora vertida da barragem de Santarém – Vertedouro passou a ser a nascente do Córrego de Santarém já que as barragens foram construídas sobre as nascentes naturais e o córrego passou a ser 100% efluente industrial.

http://www.samarco.com/…/Relatorio-Anual-de-Sustentabilidad…

Licenciamento da Barragem do Fundão pede monitoramento mensal do teor de metais totais e sólidos totais no Córrego de Santarém – página 15 de 23 pede: Alumínio total, Manganês solúvel, Manganês total, Ferro Solúvel, Ferro Total, Amônia, Sólidos totais, Sólidos Dissolvidos totais, Sólidos Suspensos Totais etc.

http://giaia.eco.br/…/PARECER-UNICO-N%C2%BA-262-2013.-PROTO…

Cálculos:
Densidade aproximada da lama que verte na Barragem de Santarém é de 60% água (1 Kg/litro) e 40% do rejeito (2 kg/litro) é de 1,4 kg/litro.

Vazão de água mínima garantida do Vertedouro Santarém de 722 m3/hora resulta em 17.328 m3/dia e foram acrescidos proporcionalmente as vazões efluentes da UHE de Candonga cuja área de drenagem respeita os regimes pluviométricos da região das barragens. Adotado também foi a vazão efluente mínima histórica de Candonga como 100 m3/seg.

Na base de dados os 17.328 m3 agora representam 24.26 mil toneladas de lama/dia em regimes mínimos vertidos.

samarco vazamento

FONTE: https://www.facebook.com/portalconfluencias/posts/451693701688779

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