As chuvas torrenciais que estão causando inundações e quedas de barreiras na cidade de São Paulo e em toda a sua região metropolitana não surpreendem quem acompanha a evolução das mudanças climáticas e dos chamados eventos atmosféricos extremos que são parte do padrão que as acompanha (ver gráfico abaixo por Marengo e colaboradores, 2013 que mostra a variação das chuvas extremas em São Paulo entre 1930 e 2010).
Entretanto, no plano dos governos, esse padrão que combina grandes volumes de precipitação em pequenos períodos de tempo tem sido literalmente ignorado, como mostram os dados do desinvestimento promovido por Bruno Covas e João Dória, ambos do PSDB, como mostra reportagem da Rede Brasil Atual, onde se gastou um terço da verba de combate a enchentes em 2017 e 2018. Esta política de imprevidência frente às mudanças climáticas causou, entre outras coisas, a paralisação das obras de piscinões. O resultado dessa postura negacionista estão sendo vistos por toda a cidade de São Paulo, que acumula 601 pontos de inundação.
Pior ainda tem sido a postura do ainda ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que vem trabalhando de forma decisiva para tornar o Brasil ainda mais despreparado para reagir aos crescentes desafios trazidos pelos novos padrões de precipitação associados às mudanças climáticas. É de Ricardo Salles, a frase pérola de que “a discussão de mudança climática deve ser feita pela academia. Temos questões mais prementes a resolver“.
O problema agora é que não apenas o número de mortos e desabrigados em São Paulo vem aumentando ao minuto, mas como ainda estão previstas chuvas fortes para as próximas 48 horas, o que poderá aumentar ainda mais o rastro de destruição em face da rápida elevação das águas nas áreas já afetadas (ver abaixo vídeo com imagens estarrecedoras com a chegada das águas da chuva em uma residência).
A única forma de não ficarmos assistindo repetidas catástrofes causadas pela combinação de padrões extremos de precipitação e governantes ineptos será uma ampla mobilização social que force o desenvolvimento de novas formas de gestão urbana no Brasil. Ainda que a conjuntura política atual pareça adversa, a comunidade científica e a sociedade civil organizada terão de cumprir um claro papel de organizar as demandas sociais para que o atual modelo calcado num modelo de forte segregação sócio-espacial que isola pobres e ricos dentro de nossas cidades seja superado o quanto antes. Do contrário, continuaremos contabilizando prejuízos e, pior, contando o número de mortos.
E que ninguém se deixe enganar por Ricardo Salles, não há questão mais premente na atualidade do que as mudanças climáticas. E nos preparar para isso será fundamental, a despeito dos Covas, Dòrias e Salles que lamentavelmente estão em postos chaves do Estado brasileiro.