Com mais 36 liberações, o governo Bolsonaro liberou o número recorde de 503 agrotóxicos em 2019
O governo Bolsonaro resolveu celebrar o ano mais tóxico da história da agricultura brasileira com a promulgação no dia de hoje (27/12) do Ato No. 91 através do qual foram liberados mais 36 agrotóxicos para comercialização no território nacional, alcançando o “grand total” de 503 desde o início do ano.
Entre as substâncias aprovadas está o famigerado Fipronil, apontado como causador do extermínio de centenas de milhões de abelhas no Brasil apenas em 2019. Com a liberação de mais produtos contendo essa substância banida na União Européia, o governo Bolsonaro liberou sete agrotóxicos à base de Fipronil ao longo de seu primeiro ano de existência. Outro produto proibido na União Europeia, o herbicida Sulfentrazona, teve mais três liberações, chegando a um total de oito produtos liberados desde janeiro.
Com a liberação de sete produtos contendo o Fipronil aumenta o risco de extermínio das abelhas
Outro aspecto marcante dessa nova rodada de liberações é a persistência da indústria chinesa no fornecimento de agrotóxicos que estão sendo colocados no mercado nacional. Como ocorreu em outros atos de liberação, a indústria chinesa detém mais de 70% dos produtos que agora estarão livres para comercialização no Brasil.
Um fato que fica evidente nessa nova rodada de venenos liberados é que todo o discurso de que a verdadeira tsunami de agrotóxicos liberados seria para introduzir produtos menos tóxicos e mais modernos na agricultura brasileira não passa de uma falácia destinada a dar um revestimento de modernidade a produtos que já foram banidos em outras partes do mundo.
Como em outros casos de regressão na proteção ambiental e da saúde humana, o recorde estabelecido em 2019 não deverá representar um freio para que ainda mais agrotóxicos em 2020. Isso decorre de uma captura óbvia dos órgãos reguladores por parte do latifúndio agro-exportador e das corporações multinacionais que produzem venenos agrícolas. A consequência disso deverá ser um grau ainda maior de envenenamento dos brasileiros de forma direta (pelo contato ocupacional dos trabalhadores) ou indireta (por meio da ingestão de alimentos e águas contaminados por agrotóxicos).
A rede sueca Paradiset impôs um boicote a produtos brasileiros não orgânicos. A volúpia de aprovações de agrotóxicos, muitos banidos na União Europeia, deverá ampliar a rejeição aos produtos brasileiros
Agora, como já escrevi várias vezes ao longo do ano, que ninguém se surpreenda se o boicote iniciado na Suécia pelo CEO da rede de mercearias orgânicas Paradiset, Johannes Cullberg, se espalhar para outras partes do mundo. É que está ficando cada vez mais claro que a falta de limites que foi estabelecida no Brasil não terá nenhuma tolerância em outras partes do mundo.