Medo de boicote à produção agrícola brasileira força ruralistas a pedirem controle do desmatamento “ilegal” a Ricardo Salles

amazon deforestationMedo de boicote faz bancada ruralista pressionar Ricardo Salles por controle do “desmatamento ilegal” na Amazônia.

O ClimaInfo traz hoje a informação de que membros da chamada Frente Parlamentar da Agropecuário (FPA) (leia-se os representantes do latifúndio agro-exportador) se encontraram ontem (25/06) com o ainda ministro (ou seria antiministro?) do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para pedir medidas para o combate ao chamado “desmatamento ilegal” nas florestas brasileiras.

clima info desmate ilegalRuralistas se encontram com Ricardo Salles para pedir controle do “desmatamento ilegal” na Amazônia. Medo de boicote é a razão mais provável para o gesto.

Há quem possa ver nessa visita da FPA a Ricardo Salles apenas uma manobra diversionista para enganar observadores internacionais menos atentos (ou quiçá os negociadores da União Europeia que estão negociando o acordo comercial com o Mercosul).

Mas eu tendo a concordar com os editores do ClimaInfo que apontam para um possível medo da bancada ruralista em relação às pressões pela realizações de boicotes à compra da produção agrícola brasileira seguindo os exemplos de Johannes Cullberg, da rede de supermercados sueca Paradiset) que já baniu produtos brasileiros da maior cadeia de venda de produtos orgânicos da Escandinávia e de Sônia Guajajara, importante liderança indígena e candidata a vice-presidente pelo PSOL nas eleições presidenciais de 2018, que recentemente defendeu em Bonn, Alemanha, o boicote à produtos agrícolas vindos de áreas de conflitos sociais no Brasil.

Johannes Cullberg e Sônia Guajajara são duas das faces mais visíveis de um crescente movimento de boicote à produção agrícola brasileira que está ocorrendo principalmente na Europa e ameaça se alastrar no resto do mundo.

O problema é que a não ser que o governo Bolsonaro faça um giro de 180 graus no processo de destruição da governança ambiental que vem sendo executado de forma diligente por Ricardo Salles, há a possibilidade concreta de que haja uma unificação dos diferentes movimentos de boicote aos produtos brasileiros.  É que, ao contrário do que alardeiam os membros da FPA, a situação brasileira está sendo acompanhado de perto por pesquisadores, lideranças políticas e ativistas sociais estrangeiros que, por isso mesmo, são praticamente imunes a qualquer jogo de cena que venha a ser feito apenas com finalidade de distração (vide a carta dos 602 pesquisadores e o manifesto das mais de 340 organizações sociais que pedirem que a EU condicione suas negociações com o Mercosul à contenção do desmatamento na Amazônia).

A verdade é que sem a combinação de uma intensa pressão externa e a ação política interna, o Brasil e suas florestas serão devastados por defensores de uma forma arcaica de avançar a fronteira agrícola.  Os números do desmatamento que está ocorrendo na Amazônia são a prova irrefutável de que sem o devido processo de pressão política e econômica, o ritmo da devastação será incontrolável.

Resta saber agora se Ricardo Salles terá disposição ou capacidade de reverter o seu curso atual que é o de um cético das mudanças climáticas globais que está literalmente deixando a motosserra cantar na Amazônia brasileira.

 

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